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01/12/2017

Opinião - Greves pipocam em 2017

Clemente Ganz Lúcio*

Os trabalhadores coletivamente param de trabalhar e a isso chamamos greve. Ao parar de trabalhar, deixam de produzir e impõem perda àqueles que os empregam.

Na greve, o recurso humano que a empresa emprega se apresenta como gente e como sujeito político, porque é coletivo, e porque para!

O empresário pensa que se fosse uma máquina, não pararia. Se quebrasse, ele consertava ou trocava. Com gente é diferente, apesar dos patrões insistirem em chamar de recurso humano – mania de alguns de transformar o sujeito em adjetivo. Na greve, o adjetivo se coloca de maneira imperativa, como sujeito, e explicita o conflito de classe – entre quem emprega e quem é empregado, entre quem manda e quem obedece. A greve afirma, em um lapso de tempo, que outra situação de trabalho seria possível.

Mas há greve e greves. Todas tratam de alguma maneira de questões distributivas – quanto ganham aqueles que são empregados – ou das condições de trabalho. Há as greves propositivas, que buscam conquistar, ampliar ou consolidar direitos – quanto daquilo que o trabalhador adicionou e criou de riqueza e que será destinada a ele.

As greves propositivas ocorrem predominantemente quando a economia cresce, a produtividade aumenta, os lucros se realizam, a produção está alta e os estoques estão baixos. Quando a produção para, os lucros caem e essa é uma linguagem que o capital entende.

Mas há greves que ocorrem quando as coisas não vão bem. São greves defensivas; aquelas que os trabalhadores fazem porque estão no limite da perda dos direitos.

O levantamento permanente do Dieese identificou 1.001 greves em 2017, até outubro, divididas quase igualmente entre o setor privado e público; na maioria, defensivas, coerentes com a grave recessão por que passa a economia brasileira.

No setor privado, 59% das greves ocorreram porque houve atraso no pagamento dos salários; 27% por problemas relacionados às demandas de alimentação; 16% por reinvindicação de reajuste salarial; 11% por atraso no pagamento do 13º salário; e 9% pela regularização do depósito do FGTS.

No setor público, 45% das greves defensivas de 2017 ocorreram por reinvindicação do reajuste salarial; 19% pleiteavam melhores condições de trabalho; 18% foram pelo pagamento de salários atrasados; 18% por Piso salarial; 16% por plano de cargos e salários; 11% para efetivação da contratação; e 10% por demandas relacionadas à alimentação.

Paramos como forma de nos colocarmos em movimento e realizamos a transformação de recurso em gente; de força de trabalho em sujeito coletivo; de produtor de riqueza em promotor de bem-estar social. Fazemos greve porque, na luta de classe, parar é condição para andar, algumas vezes, para avançar e outras, para se defender.


* Sociólogo e diretor-técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese)

 

 

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