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10/12/2012

Divergência entre elites afeta integração na América do Sul

A pouca consonância entre as elites nos países sul-americanos compromete o andamento da integração da região. “A integração regional não avança devido à falta de apoio, envolvimento e interesses convergentes das elites”, relata a pesquisadora Regiane Bressan, autora da tese de doutorado A integração sul-americana e a superação da pobreza: uma abordagem pela percepção das elites. Contando também com uma vertente político-ideológica, o tipo de integração atual não é suficiente para atrair todas as elites.

Desenvolvido no Programa de Pós-Graduação Interunidades em Integração da América Latina (Prolam) da USP, sob a orientação da professora Elizabeth Balbachevsky, o trabalho explorou como os principais atores políticos, sociais e econômicos do continente sul-americano posicionam-se quanto à integração e ao apoio ao combate à pobreza e desigualdade em contexto regional. A pesquisadora analisou dados coletados entre março e agosto de 2008, na Argentina, Brasil, Bolívia, Venezuela e Chile, do projeto de pesquisa Percepção das elites sul-americanas sobre o impacto das desigualdades sociais na estabilidade democrática, desenvolvido pelo Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais (Nupri).

Foram analisadas as percepções de cinco categorias da elite: governos, partidos políticos, sindicatos, empresários e atores sociais — estes se referindo a ONGs, mídia e intelectuais. De acordo com Regiane, as teorias da integração regional defendem que as elites têm papel privilegiado no processo integrativo, canalizando os interesses da sociedade. “Segundo os teóricos, são essas elites que fazem os acordos e permitem que eles atinjam toda a sociedade”, comenta.

Divisão
No cenário geral, as lideranças encontram-se bastante divididas. Enquanto, na grande maioria, os sindicatos (63%) e partidos políticos (60,4%) apoiam a integração regional, apenas 32,5% dos empresários sul-americanos preferem a cooperação e integração entre os países da América do Sul, em grupos como o Mercado Comum do Sul (Mercosul), a Aliança Bolivariana para as Américas (Alba) e a Comunidade Andina, em detrimento de organizações externas, como União Europeia, Grupo dos Sete Países Mais Desenvolvidos (G7), Brics (grupo em que estão reunidos os países emergentes Brasil, Rússia, Índia e China) e Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (Apec). As elites governamentais figuram com 50,8% de apoio e atores sociais com 57,1%.

Também há diferenças nas percepções quanto à pobreza e desigualdade, um problema geral na região. “Todas as elites querem que a desigualdade seja reduzida, mas, por outro lado, não querem empregar os mesmos esforços”, comenta Regiane. Apesar de iniciativas de elites governamentais para a resolução desses problemas na região , como transparece no Consenso de Buenos Aires, entre Brasil e Argentina, outras lideranças, como os empresários, discordam que esse tipo de integração seja a mais favorável ao combate das disparidades sociais. “Falta a percepção de que a integração regional poderia também abarcar de fato mais esse objetivo”, opina a pesquisadora.

Influência político-ideológica
A pesquisa contou com uma série de perguntas não apenas para identificar o posicionamento das elites quanto à integração, como para caracterizá-las conforme suas tendências político-ideológicas, classificadas em sete categorias, que variavam da extrema direita à extrema esquerda. O trabalho considera o conceito pós-liberal sobre o regionalismo, no qual a integração adquire, além da perspectiva exclusivamente comercial-econômica, como predominava até os anos 1990, o viés político-ideológico, impulsionado especialmente pelos governos neopopulistas e identificados com a esquerda do século 21.

“As divergências nas percepções das elites acontecem, geralmente, por causa dos valores ideológicos”, explica a pesquisadora. Dessa forma é possível correlacionar a posição política das lideranças ao que pensam sobre a integração regional. A tendência, ela conta, é que lideranças que se auto-classificam como centro-esquerda, esquerda e extrema esquerda, apoiem mais as organizações de integração regional do que as externas. “Os sindicatos se identificam mais com a extrema esquerda e, ao mesmo tempo, são os que mais querem a integração regional”, relata. Segundo a estudiosa, desde a década de 1990 essas organizações vêm tentando trabalhar em âmbito regional para obter, por exemplo, leis trabalhistas aplicáveis a toda a região.

“Por sua vez, os empresários se identificam mais com a direita e são os que mais apoiam as organizações internacionais externas”, ela continua. No Brasil, por exemplo, aproximadamente 72% dos empresários alegaram preferir as organizações exteriores.

Já os governos, que configuram as elites decisivas do processo de integração, têm sua posição bastante variada e dividida de acordo com o país. As elites governamentais de Brasil e Bolívia classificam-se principalmente no centro e centro-esquerda. As argentinas e venezuelanas identificam-se como esquerda, enquanto as chilenas ficam no centro e centro-direita. Não à toa, a elite governamental chilena é a que menos apoia a integração sul-americana, com apenas 18,4% de aprovação. Os outros países apresentam todos pelo menos 50% de apoio da elite governamental à integração: Bolívia – 50%; Brasil – 54,1%; Argentina – 80%; Venezuela – 92,3%.

Por perceber que a integração está sendo liderada por governos de esquerda, as elites de direita, que não concordam com a perda de importância da área comercial-econômica, tendem a discordar do processo de integração regional. Para Regiane, essa discordância entre as elites leva à dificuldade de solidificação da integração. “Quando se tem elites, sobretudo governamentais, que pensam de maneiras diferentes, fica difícil pensar na consolidação de um processo de integração regional.”

 

Imprensa – SEESP
Informação da Agência USP de Notícias



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