A estudante de engenharia civil aponta lutas importantes: contra o raciscmo e a intolerância pelas orientações sexuais.
Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia
Edição Rita Casaro - Comunicação/SEESP
Mariana Antunes completa 25 anos neste 20 de novembro, o Dia da Consciência Negra, que ela festeja ainda com mais alegria. Graduanda em Engenharia Civil, na Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas Gerais, ela é colaboradora da escola de negócios Voitto, responsável pela parte de novos produtos.
Além de vocês, quantos negros e negras conviveu em sala de aula e quantos professores na sua graduação? Onde você encontrava negros e negras nas dependências da sua faculdade?
Pelo que me lembro, eram dois ou três além de mim, em uma turma de cerca de 50 pessoas. Em relação à graduação, acho que tive apenas uma professora negra, que não era nem das engenharias em si. Por mais que seja óbvio, e ele precisa e deve ser dito, a maioria dos negros está em serviços de limpeza e na organização dos locais onde os brancos irão estudar.
A população brasileira é de maioria preta e parda, mas ainda assim são tratados como minoria. Como você vê essa situação?
Entrei na faculdade de Engenharia Civil por conta das cotas raciais, logo, sou grata a elas. Outro recorte interessante de ser feito é a de gênero, visto que sou uma mulher e, além disso, não-heterossexual. Logo, estou, basicamente, na base da pirâmide, mas ocupando meu lugar numa universidade pública. Tudo que faço, sejam os trabalhos voluntários em segmentos estudantis ou na vida profissional, levo comigo uma frase que escutei em um documentário feito para uma disciplina que abordava questões de gênero, na Faculdade de Educação na UFJF: “Uma sobe e puxa a outra.”
Como é enfrentar esse cenário num país como o Brasil?
Uma das alternativas que para mim, após minha experiência com o IEEE, a maior organização técnica do mundo, faz maior sentido é incentivar crianças negras a estudarem, com base no exemplo de pessoas negras. Além disso, é necessário ações políticas e sociais para que essas pessoas que tenham interesse nas carreiras STEM [sigla, em inglês, para Science, Technology, Engineering, and Mathematics; em português, Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática] consigam seguir suas vontades, por meio da equidade.
Nesse sentido, o debate sobre racismo e machismo como estruturantes da sociedade é pauta importante na formação superior?
Com toda certeza. Só conseguimos combater esses tipos de atitudes falando sobre elas, às vezes esses “pensamentos” e “falas” estão tão enraizados na sociedade que as pessoas não percebem o quão horrível é isso. Por isso, grupos que unem Mulheres em Engenharia – como o IEEE, Women in Engineering –, fazem mediações exemplares sobre esses temas.
Quais exemplos ou personalidades que o inspiram na luta contra o racismo?
Atualmente, minha principal referência é a professora Zélia Ludwig, da Faculdade de Física da UFJF. Outro ponto é a própria organização IEEE, que preza pela diversidade em suas atividades, desde o nível infantil, com o trabalho com crianças de incentivo na área de STEM, quanto com bolsas de estudos para graduados.
Qual sua mensagem pelo Dia da Consciência Negra?
Por coincidência do destino, dia 20 de novembro é também meu aniversário, logo, é um dia extremamente especial para mim. Para os colegas, em geral, desejo que estudem e entendam como o racismo é nocivo à nossa sociedade. Para os colegas negros, principalmente mulheres, muita força e foco! Estamos juntas.