A necessidade de dar continuidade ao Programa Espacial Brasileiro, com o envio de novos satélites a médio e longo prazo, foi um dos pontos abordados durante a manhã de quarta-feira (7/6), na sede do SEESP, na capital paulista, durante a palestra promovida pela Visiona Tecnologia Espacial, joint-venture da Telecomunicações Brasileiras S.A. (Telebras) e da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer), sobre o Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), lançado recentemente na Guiana Francesa. A atividade fez parte da 58ª Reunião do Comitê Gestor do Conselho Tecnológico do sindicato.
Fotos: Beatriz Arruda/SEESP
“A demanda por internet banda larga no Brasil será sempre crescente, como no mundo todo. Daí a importância em dar continuidade ao Programa Espacial Brasileiro, lançando novos satélites”, afirmou Himilcon Carvalho, diretor de Tecnologia Espacial da Visiona, ao responder questionamentos feitos pelos integrantes do conselho presentes na reunião.
Sem dar detalhes, ele, que é engenheiro eletrônico e possui 28 anos de experiência em engenharia de sistemas espaciais, confirmou que já existe uma conversa sobre o lançamento de um segundo equipamento e que a equipe brasileira que trabalhou na França, na construção do SGDC, está capacitada para tal. Segundo Carvalho, o software encomendado pelo Brasil pela Tales Alende, empresa francesa responsável pela execução do projeto do SGDC, é capaz de rodar em outros satélites.
“Toda empresa que faz satélite fornece seu próprio software. No nosso caso, pedimos que o do SGDC fosse ‘agnóstico’ . Ou seja, que pudesse funcionar em qualquer satélite. Já que para cada um que a gente for construir temos sempre que procurar o melhor e o mais barato, não necessariamente faremos com a mesma empresa”, completou o diretor da joint-venture, que é pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Carvalho foi quem começou a explanação sobre o trabalho que vem sendo realizado pela Visiona. Antes dele, José Roberto Cardoso, coordenador do Conselho Tecnológico do SEESP, abriu o encontro lembrando que o objetivo do conselho e da iniciativa é formar uma opinião acerca dos assuntos relevantes para o País, na busca pelo desenvolvimento de novas tecnologias. “Os nossos satélites comunicação têm sido um assunto importante e, portanto, queremos ouvir os profissionais que estão envolvidos mais diretamente para que tenhamos de fato uma opinião avalizada sobre o assunto para compor uma imagem desse cenário e, evidentemente, passar a defender a tecnologia espacial brasileira, como temos feito com a tecnologia de uma maneira geral do nosso País”, disse Cardoso.
Novos projetos
Também falaram no ensejo outros profissionais da Visiona, que apresentaram o projeto do SGDC e também de outras áreas de atuação da Visiona, como a de Controle e Atitude de Órbita, que controla para onde o satélite está apontado, como uma câmera de vídeo, algo que, segundo eles, ninguém no Brasil desenvolveu até hoje, seja por falta de prioridade, seja por falta de orçamento. Outros projetos em desenvolvimento na joint-venture são o sistema de radiocomunicação Rádio Definido por Software (SDR) e a Área de Computação de Bordo para satélites, que estabelece a rotina do satélite fazendo uma gestão de bordo.
“A ideia é lançar um nanossatélite daqui a dois anos, com peso de dez a 20 quilos, ou até menos, para testar essas tecnologias. Seria um satélite tecnológico, algo barato e fácil e rápido de lançar para demonstrar no mercado que nós temos a capacidade e competência e dominamos esse ciclo. E isso vem sendo feito por outras empresas“, explicou Carvalho, lembrando que os nanossatélites são uma tendência mundial. “São muito mais baratos. Muitas vezes falham mais. Porém, está ficando tão barato que se o primeiro falhar, logo lançam outro em seu lugar. É mais barato do que lançar um que vá durar 15 anos, como o nosso”, contou.
