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03/11/2016

Opinião – Da escassez de profissionais à falta de empregos

Há menos de três anos, travou-se uma ampla discussão sobre a falta de engenheiros no mercado de trabalho brasileiro, com a apresentação de números alarmantes, principalmente em áreas mais especializadas. Essa discussão se originou devido à franca expansão da atividade econômica e das grandes obras, especialmente das empresas de engenharia da construção civil, o que fez o mercado de trabalho crescer quase 85%.

As companhias estrangeiras passaram a exercer uma forte pressão, pois queriam trazer para suas atividades no Brasil sua grande massa de profissionais excedentes nos seus países-sede. A concorrência foi duramente combatida pela FNE e seus sindicatos filiados, que mostraram de forma clara que havia, sim, engenheiros e especialistas em número suficiente em todas as áreas no Brasil. Também atendendo à demanda, as faculdades lançaram cada vez mais cursos nas mais diversas modalidades da engenharia.

Agora a realidade que se apresenta é outra e muito cruel: faltam vagas de empregos formais e oportunidades de trabalho em geral na engenharia. A situação tem origem na crise econômica que o mundo e o Brasil vêm atravessando e em alguns fatos que contribuem para o cenário de dificuldades no setor. Entre eles, está o envolvimento das grandes empreiteiras na operação Lava Jato, que as levou ao colapso, com a paralisação de obras no Brasil e no exterior, acarretando o fechamento de centenas de milhares de postos. Somente a Petrobras reduziu em mais de R$ 100 bilhões seu programa de investimentos, o que se refletiu de forma desastrosa no mercado de trabalho.

Continuam a entrar no mercado centenas de jovens profissionais que não mais são absorvidos. A partir de 2014, o número de demissões passou em muito as contratações, e a tendência é a piora gradativa do cenário de emprego e trabalho. Somado a tudo isso, a PEC 241, aprovada na Câmara e agora tramitando no Senado como PEC 55/2016, impõe o congelamento dos concursos e reposição de mão de obra por um período de 20 anos, e isso será outro fator de preocupação para a engenharia. A política de juros altos adotada pelo Banco Central e a falta de oferta de crédito também são componentes que impedem o setor da construção de avançar e crescer.

Este artigo tem como objetivo chamar os profissionais da engenharia para sair do estado de letargia e reagir com firmeza, disposição e até o enfrentamento no sentido de propormos soluções de crescimento. Precisamos começar a discutir o futuro que desejamos, como crescer e melhorar a vida do trabalhador. A FNE e seus sindicatos filiados, comprometidos com a responsabilidade coletiva dos profissionais a partir do movimento “Engenharia Unida”, podem ser uma via para fomentar essas discussões com transparência, confiança mútua e participação compartilhada. Vamos formular propostas e nos inserir na tomada de decisões e implantação de soluções, interagindo com os gestores públicos e buscando sempre a melhor saída para o retorno do crescimento e da valorização da engenharia, nunca nos esquecendo da categoria que representamos. Convido a todos a se engajarem nessa empreitada.

 

* Gerson Tertuliano é presidente do Sindicato dos Engenheiros no Estado de Goiás (Senge-GO). Artigo publicado, originalmente, no jornal Engenheiro, da FNE, Edição 174 de novembro de 2016

 

 

 

 

 

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