Dos milhões de brasileiros que vivem nas diversas regiões metropolitanas do país, 5,92 milhões gastam de uma a duas horas para se deslocarem diariamente de casa para o trabalho, em alguma modalidade de transporte coletivo. E outras um milhão de pessoas gastam mais de duas horas para cumprir esse percurso.
São estas sete milhões de pessoas e os seus familiares que certamente mais vão se beneficiar diretamente pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da Modalidade Urbana, recém lançado pela presidente Dilma Rousseff para melhorar o transporte público, com ênfase nas modalidades sobre trilhos e corredores exclusivos para ônibus.
Os investimentos de R$ 32 bilhões, sendo R$ 22 bilhões dos cofres federais e o restante pelos governos estaduais e municipais, serão destinados, na primeira fase, às 12 cidades sede de competições da Copa do Mundo de 2014. No total, o plano é beneficiar 53 milhões de pessoas, em 51 municípios de 18 estados.
O programa do governo federal, pela sua abrangência e significância, tem que ser acompanhado pela sociedade. Sem participação - fiscalizando, cobrando e sugerindo, não haverá solução para este que é um dos grandes dramas nacionais.
Uma situação que se está agravando com extrema velocidade graças à própria melhoria da renda dos brasileiros e acesso ao crédito, viabilizando a aquisição do sonhado automóvel. Nunca se vendeu tanto veículo no mercado nacional, o que está criando um problema insolúvel: não há recursos, tempo ou espaço para construir ruas, avenidas, túneis e viadutos para acomodar todos esses carros, que sequer têm local para estacionar.
Os objetivos iniciais do governo federal são ambiciosos: construir mais de 600 km de corredores exclusivos para ônibus e 380 estações ou terminais, 200 km de linhas de metrô e aquisição de mil veículos sobre trilhos. Os recursos, porém, são visivelmente insuficientes e, aplicados, vão apenas minorar uma situação que demanda planejamento acurado e vultosos investimentos contínuos, por longo tempo.
A orientação correta, aprovada em dezembro pelo Congresso e em vigor desde a segunda metade de abril, é a Lei da Mobilidade Urbana, de cuja aplicação depende o sucesso de qualquer intervenção nesse sentido. Ela define que o transporte coletivo público de boa qualidade, seguro, confortável e acessível (no espaço e no preço) é prioridade nacional, em detrimento do transporte individual privado.
Enquanto toda a sociedade e todos os governos, em todos os níveis, não aderirem com convicção e competência a esse princípio de prioridade total ao transporte coletivo, não haverá solução para o drama das nossas metrópoles. E, quem vai continuar pagando a conta mais alta serão justamente os milhões de brasileiros que dependem desse único meio de transporte para continuarem a produzir as riquezas nacionais.
* Clésio Andrade é senador e presidente da CNT (Confederação Nacional do Transporte)
Imprensa – SEESP
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