Em cidades como São Francisco, Nova York e Londres o espaço reservado para os automóveis nas garagens dos empreendimentos é definido por lei, conforme a infraestrutura viária e de transporte existente. Alguns edifícios têm várias vagas, outros, nenhuma. Em São Paulo, embora haja lei para ordenar esse espaço, é raro encontrar um empreendimento sem garagem, mesmo que haja metrô e ônibus na porta. O resultado de uma pesquisa feita pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP) dá a dimensão do quanto uma vaga na garagem pesa no bolso do comprador de imóveis em São Paulo, e o quanto seria importante repensar esse ordenamento para ajudar a baratear o custo do imóvel na capital.
Com base em dados de órgãos como a Embraesp (Empresa Brasileira de Estudos do Patrimônio), que registra todos os lançamentos feitos pelo setor imobiliário, o administrador de empresas Hamilton França Leite Jr., responsável pela pesquisa, calculou o quociente entre o espaço destinado aos automóveis e a área total construída das edificações residenciais e comerciais em São Paulo, desde a década de 1920.
A pesquisa mostrou que até os anos 1930 era praticamente zero a destinação de vagas de garagem para automóveis nos edifícios da cidade. A partir de então, quando o número de automóveis começa a ter um aumento expressivo em relação a população da capital paulista, os prédios passam a apresentar uma proporção de 6,5% de área de vagas de garagem em relação à área total construída. Esse indicador salta para 13% nos anos 1960, 22,5% em 1985 e atinge patamar máximo em 2001, com 29,59%, estacionando em torno de 25% entre os anos de 2002 e 2010.
Embora tenha havido um decréscimo de área nos últimos anos, o número de edifícios sem garagem ainda é muito pequeno. Em 2010, por exemplo, foram lançados 1.374 edifícios sem garagem, o que representa apenas 3,7% do total de lançamentos daquele ano. Por outro lado, o custo vem sendo alto para quem adquire um apartamento com garagem.
“Vamos supor que um apartamento de 100 metros quadrados custe R$ 700 mil. O comprador está pagando a área privativa, as áreas comuns e mais 50 metros, em média, para o automóvel. Cerca de um terço da área total comprada é estacionamento”, pondera Leite Jr. “Quando tivermos um sistema de transporte público de qualidade e uma configuração da cidade em que não precisemos do carro, teremos só benefícios, poderemos nos livrar desse custo adicional”, acrescenta.
Segundo ele, a manutenção do crescimento da área para estacionamento na mesma proporção registrada entre 2006 e 2010 representaria uma diferença de aproximadamente 600 mil metros quadrados de área para automóveis que poderiam deixar de ser construídas, em relação a um cenário otimista, de queda acentuada desta relação, apenas no ano de 2020. “Isso significa R$ 500 milhões que poderão ser economizados, apenas naquele ano se houver as condições necessárias para que a redução desta relação possa acontecer”, alerta Leite Jr. “Acompanhar essa evolução é instrumento importante para o poder público desestimular ou limitar a quantidade de vagas”, acrescenta.
Imprensa – SEESP
* Poli-USP
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