A Federação Nacional dos Engenheiros (FNE) lançou em 31 de julho, na sede do SEESP, em São Paulo, mais uma etapa de seu projeto, cuja versão é intitulada “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento – Novos desafios”. A iniciativa, que vem sendo atualizada desde sua apresentação em 2006, propõe uma plataforma ao desenvolvimento sustentável do Brasil com distribuição de renda. A nova versão, além de reiterar a necessidade de prosseguir com os investimentos e projetos em infraestrutura, aponta a urgência de se conter desindustrialização precoce no País e avançar no fortalecimento desse setor estratégico, com inovação e ganhos de produtividade.
Foto: Beatriz Arruda/SEESP
Lançamento do "Cresce Brasil - Novos Desafios"
Comemorando o lançamento, o presidente da FNE, Murilo Celso de Campos Pinheiro, enfatizou que o projeto dos engenheiros inspirou e deu origem ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), anunciado pelo governo federal em 2007 e que já está na segunda fase. Diante dos resultados e dos novos desafios que se apresentam, Pinheiro apontou: “É uma responsabilidade muito grande levar à frente o ‘Cresce Brasil’, que se mostra dinâmico na continuidade em contribuir com a sociedade.” João Guilherme Vargas Netto, consultor sindical da FNE, salientou que a etapa atual da iniciativa da federação insere-se e “quer influir diretamente na disputa eleitoral”. Assim, o documento será entregue aos candidatos neste pleito nacional e estadual. “Nosso material é bom, belo e útil porque mostra a capacidade de trabalho unitário e a democracia em que foi construído.”
Um dos consultores do projeto, Antonio Octaviano – diretor de graduação do Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec), mantido pelo SEESP com o apoio da FNE –, apresentou na oportunidade síntese de um dos temas tratados agora: educação para a inovação. “Procuramos ter como motivação a iniciativa de criação do Isitec. A inovação é fator relevante a uma política de desenvolvimento, assim como a necessidade de adensamento das cadeias produtivas à reindustrialização. Isso é praticamente consensual.” Ele acrescentou que a inovação está vinculada ao aumento da produtividade, que - via maior competitividade das empresas nacionais – é “pré-requisito ao crescimento sustentável”. Educar para a inovação, proposta do Isitec, integra esse contexto.
Para o consultor Marco Aurélio Cabral Pinto, é crucial consolidar avanços, como os ganhos salariais obtidos, e ir além, de modo a assegurar mercado interno e enfrentar os efeitos da crise internacional. Na sua concepção, o investimento em logística e energia, bem como a superação do “atraso histórico” em termos de infraestrutura, integram as saídas que o País deve perseguir. Ademais, para o consultor Antonio Corrêa de Lacerda, para combater as desigualdades de renda e consolidar a geração de emprego, não se pode abrir mão da industrialização. “Temos a oportunidade de retomar regras que permitam o aproveitamento do enorme potencial nacional.” Criticando a visão financista e especulativa, ele observou ainda que o Brasil se tornou “um enorme cassino de lucros fáceis”. “As propostas que estamos consolidando são o início de uma grande virada, espero que muito rapidamente.”
Comunicação, saneamento e transporte
Um dos grandes desafios elencados no “Cresce Brasil” é recuperar setores duramente golpeados num processo de desindustrialização precoce. Entre eles, um dos mais atingidos, na ótica do consultor Marcos Dantas, é o segmento de comunicação. “A indústria eletroeletrônica existente deixou de existir, agora somos apenas montadores de equipamentos. As empresas nacionais desapareceram e a tecnologia que desenvolveram foi transferida ao capital estrangeiro. Tínhamos o setor de automação bancária mais avançado do mundo, hoje não temos mais.” Ele foi categórico: “A iniciativa da FNE é muito importante ao recolocar a engenharia brasileira no centro da formulação de uma política industrial e tecnológica que recupere essa nossa capacidade.” Setor também desmontado e contemplado pelo projeto “Cresce Brasil” é o do transporte ferroviário, que deve ser revitalizado. O tema foi apresentado por Clarice Soraggi, diretora Regional Sudeste da FNE e autora da nota técnica relativa ao assunto.
Assim como essas questões, as soluções para a universalização do saneamento básico se mantêm presentes nesse “Cresce Brasil”. O consultor João Sergio Cordeiro destacou que o “crescimento econômico nacional traz dados positivos, mas também desafios”. Um deles, abordado pelo especialista, diz respeito ao êxodo campo-cidade. Segundo sua informação, “há 40 anos, o País contava 50 milhões de pessoas e metade vivia na área rural. Hoje, são 200 milhões e 85% encontram-se na zona urbana. As soluções passam, em sua grande maioria, pela gestão pública”. Nesse sentido, o trabalho de Cordeiro destaca a importância de os municípios elaborarem seus planos integrados de saneamento, em atendimento ao Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab) e ao marco legal do setor. Para tanto, é preciso fazer frente ao gargalo representado pela ausência de pessoal especializado e estrutura. “Se hoje fossem colocados os cerca de R$ 500 bilhões reais estimados como necessários à universalização do saneamento, não teríamos capacidade técnica tanto em projeto quanto em planejamento e operação para solucionar tal questão.”
O desafio das cidades também foi tratado pelo consultor Luiz Salomão, que frisou: “Se não organizarmos uma política de ocupação do espaço totalmente distinta da atual, vamos observar um aprofundamento das distorções. Falta uma política urbana decente, e o transporte é a ponta do iceberg.” Na sua análise, mudar isso “exige reflexão, planejamento, mecanismos de controle de gestão adequada da infraestrutura para melhorar a qualidade de vida da população”.
Coordenador da consultoria técnica do “Cresce Brasil”, Carlos Monte comentou ainda sobre as propostas na área de energia, que incluem a geração a partir do lixo, da madeira, da cana de açúcar, o carro elétrico e a garantia de eficiência. Afora isso, ele lembrou os avanços obtidos após o início dessa iniciativa, como o anúncio do PAC, a descoberta do pré-sal, a desburocratização e retomada do planejamento portuário, bem como os programas sociais governamentais – como o Bolsa Família, Luz para todos e Minha Casa Minha Vida –, defendendo sua manutenção. “Com a busca incessante por inovação e eficiência, vamos superar o conflito de se ampliar a taxa de juros para combater a inflação, o que na verdade garante ganhos aos banqueiros. O ‘Cresce Brasil’ reflete isso.” Por essa razão, como expressou o coordenador do projeto, Fernando Palmezan, seu lançamento e continuidade é motivo de orgulho para os engenheiros.
Soraya Misleh/Imprensa SEESP