Às vésperas do badalado encontro mundial das finanças que se realiza em Davos – mas deveria ser em um lugar chamado Tômovos – a Oxfam anunciou, ao mesmo tempo em que foi apresentado o relatório anual da OIT [Organização Internacional do Trabalho], que 85 ricaços do mundo abocanham a renda equivalente a 3,5 bilhões de pessoas, metade da população do planeta. São detentores de 1,7 trilhão de dólares.
Números aterradores e quaisquer que sejam as motivações da Oxfam, sua revelação escancara o perigoso desequilíbrio social em que vivemos e as desigualdades que se agravaram depois da crise de 2008, com raras exceções.
“Todos os países de alta renda do G20, exceto a Coreia do Sul, estão vivendo aumento de desigualdade, enquanto que Brasil, México e Argentina estão vivendo um declínio nos níveis de desigualdade”, diz o documento.
A Oxfam é uma ong inglesa que atua em mais de 100 países buscando soluções para os problemas da fome e da injustiça. Foi fundada em 1942, em plena guerra mundial, pelo Cônego Theodore Richard Milford e por religiosos quakers, acadêmicos e ativistas sociais e se envolveu em inúmeros episódios de “intervenção humanitária” na Grécia e em toda Península Balcânica, já sob a lógica da guerra fria.
Não podemos desviar nossa atenção e por isso o repito, do dado clamoroso e alucinante: 85 pessoas pesam economicamente o mesmo que 3,5 bilhões.
Tal concentração mundial de riqueza, escandalosa, se dá em prejuízo da vida de milhões e milhões de trabalhadores, de homens e mulheres, de crianças e velhos e de desempregados (como revela o relatório da OIT) e pesa como uma hipoteca sobre a democracia, os direitos humanos, e a própria integridade das nações.
Espero que a delegação governamental brasileira em Davos leia com atenção o documento da Oxfam e o relatório da OIT.
* por João Guilherme Vargas Netto, consultor sindical