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19/06/2023

Engenharia de aquicultura para assegurar qualidade e segurança ao pescado e ao ambiente

Soraya Misleh/Comunicação SEESP

 

Com apenas 260 profissionais registrados no Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), sendo 195 homens e 60 mulheres, a Engenharia de Aquicultura abre leque de oportunidades de atuação, tendo em vista o crescimento exponencial da produção aquícola no Brasil nos últimos anos.

 

Graduada na área pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) no ano de 2015, Dandara Carvalho aponta, nesse sentido, boas perspectivas ao profissional da modalidade no mercado de trabalho, o qual tem como diferencial visão holística e sustentável na produção do alimento, “garantindo qualidade e segurança ao pescado e ao ambiente”.

 

Dandara Carvalho, engenheira de aquicultura: demanda por profissionais da área cada vez maior. Foto: Acervo pessoal

 

Conforme o Mapa da Profissão elaborado pela área de Oportunidades na Engenharia do SEESP, há vasto campo de atuação ao engenheiro de aquicultura, que pode atuar no melhoramento genético, no diagnóstico de enfermidades, na alimentação e nutrição, no beneficiamento e no cultivo de espécies aquícolas, inclusive integrado à agropecuária; nos processos de reutilização da água, construções, irrigação e drenagem para fins de aquicultura, ecologia e aspectos de meio ambiente referentes à atividade; na análise e manejo da qualidade da água e do solo das unidades de cultivo e de ambientes relacionados a estes; no desenvolvimento e aplicação da tecnologia do pescado cultivado; e na mecanização para aquicultura.

 

Atuando desde 2021 na Nutricamp Produtos Agropecuários, Dandara Carvalho fala sobre a profissão nesta entrevista ao SEESP. Além de contar um pouco de sua trajetória, entre outros temas, fala sobre áreas de atuação, inovações, perspectivas e sonhos. Também dá dicas sobretudo a jovens mulheres como ela que pensam em seguir a profissão.

 

O que a levou a escolher a profissão de engenheira de aquicultura? Por favor, conte sobre sua trajetória profissional até os dias atuais.

Até meus 12 anos eu odiava comer peixe, há 20 anos não existiam tantas apresentações e espécies nos supermercados, só tínhamos o costume de comer peixe na Semana Santa. Por volta dos 13 anos, íamos sempre ao litoral [catarinense], e meus pais compravam o peixe recém-chegado dos barcos. Era completamente diferente... peixe fresco, com sabor! Aos poucos fui mudando meu gosto e minha família, incluindo mais peixe nas refeições. Até que, com 17 anos, numa aula do cursinho (até então ia prestar vestibular para veterinária), falou-se de cursos novos que estavam surgindo e tinham grande potencial devido à necessidade de produção de alimentos, e comentou-se da engenharia de pesca. Fiquei curiosa, fui ler sobre o curso e me encantei. Passei em veterinária e em engenharia de pesca... Na época eu só lembrava do gosto daquele peixe fresco e a vontade de fazer com que mais pessoas se apaixonassem, assim como eu, por aquele sabor. E assim começou. Cursei quatro anos de engenharia de pesca, após fiz transferência para engenharia de aquicultura. Desde o primeiro ano da faculdade eu fui mais para o lado da piscicultura continental, dentro da faculdade participei de vários projetos de pesquisa e antes mesmo de me formar, faltando poucos meses, já comecei a enviar currículo. Me formei em 3 de setembro de 2015 e no dia 10 do mesmo mês iniciava minha carreira numa piscicultura de reprodução no interior do Rio Grande do Sul. De lá para cá, já passei por reprodução, engorda, beneficiamento, já tive um empório de pescado, e agora estou na área técnica comercial.

 

Quais as áreas de atuação para o engenheiro de aquicultura?

O curso é muito amplo, e a demanda por profissionais está cada vez maior. Gosto muito das áreas de nutrição e sanidade, e acredito que com os desafios que os produtores vêm enfrentando, estas serão cada vez mais exploradas.

 

Como está o mercado de trabalho para o profissional hoje e quais as perspectivas?

 A demanda por profissionais qualificados nos últimos anos teve um grande aumento, principalmente pelo crescimento da produção aquícola e a visão de consolidar a aquicultura como uma produção viável, profissional e de grande potencial.

 

Quais os impactos do trabalho do engenheiro de aquicultura nas empresas e sociedade?

O engenheiro de aquicultura tem como missão olhar o todo, ambiente, produção e empresa. Produzimos alimento, lidamos com o ambiente e temos a responsabilidade de gerar retorno. Otimizar manejo, reduzir custos, aumentar produtividade, garantindo qualidade e segurança ao pescado e ao ambiente.

 

Quais as inovações na engenharia de aquicultura nos últimos dez anos?

Mecanização, automação, programas de controle, biosseguridade e avanço nutricional. A aquicultura nos últimos dez anos se transformou, e tenho certeza que os próximos anos serão de ainda mais avanços. Lembro da minha época de estágio, em que a classificação dos animais era feita manualmente, numa mesa de inox com uma régua colada, e não existia vacinação. Hoje os animais já são classificados vacinados automaticamente, com apenas uma pessoa operando a máquina, garantindo agilidade e maior produtividade.

 

Poderia destacar seus trabalhos de pesquisa e dar dicas de aprimoramento profissional?

Na faculdade trabalhei com pesquisas na área de beneficiamento de pescado e aproveitamento de resíduos. Hoje meu trabalho é voltado a aditivos tecnológicos para aquicultura. A dica é sempre buscar cursos, eventos e estágios.  Estar no campo é extremamente importante. A teoria é essencial, mas a prática abre portas.

 

Qual o projeto de maior destaque que participou?

Acho que meu projeto pessoal! Sou apaixonada pelo meu trabalho, e meu sonho, desde o início, foi com que mais pessoas se apaixonassem e pudessem viver da aquicultura. Cada vez que recebo um áudio de um cliente, agradecendo o trabalho realizado, um feedback positivo, [informação de] aumento da produção... é a realização de um projeto de vida! Da minha vida! Depois da minha família não há nada mais importante para mim do que meu trabalho. Sonho em ter uma carreira, fazer meu nome e oportunidades como ter participado de um painel tão forte na Aquishow [evento do setor, cuja 12ª. edição ocorreu entre 23 e 25 de maio último no Centro Avançado de Pesquisa e Desenvolvimento do Pescado Continental, do Instituto de Pesca, em São José do Rio Preto (SP)], ao lado de mulheres incríveis da aquicultura. Isso mostra que eu estou no caminho certo.

 

Enfrentou alguma dificuldade na profissão ou discriminação por ser mulher? Quais as dicas para jovens mulheres que querem seguir a profissão de engenheiras de aquicultura?

Muitas! Preconceito, machismo, assédio... Tive minha primeira filha no segundo ano da faculdade, ouvi de professores “o que está fazendo na minha aula se você não vai se formar?”. Quando me graduei, “mas você vai deixar sua filha com quem para trabalhar?”. Quando arrumei um emprego, “nossa, mas você viaja muito, como consegue ser mãe?”. Desacreditaram de mim tantas vezes, mas eu sempre soube o que queria, onde quero chegar. Meu conselho? Valorizem-se sempre, como filhas, como mães, como amigas, como mulheres! Valorize-se como profissional, se posicione, não deixe que a oprimam, que a diminuam. Saibam onde querem chegar e corram atrás. Não precisamos ser o que os outros querem, apenas precisamos achar onde somos valorizadas!

 

 

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