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11/06/2015

Opinião - Luto e luta

Não sei o que deu na cabeça de Gaudêncio Torquato, tão ajuizado em seus textos, para escrever o que publicou na Folha de São Paulo, na última terça-feira, sobre a orfandade dos trabalhadores.

Embora explicite inúmeras mazelas do movimento sindical e faça constatações pertinentes, seu artigo é enviesado. Orfandade, todos sabemos, significa morte dos pais. Mas, como expressão social, os trabalhadores não os têm – exceto no sentido biológico e familiar.

Faz parte da tradicional e preconceituosa história social brasileira e já virou mesmo um preconceito elegante desqualificar a luta coletiva dos trabalhadores e de seus dirigentes e entronizar um protetor, um benfeitor, um pai, seja um indivíduo, seja um partido político.

É o que fez Torquato. De todos os figurantes citados por ele apenas Lula foi um dirigente sindical. Todos os outros (indivíduos ou partidos), embora não se possa subestimar seus papeis, ajudam a esquecer quase displicentemente o papel dos milhões de trabalhadores e dos milhares de dirigentes sindicais que, ao longo dos anos, em conjunturas favoráveis ou em conjunturas adversas, enfrentando discriminações, desigualdades e repressão, fizeram no Brasil a magnífica história de lutas e conquistas, de avanços.

A ação sindical tem sido e é hoje, na vigência da democracia, um dos esteios da estabilidade, e o pelotão sindical, agrupado, exerce um forte papel institucional.

Eu mesmo tenho alertado para o fato de que o movimento dos trabalhadores transita de uma fase de protagonismo para uma fase de resistência, devido às dificuldades; os trabalhadores estão apreensivos.

Mas isso não quer dizer orfandade. A orfandade pressupõe luto e nojo e a resistência exige luta e unidade; eis aí toda a diferença...

O que me preocupa no artigo de Torquato e chego a temer a consequência nefasta de sua leitura é a desorientação que transmite a seus leitores politizados e o descrédito que instila sobre a capacidade de luta dos trabalhadores, do movimento sindical e de seus dirigentes.

 

 

* Por João Guilherme Vargas Netto, consultor sindical

 

 

 

 

 

 

 

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