logo seesp ap 22

 

BannerAssocie se

18/04/2023

Engenharia de Custos: o BIM na prática

Jéssica Silva/Comunicação SEESP

 

A Engenharia de Custos tem papel importante no mundo das engenharias pela responsabilidade dedicada à gestão financeira de um projeto. Para a estimativa de gastos, o profissional desta área deve estar por dentro de todo planejamento, objetivos e condições do empreendimento, conforme o Mapa da Profissão – organizado pela área de Oportunidades na Engenharia do SEESP.

 

EngGuadalupe siteA engenheira de custos e especialista em BIM, Guadalupe Yanguas.
Foto: acervo pessoal.
Para a engenheira Guadalupe Yanguas, é aí que o BIM faz toda a diferença para o profissional. O processo de modelagem da informação da construção, na sigla em inglês BIM (Building Information Modeling), permite interoperabilidade entre todas as áreas envolvidas na obra. A extração de quantidade de material aplicado é automática, conforme ela afirma.

 

No entanto, a especialista ratifica que conhecer um ou alguns softwares não significa utilizar o BIM, que envolve o tripé formado por processo, pessoas e ferramentas. “Sem uma dessas partes, não funciona. Muito do mercado hoje está sabendo sobre a tecnologia, mas não sabe do processo”, avalia.

 

Yanguas atua na TSX Engineering, é gerenciadora de projetos com foco em Engenharia de Custos na área de Gestão e Coordenação BIM de Projetos e Contratos de Hospitais, consultoria e treinamento. Em entrevista ao SEESP, ela fala sobre experiência na área, mercado de trabalho, as dificuldades que ainda enfrenta por ser mulher na engenharia e sua proposta de qualificação por meio do projeto “BIM social”, em que profissionais poderiam experimentar o processo de modelagem da informação na prática em prol da comunidade.

 

A senhora é engenheira Civil e de Custos e especialista em BIM. Como se deu essa combinação na sua trajetória profissional?

Sou formada em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), concluí em 2002. Ingressei na área de Engenharia de Custos com foco em planejamento e orçamento de obras ainda na faculdade por meio de um estágio, no qual tive uma mentora preciosa. E nas duas décadas que se sucederam tive mais três mentores também sensacionais e generosos que muito me ensinaram, confiaram e me deram oportunidades de me desafiar e crescer. E aproveitei cada uma delas. Passei por incorporadoras, construtoras, gerenciadoras, obras comerciais, residenciais, infraestrutura, equipamentos sociais e hospitais. E então, em 2019, fui incentivada por uma colega a fazer um MBA em BIM. E essa metodologia me ganhou, mas percebia que havia muito mais a aprender. Investi em cursos de capacitação, conheci pessoas maravilhosas e tive oportunidades incríveis de aplicação dos conhecimentos na área de implementação, orçamentação e planejamento. Gosto muito de citar a professora Rosângela Castanheira, que afirma que o orçamentista já nasceu pronto para o BIM, por sempre trabalhar de forma colaborativa mesmo que dentro de seu próprio processo.

 

E como surgiu a ideia do projeto “BIM social”?

Começou no grupo da pós-graduação; uma colega nossa tinha um projeto social de ajudar as pessoas em situação de rua a lavar roupas e estava montando uma sede. Pensamos no BIM para isso, queríamos colocar em prática porque não tínhamos experiência ainda, então surgiu a ideia.

 

O projeto da sede feito pelo BIM social foi inscrito para o Prêmio BIM, da segunda edição do evento BIM Crea-SC, em 2020. Veja no vídeo:

 

Nós iríamos atuar com a nossa capacidade técnica através da metodologia BIM em projetos sociais. E, a partir daí, dar oportunidade a profissionais que quisessem aprender essa metodologia, a trabalhar e ter acervo técnico nessa área. Daríamos a capacitação para esses profissionais, faríamos pequenos cursos gratuitos, tudo como trabalho voluntário, e esses profissionais trabalhariam conosco nesses projetos. Em suma, seria capacitar o profissional na prática do BIM e, ao mesmo tempo, ajudar ONGs, creches, comunidades que estivessem precisando. Discutimos como o BIM social poderia ser estruturado para funcionar depois, mas no momento está parado, infelizmente. A ideia é muito boa, porque muitos profissionais no mercado tem a visão errada de que o BIM é apenas uma ferramenta.

