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20/08/2017

Brasil precisa de projeto de nação para voltar a crescer

Rosângela Ribeiro Gil
Comunicação SEESP

A CNTU trouxe à discussão, à 11ª Jornada Brasil Inteligente, realizada em 18 de agosto último, na sede do sindicato dos engenheiros paulistas (SEESP), na Capital, o debate sobre o Brasil rumo ao Bicentenário da Independência, em 2022, com empregos decentes e desenvolvimento sustentável. A tarefa, como salientou à abertura a presidente em exercício da entidade, Gilda Almeida, “é fundamental no momento em que o País enfrenta o desemprego crescente e a desindustrialização”. Para ela, à confederação se apresenta o desafio de participar do processo de enfrentamento de políticas errôneas “para sairmos vitoriosos”. No ensejo, reforçaram o posicionamento da CNTU os presidentes do Partido Democrático Trabalhista (PDT), Carlos Lupi; e da Caixa de Assistência dos Profissionais do Crea (Mútua), Paulo Guimarães; e o deputado federal Ronaldo Lessa (PDT-AL), que preside a Frente Parlamentar Mista da Engenharia, Infraestrutura e Desenvolvimento Nacional.

Foto: Beatriz Arruda
Ciro Gomes, na tribuna, faz uma ampla exposição sobre os problemas brasileiros que impedem o País de crescer.

Na sequência, o ex-governador do Ceará e advogado Ciro Gomes fez uma digressão abrangente sobre a situação nacional, fazendo paralelos com outros momentos políticos e econômicos do País. “Preciso transformar a minha revolta em energia para subverter esse quadro depressivo”, exortou, apontando que o Brasil, hoje, está proibido de crescer por três razões básicas. Ele relacionou: “Os juros altos que inviabilizam a iniciativa privada, o setor produtivo. O colapso nas finanças públicas com a menor taxa de investimentos desde a Segunda Guerra Mundial. A União vai investir apenas R$ 0,33 para cada R$ 100 do PIB (Produto Interno Bruto); todos os estados e municípios juntos vão investir o equivalente a R$ 1,22 para cada R$ 100 do PIB. Por outro lado, o governo, com recursos do Tesouro, repassará ao setor financeiro rentista 11% do PIB. E, por fim, enfrentamos uma interdição que deriva de uma prostração ideológica, vendida como ciência boa, que adotou o neoliberalismo que introduz o mito do laissez-faire, do estado mínimo; aquele que diz que o mercado, funcionando livremente, teria a capacidade de resolver a equação do desenvolvimento do País.” E completou: “Não há experiência humana, nem teórica nem empírica, que sustente o desenvolvimento apenas pelo espontaneísmo individualista das forças do mercado.”

Enquanto o País abre mão de discutir um projeto de nação, com a preservação do interesse e da soberania nacional, continuou Ciro Gomes, a China, exemplificou, “está investindo um “Brasil” siderúrgico por ano, de olho numa estratégia de dominar o setor no mundo daqui a 10 ou 15 anos”. O ex-governador lamentou que os chineses já dominem de 15 a 20% do mercado de aços planos brasileiro. “Estamos perdendo o nosso mercado para a aciaria chinesa, e ainda com o custo de frete para atravessar o planeta placas de aço para chegar ao Brasil.”

Para ele, o Brasil abriu mão de projetos econômicos estruturais, como políticas industriais e de comércio exterior; de ciência e tecnologia aplicada à inovação e ao desenvolvimento econômico; de infraestrutura que desconsidere o ano fiscal para considerar que os custos de transferência são inerência à competitividade sistêmica da economia. “Isso significa dizer que não fazemos a manutenção regular de uma rodovia para economizar U$ 10 mil por ano para cinco anos depois gastarmos mais de U$ 70 mil para recuperá-la”, lamentou. Da mesma forma, prosseguiu Ciro Gomes, o País “abriu mão de verticalizar o seu mercado de óleo e gás e hoje exportamos óleo bruto barato e importamos derivados de petróleo em dólar”.

