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06/08/2019

Conferência São Paulo Sua: uma agenda mínima para as eleições de 2020

Allen Habert*

 

Num chá de bebê beneficente de mães de filhos da Cracolândia uma menina de sete anos pediu aquilo que ela mais desejava: veneno de rato. Para quê? Colocar em torno dela na rua para que os ratos não a mordessem no rosto durante a noite. Era o seu objeto de desejo na cidade real de São Paulo.  A décima mais rica do planeta, a mais populosa do País, com o maior dinamismo econômico, produção imobiliária, ativismo e mobilização da sociedade. 

 

A ideia de que “São Paulo não tem jeito” ainda povoa boa parte das mentes paulistanas. Como melhorar algo que você não ama? Criar uma identidade entre cidade e população e fazer com que esta se aperceba que deve migrar da categoria de morador para a de cidadão é uma das senhas para decifrar o enigma da esfinge São Paulo.

 

É neste contexto que se lançou a iniciativa da Conferência São Paulo Sua em junho último, com o objetivo de construir uma agenda mínima da sociedade civil organizada para as próximas eleições municipais de 2020. O pontapé inicial foi dado pelo SEESP e pela Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados (CNTU) , unidos com a Rede Nossa São Paulo. Hoje estão integradas dezenas de outras entidades representativas de moradores, sindicais, empresariais, educacionais, científicas, tecnológicas, políticas, religiosas e culturais. Unindo as lideranças sociais mais vibrantes e uma significativa parcela da intelectualidade.  

 

No sábado (10/8), às 15 horas, na sede do SEESP, na Rua Genebra, 25, na Bela Vista, acontece a segunda reunião preparatória da iniciativa que visa realizar, até maio do ano que vem, debates nas 32 regiões da cidade, fazendo um diagnóstico e propondo soluções consistentes, viáveis e de ponta para pactuar consensos a um novo desenvolvimento em São Paulo rumo a uma economia 4.0. Sob três eixos: políticas públicas, políticas econômicas e políticas democráticas, a ideia é refletir e debater sobre 12 áreas âncoras decisivas para a qualidade de vida e o aproveitamento da vocação de cidade empreendedora e global. Chama a atenção que em 2021 haverá uma revisão do Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo de 2014, premiado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como um dos mais importantes do mundo, podendo ser um instrumento para as transformações urbanas.

 

Segmentada por milhares de ilhas e ilhotas sociais que não se conectam e não se pactuam, escorregou-se para um patamar de 25% de sua população economicamente ativa desempregada, sendo 40% jovens. Ou seja, o dobro do índice brasileiro. A cidade de São Paulo não possui políticas públicas para a defesa e ampliação do emprego e do papel da pequena e média empresa (PME) na economia. Menos de 30% do PIB brasileiro é devido ao valor produzido pelas pequenas e médias empresas geradoras, por sua vez, de 55% dos postos de trabalho do País. Enquanto na Alemanha a participação da PME no PIB é de 60%, na Itália de 65% e nos EUA de 50%, no Brasil essa é discriminada na prática nas políticas de compras do Estado, no fornecimento de créditos e na modernização tecnológica. E elas são fundamentais, incluindo as crescentes startups, na absorção de trabalhadores e dos melhores cérebros formados pelas universidades em São Paulo, cidade com alto índice de doutores e mestres por habitante, os quais estão disponíveis no mercado. 

 

Essa agenda mínima a ser elaborada pela Conferência São Paulo Sua será pública, podendo ser utilizada para a sua implementação por quaisquer candidatos a prefeito e a vereador em São Paulo. Por um processo de debates, criação de pactos e consensos quer-se ajudar a diminuir as desigualdades desta cidade, caminhar para uma cidade inteligente e estimular caminhos para a participação do cidadão e das entidades representativas. A expectativa de vida na região de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, é de 79 anos, enquanto em Cidade Tiradentes, na zona leste, a 30km do centro, é de 53 anos. São incríveis 26 anos que separam os diversos Brasis na cidade, e enorme e dramática a perda de riquezas e do PIB devido a esta situação.

 

A Conferência São Paulo Sua quer propor, por exemplo, a diminuição da desigualdade através da apropriação e distribuição do conhecimento e saber pela cidade. Os ativos da cidade unidos, os mundos do trabalho, capital, C&T e cultura, juntamente com os poderes públicos, devem se propor a um mutirão cívico e planejado para aumentar em média a escolaridade do trabalhador e atrair os jovens para carreiras novas, abrindo oportunidades da economia criativa nesta cidade. 

 

A consciência crítica de São Paulo, numa “Terra em transe”, tem que se superar e se unir já em torno da democracia, da cultura e do emprego para que aquela criança, que demonstrou muita inteligência, poder de superação e garra querendo se proteger das mordidas dos ratos, possa ter a condição de ser uma cidadã ativa e participativa. São Paulo Sua. Cuide e transforme-a.

 

 

 

 

 

Allen

 

 

 *Diretor do SEESP e da CNTU. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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