No quadro enlouquecedor das demissões o que sobra, depois da liquidação de milhares de empregos, são as grandes empresas, onde o facão cortou, mas não as destruiu como faz com as outras, as pequenas e médias.
Assim acontece na indústria, no comércio e nos serviços, mas não acontece na construção civil e nas grandes obras públicas.
Nestes setores o facão, ao cortar os empregos, faz desaparecer também os grandes canteiros e os grandes empreendimentos. É bomba arrasa-quarteirão.
Exatamente por conta disso os índices de desemprego saltam por degraus bem altos na construção civil, afetando poderosamente os indicadores gerais.
Se a construção civil e a construção pesada são, nas vacas gordas, umas das maiores portas de entrada para o mundo do trabalho formalizado, com investimentos públicos e privados e crédito direcionado, o inverso acontece nas vacas magras, sem obras públicas, sem investimentos privados e com escassez de crédito e de recursos estatais. O desemprego campeia, as grandes empresas baqueiam e os canteiros são fechados.
Portanto, as direções sindicais da construção civil e da construção pesada têm uma responsabilidade acrescida na luta contra o desemprego e contra as demissões nos quatros eixos da ação sindical: de resistência, produtivista, das campanhas salariais e do atendimento às dificuldades dos trabalhadores.
O movimento sindical na construção pode e deve, como contribuição maior à luta geral, organizar com enorme repercussão positiva a ocupação simbólica, um abraço ou um rolê nas grandes obras paradas, demonstrando para a sociedade a irracionalidade da situação e a necessidade urgente da retomada dessas obras, estancando o desperdício que a sua paralisação acarreta. Um mapa das grandes obras paradas, nas cidades ou no interior, pode ser um guia para organizar essas lutas de imensa visibilidade.
Estas foram uma ideia forte e uma tática de luta propostas pelas direções sindicais dos trabalhadores da construção – municipais, estaduais, nacionais e internacionais – no recente seminário de planejamento de lutas em 2017, organizado pela Feticom-SP (federação estadual dos trabalhadores em construção e mobiliário), em Mongaguá.
* João Guilherme Vargas Netto é analista político e consultor sindical