Avanços e retrocessos
Todavia, asseverou ele, o Brasil, entre 1930 e 1980 saiu do nada, da agricultura da subsistência e de excedentes extraídos da monocultura do café e da cana de açúcar, para se transformar na 15ª economia industrial do planeta. “A China vai bater esse recorde agora, mas ainda é nosso o "vice-campeonato" de progresso capitalista e industrial em tão curto tempo.” Ele ironizou: “Ou seja, não há defeito genético na nação brasileira como essa nossa elite alienada, que pensa que Miami (EUA) é a capital cultural da humanidade, induz a acreditarmos. Quando estabelecemos minimamente uma hegemonia moral e intelectual que guie as nossas energias, produzimos prodígios. Temos na nossa história qual é o tipo de economia política eficaz. Não é copiar nenhum modelo de fora, como está fazendo esse governo autoritário, ilegítimo e golpista que temos hoje.”

A estagnação nacional, segundo ele, começa a partir da década de 1980, quando todas as energias se dedicaram a apagar “fogueiras”, em episódios conjunturais, como o restabelecimento da democracia e o combate às altas taxas de inflação, por exemplo. Patinamos desde então, observou Ciro Gomes, valendo-se, mais uma vez, da comparação entre o Brasil e a China: “Não conseguimos aumentar a nossa participação no comércio exterior dos 1% verificados há 37 anos; por outro lado, os chineses têm 12,5% de participação, podendo chegar a 20% nos próximos anos.” Tal cenário, que ainda inclui uma média de crescimento econômico nacional de 2% ao ano, mostra, afirmou, que “temos um grave problema de projeto modular, estrutural”.

A educação necessária
Outra questão que agrava toda a dificuldade do País em superar seus problemas econômicos é o descaso com a educação. “O Chile e a Colômbia têm mais de 30% dos jovens entre 18 e 25 anos de idade matriculados no ensino superior; com toda a expansão que aconteceu no Brasil temos a ridícula taxa de 16% dos nossos jovens no ensino superior. Isso em pleno século XXI. Não é possível pensar em desenvolvimento com essa base”, criticou Ciro Gomes.

“A gente precisa mobilizar a sociedade para discutir o País antes de qualquer processo eleitoral. Não dá mais para fazer remendos”, condenou. “Precisamos recuperar a capacidade de planejamento. Afirmar objetivos nacionais, gerais e difusos, mas concretos. Estabelecer objetivos permanentes, sustento que esses devem ser a superação da miséria e da desigualdade. E, por fim, definir as práticas.” Para ele, não é retórica dizer que o “Brasil tem que se decidir a crescer. Hoje a nossa decisão é de não crescer”. Tal fato, sustentou Ciro Gomes, leva em conta que, desde a desvalorização cambial de 1999, “somos guiados por uma trinca de políticas que tem a pretensão de colocar a administração da economia política brasileira no piloto automático imune ao povo”.  E explicou: “Basicamente, o Brasil obrigou-se a meta de inflação, câmbio flutuante e superávit primário. O câmbio flutua hostil a quem produz, desestimula a produção e acaba com a competitividade sistêmica da indústria e estimula o consumismo insustentável.”

De forma contundente, o ex-governador cearense disse que o único caminho para a retomada do crescimento é a reindustrialização. “A participação da indústria brasileira na riqueza brasileira, hoje, que já foi de 30% nos anos 1980, é de apenas 8%, o equivalente ao que era em 1910.” Com esse perfil, lamentou, “vamos virar apenas exportadores de commodities, que jamais pagarão – ainda que sejamos extraordinários em volume e competitividade na soja, no milho, no petróleo, minérios etc. – celulares, eletroeletrônicos, informática, novos materiais supercondutores, tecnologias ligadas ao moderno modo de vida”.

Ao final da sua exposição, Ciro Gomes parabenizou a CNTU pela iniciativa, a despeito de todo o ataque atual à organização sindical, de colocar de forma oportuna a discussão sobre o Brasil que queremos e precisamos. “Viva a iniciativa de vocês!”

Presentes
Compuseram ainda a mesa de abertura da Jornada Brasil Inteligente: o presidente em exercício da federação dos engenheiros (FNE), Carlos Bastos Abraham; os presidentes das federações dos nutricionistas (Febran), Ernane Silveira Rosas, e dos odontologistas (FIO), José Carrijo Brom; do sindicato dos economistas (Sindecon-SP), Pedro Afonso Gomes; e a representante da federação dos farmacêuticos (Fenafar), Maria Maruza Carlesso.

 

 

 

 

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