Glaucia Pereira*

Nas últimas décadas, os estudos e pesquisas em mobilidade urbana têm sofrido uma série de transformações e nós, especialistas que trabalhamos na área, temos acompanhado as mudanças e postulado questões para compreender a complexidade do tema.

Até pouco tempo, as pessoas só pensavam nos problemas da mobilidade a partir da perspectiva do deslocamento, do transporte coletivo, mas fomos nos dando conta de que não dava para falar de transporte sem falar de outras questões. As pesquisas Origem Destino, uma marca do nosso campo, passou a ser insuficiente para dar diagnósticos precisos sobre as questões urgentes que precisam ser resolvidas na cidade. Não basta apenas pensar de onde e para onde as pessoas vão, mas precisamos compreender quem são elas, qual a história do território onde vivem, de que forma interagem com o espaço da cidade, o que vai muito além do mero deslocamento. Também não podemos mais pensar em transporte sem levar em consideração a ocupação urbana, a emissão de gases de efeito estufa, a redução das desigualdades.

A mobilidade urbana regula as chances de acesso às oportunidades na cidade e isso vai muito além de apenas “pegar” um ônibus ou metrô. Falar em mobilidade urbana é falar de um grande ecossistema que envolve os modos e infraestrutura de transporte, serviços, sensores, pesquisas sobre o uso diversos modos de transportes, marcos legais e legislação, pessoas que usam e gerenciam os sistemas, dados e informação. Todos esses elementos estão interligados dentro de determinado território que, por sua vez, está conectado com outros. Junto com Marcelo de Trói, doutor em Cultura e Sociedade, escrevi o livro Mobilidade urbana: dos deslocamentos iniciais à redução das desigualdades explicando essas e outras questões que envolvem a mobilidade urbana. No livro, tentamos evidenciar que a mobilidade urbana é um assunto extremamente importante para a vida humana e mostramos como as mudanças históricas influenciaram este conceito.

No Instituto Multiplicidade Mobilidade Urbana (IPMMU), nossos serviços e soluções buscam compreender esse ecossistema através de dados e indicadores. Fazemos pesquisas para empresas e governos, gerando evidências que possam apoiar a gestão e a tomada de decisões em mobilidade urbana. Isso significa que estamos mudando a cultura e transformando pessoas com cursos, capacitações e produção de conhecimento.

Se antes, a mobilidade urbana era voltada prioritariamente para as engenharias, hoje ela está cada vez mais em diálogo com o campo interdisciplinar. Para resolver problemas complexos é preciso um pensamento multidimensional, acompanhar as mudanças e estar preparado para os desafios que o século XXI nos reserva. Sem dúvida, a mobilidade urbana é um deles.

*Glaucia Pereira é graduada em física e mestre em administração com ênfase em dados pela Universidade de São Paulo (USP). É pesquisadora e fundadora do IPMMU. Contato: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..