 

O BIM ainda não é plenamente compreendido pelos profissionais?

O BIM é o tripé processo, pessoas e ferramentas; sem uma dessas partes, não funciona. Muito do mercado hoje está sabendo sobre a tecnologia, mas não sabe do processo e nem das políticas – que é o que faz a intercambialidade entre as pessoas e softwares. A gente vê muito profissional despreparado porque não entende o que realmente é. Fiz um treinamento recentemente na empresa e muita gente perguntava se eu não ia mostrar o “Revit”, achavam que eu falaria apenas sobre o software. Usar somente o software pode gerar algum benefício, mas esse é o chamado “BIM sozinho”, você está usando uma ferramenta e não o processo. Falta esse complemento, falta essa capacitação na prática do processo, e o projeto BIM social vai ao encontro disso.

 

Na Engenharia de Custos o BIM tem um grande papel?  

Sim, a gente já trabalha de forma colaborativa. Quando recebemos um projeto comentamos o que falta, apontamos o que há de errado, o que é preciso mudar para orçamentação. O BIM traz uma extração de quantidade automática de material aplicado. Claro que levamos em conta, além disso, a precificação dos serviços. Não é somente multiplicar quantidade e preços, usar uma tabela. Para ser um engenheiro de custos, você tem que ter um entendimento do todo, entender o que está sendo utilizado e em qual contexto, o que o cliente quer e o que é melhor para ele, num grande espectro de possibilidades desde estimativas, paramétricas. É uma área muito complexa, mas bastante interessante. Eu sou das antigas, fiz muito orçamentação na mão mesmo e eu sonhava com o projeto, com aquele apartamento que estava sendo construído. Hoje, com o BIM, a gente vê tudo ali no computador, numa realidade virtual. E aí temos ferramentas específicas, plugins de orçamentação, softwares para todos os bolsos. O que é muito importante também, sempre procurar trabalhar com o open BIM, que são os arquivos no formato “IFC”, compatíveis com diversas plataformas.

 

O mercado para engenheiros de custos que trabalham com o BIM está favorável?

O fato que mais me alegra é a importância que a Engenharia de Custos vem recebendo no mercado, sendo tratada com a seriedade devida. E como resultado dessa maior visibilidade, percebemos investimentos em melhorias de ferramentas, processos e capacitação profissional.  O BIM se encaixa nesse momento, consolidando a necessidade da boa especificação dos projetos e colaboração entre os envolvidos. Mas ainda falta reconhecer financeiramente, toda essa parte que chamamos de pré-obra, ainda mal remunerada. O empreendedor acha que está economizando não fazendo isso, mas um bom projeto, um bom orçamento, um bom planejamento traz uma economia fantástica na execução e manutenção.

 

A senhora teve empecilhos em sua trajetória profissional por ser mulher, numa profissão que ainda é majoritariamente masculina?

Eu passei por muitas entrevistas de emprego em que em 80% delas me perguntavam “tem filhos?” e em seguida “pretende ter?”. E quando tive meu filho, perguntavam quem o levaria ao hospital caso adoecesse. Eu falava que isso não era uma pergunta adequada, e questionava se fariam também a um homem. Eles têm que saber se vou entregar meu trabalho, apenas isso, ainda mais nessa área, entregar o trabalho no prazo é o que importa. Ao invés dessas perguntas, gostaria que me falassem que a empresa tem um suporte para mãe solteiras, por exemplo. Também já passei pela situação de estar numa empresa no mesmo cargo e com as mesmas responsabilidades que um colega homem, no mesmo nível de capacitação, e ter o salário bem inferior. A gente realmente tem que lutar pelos nossos direitos, para termos condições de equidade.

 

Qual o resultado do seu trabalho para as empresas e a sociedade?

Busco sempre trabalhar com dedicação e foco na coletividade, buscando a sustentabilidade do meu trabalho inclusive com uma visão holística, tentando agregar todas as camadas envolvidas. Dessa forma, mesmo que não impactante aos olhos do mercado, colho confiança e boas parcerias.

 

Tem dica de perfis nas redes para inspirar quem quer ingressas na área?

Dos especialistas Rosângela Castanheira,  Carlos Dias, e Marcelo Holsback; e as páginas Conexão BIM e Quatre.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Lido 1425 vezes
Gostou deste conteúdo? Compartilhe e comente:
Adicionar comentário

Receba o SEESP Notícias *

agenda