Rosângela Ribeiro Gil
Comunicação SEESP
Engenheiros, arquitetos e metroviários cerraram fileiras, em importante unidade, contra a privatização das linhas 5 – Lilás e 17 – Ouro da rede metroviária de São Paulo. Em entrevista coletiva na manhã de quarta-feira (27/09), na sede dos arquitetos, na Capital, dirigentes das três entidades sindicais explicaram que a unificação se deve ao objetivo comum de garantir um sistema metroferroviário que atenda à população. No dia 20 último, os sindicatos peticionaram ação civil pública pedindo o cancelamento do processo de concessão do Governo do Estado de São Paulo. E, nesta semana, a abertura dos envelopes da licitação, que seria realizada nesta quinta (28), foi suspensa pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE), que solicitou ao governo paulista informações sobre diversos itens do certame.
Foto: Beatriz Arruda/SEESP
Da esq. para a dir.: Emiliano Stanislau Affonso Neto (SEESP), Maurílio Ribeiro Chiaretti (Sasp) e Alex Fernandes (metroviários).
Conforme explicitou o diretor do SEESP e funcionário do Metrô há 30 anos, Emiliano Stanislau Affonso Neto, o que “nos move é o nosso compromisso voltado ao desenvolvimento e o respeito à sociedade”. Para o presidente do Sindicato dos Arquitetos no Estado de São Paulo (Sasp), Maurílio Ribeiro Chiaretti, é importante esclarecer a população que a privatização não significa a melhora do serviço, como argumenta o governo. “A única coisa que é privatizada nesse caso é o lucro, o resto é tudo feito com o dinheiro público do próprio Governo do Estado e do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). A iniciativa privada não tem qualquer risco nesse tipo de modelo de concessão”, advertiu. Ele foi taxativo: “O metrô é um direito, não um negócio.”
Alex Fernandes, diretor do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, informou que em duas consultas realizadas pela entidade em estações do Metrô, em 2016 e recentemente, os usuários se posicionaram contra a privatização do sistema. “Infelizmente, o que acontece é que as nossas vozes não são ouvidas pelo governo, pelos deputados nem pela mídia tradicional. Querem passar a ideia de que o povo aceita tudo”, criticou.
Todos os três dirigentes destacaram que a malha metroferroviária da cidade precisa se expandir e atualizar, e que tal necessidade não está contemplada no modelo de concessão apresentado pelo governo estadual. “O que vemos é que as linhas são restritas e não atendem quem mais interessa, ou seja, a população das periferias. É uma lógica que cria mais desigualdade na nossa cidade”, ponderou Chiaretti.
Fernandes observou que o discurso “vendido” à população é de que o serviço privatizado é melhor em relação ao público. “Isso não é verdade. A Linha 4, da concessionária ViaQuatro, não é melhor que as outras linhas operadas pelo Metrô. De modo geral, ela tem mais falhas operacionais, fecha mais estações por problemas ou manutenção. E isso tudo é ocultado.”
Affonso Neto ressaltou que o SEESP não poderia ficar de fora dessa ação, "porque verificamos que no caso das linhas 5 e 17 existe um investimento acumulado de mais de R$ 20 bilhões, e o parceiro privado iria participar com uma outorga mínima de R$ 180 milhões”. “Ou seja, por mais eficiente que seja essa concessão, não vamos receber mais do que 5% dos recursos que são necessários para implantar essas duas linhas”, explicou.
Outra coisa que chama a atenção no modelo de concessão proposto pelo governo, ainda conforme o diretor dos engenheiros, é que essa outorga não vai acrescentar um metro a mais de linha de metrô ou de monotrilho. Para ele, é um contrassenso o governo querer abrir mão da operação dessas linhas, sendo que a companhia é reconhecida internacionalmente: “Ela tem o terceiro menor intervalo de trem do mundo, ela tem um dos menores índices de falhas nos trens, e nunca tivemos colisões com vítimas fatais. O Metrô trabalha com nível de eficiência excepcional.” E indaga: “Por que, então, estão querendo tirar essa operação do Metrô e passar para uma empresa privada que não vai fazer nada mais?”
Ele esclareceu, ainda, que a linha 4 – Amarela pode ter até uma eficiência boa, e tem, mas “todas aquelas melhorias, como vagão contínuo e outras, foram desenvolvidas pelos engenheiros do Metrô de São Paulo”.
Affonso Neto descreveu o sistema de metrô de São Paulo, o mais carregado do mundo, segundo ele. “São 80km de linhas que carregam quase a mesma coisa que os 500km do sistema de Nova York (Estados Unidos).” Para se ter uma ideia do nível acima dos usuários, o diretor do SEESP disse que só a linha 3 - Vermelha, chega a transportar de 80 mil a 90 mil passageiros por horas, quando é um sistema para transportar 60 mil. O que é que falta? Mais linhas e um sistema melhor. Se eu pegar a linha 4 ela não transporta nem 40 mil. Precisamos aumentar o nosso setor, e essa privatização não vai fazer isso.
Mobilidade boa
Affonso Neto ressaltou que a população brasileira cada vez mais se concentra nas áreas urbanas, em torno de 80% atualmente, “para se ter, nesse cenário, desenvolvimento e crescimento, precisamos de cidades com infraestrutura boa, e isso passa por mobilidade boa que, por sua vez, passa por sistemas eficientes metroferroviários”.
Decisão
A participação do SEESP na ação civil pública, juntamente com os arquitetos e metroviários, foi aprovada em assembleia realizada no dia 26 último.