Himilcon Carvalho, diretor da Visiona, durante reunião do Comitê Gestor do Conselho Tecnológico do SEESP.
O diretor da Visiona citou, ainda, que o SGDC tem duração de 15 anos por especificação, mas com chances reais de prolongamento por mais três anos. “Imagine daqui 18 anos como a tecnologia vai estar? Então, por um lado é bom fazer satélite como esse, em que o operador tem a segurança de que vai ganhar dinheiro com ele durante algum tempo. Mas, ao mesmo tempo, o operador fica casado com aquela tecnologia que vai se tornando obsoleta, só podendo mudá-la depois de muito tempo”, completou.
Danilo Miranda, engenheiro de Sistemas Espaciais da Visiona, teve a oportunidade de ter contato com tecnologias de ponta durante os dois anos que atuou juntamente com a equipe francesa que fabricou o satélite, mais especificamente na parte de eletrônica embarcada.
“O curioso é que uma das motivações de se fazer um projeto como esse é ter contato direto com os códigos. Mas, quando a gente fazia testes de equipamentos em bancada e tinha que recalibrar um deles no código fonte, eles (franceses) diziam que no código fonte não poderia mexer. Ou seja, como já imaginávamos, na pratica percebemos que a inteligência que vai no satélite não é uma tecnologia fácil de se adquirir. Por isso, estou coordenando aqui no País um projeto para o desenvolvimento de um software que faz essas camadas mais básica para o funcionamento do satélite, para que os outros softwares possam funcionar e conversar com o equipamento”, detalhou Miranda.
PNBL
O SGDC foi lançado no espaço em 4 de maio último, do Centro Espacial de Kourou, na Guiana Francesa, e será operado pela Telebras, tendo duas faixas de frequência. Uma delas, a chamada banda Ka, correspondente a 70% de sua capacidade e será utilizada para ampliar a oferta de banda larga no país, atendendo às necessidades do Programa Nacional de Banda Larga (PNBL), que prevê levar internet de qualidade para regiões mais carentes em infraestrutura e tecnologia, para garantir a presença do estado e dos serviços online de governo a esses municípios.
Ao final da explanação dos técnicos, os integrantes do conselho puderam fazer questionamentos e debater com mais especificidade a tecnologia que se está adotando para o setor. Muitos dos presentes lembraram sobre o objetivo de levar a conexão de qualidade para localidades que ainda não possuem ou têm de maneira precária. “A capacidade do satélite hoje é de 56 gigabits por segundo, isso para cobrir todo o território nacional. Então, chegará na Amazônia e, logicamente em regiões com mais populações que ainda têm redes precárias”, respondeu Carvalho.
No entanto, ele frisou que, se não houver investimento maciço também em fibra óptica, no cabeamento por terra, o satélite não vai solucionar o problema da qualidade em todo o território brasileiro. Ele lembroum, ainda, que não haverá fibra ótica na Amazônia, e nem em grande parte do centro-oeste pelos próximos 20 anos pelo menos, por conta do teto estabelecido para o limite de gastos do orçamento federal. O mesmo problema se dá em algumas regiões mais próximas aos grandes centros urbanos como, por exemplo, em cidades com universidades e centros de pesquisa no entorno da capital paulista.
“Certamente vai melhorar muito a internet em alguns locais, mas não acho que vá resolver o problema de universidade com 5 mil pessoas que não têm internet via fibra óptica. Ao menos que se utilize o satélite inteiro, ainda mais para estudantes que ficam conectados o dia inteiro”, concluiu.
O SGDC envolve recursos dos ministérios da Defesa (MD) e da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC).
O Engenheiro, jornal impresso da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE) publicou matéria sobre o assunto que pode ser conferida na edicação online aqui.
Em breve, serão disponibilizados os áudios da palestra no Podcast Jornal do Engenheiro clicando aqui. Ou diretamenta da plataforma SoundClound aqui.
Deborah Moreira
Comunicação SEESP