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03/01/2017

Artigo - Dieese, 61 anos

A história é uma construção social tecida também por mãos anônimas e com fios invisíveis. Há infinitos interruptores históricos que, em um clique, liberam ou travam o fluxo de processos sociais.

A primeira metade dos anos 1950 foi de muita mobilização sindical, que culminou, em São Paulo, na grande greve unitária dos 700 mil, de 1954. Nessa luta, os trabalhadores forjaram a solidariedade de classe, materializada no Pacto de Unidade Intersindical (PUI).

Fez muito frio em 1955, mas, na política, o clima era quente, com muitas mudanças, depois do suicídio de Vargas. Em outubro, Juscelino Kubitschek venceu as eleições com a chapa JK/Jango, em uma campanha baseada no desenvolvimentismo e na modernização da indústria nacional. Lacerda, apoiado por militares e parte da grande imprensa, tentou desqualificar e desarticular a vitória de JK com uma falsa carta que, segundo ele, provaria a intenção de Jango para estabelecer um regime sindicalista, inclusive oferecendo armas aos operários. Retardado pelo clique do revólver de Getúlio em 1954, 10 anos depois, o golpe civil militar se materializaria.

Em São Paulo, a ação intersindical se ampliou, fortalecendo a unidade das categorias e formando a base de grandes mobilizações, lutas e greves históricas.

Em novembro, o presidente Café Filho se afastou por problemas cardíacos. Carlos Luz, presidente da Câmara, assumiu e indicou novo ministro da Guerra, no lugar do marechal Lott. Prenunciou-se um golpe. Lott e militares legalistas denunciaram a manobra e afirmaram que resistiriam. Café Filho teve súbita recuperação! Lott desconfiou da manobra e entregou a presidência, em 11 de novembro, a Nereu Ramos, catarinense e presidente do Senado que, em 31 de janeiro de 1956, transmitiu o cargo a JK.

Em dezembro, o clima político fervia, com manobras e movimentos nos bastidores da arena política da Capital Federal, Rio de Janeiro. Em São Paulo, os operários se movimentavam, agitados. O País estava em estado de sítio.

Nesse canteiro histórico, com muita poeira e barulho, em 22 de dezembro de 1955, o Sindicato dos Bancários de São Paulo, na rua São Bento, recebeu 19 dirigentes de entidades sindicais, que criaram ali o Dieese.

Como disse Tenorinho: “O Dieese passou por todo um sistema de preparação. Ele não surgiu de um estalo, não, ele foi fruto de todo um acúmulo de aprendizagem. Fizemos o Pacto de Unidade Intersindical, que começou com cinco Sindicatos: gráficos, metalúrgicos, marceneiros, têxteis e vidreiros... E todas as nossas lutas sindicais encontravam a barreira de como provar que era aquela percentagem que os trabalhadores reivindicavam, não tinha como, não tinha um aferidor. Então surgiu a ideia da gente criar o nosso próprio organismo de levantamento de custo de vida.

Aí eu, como secretário do Pacto; Salvador Romano Lossaco, presidente do Sindicato dos Bancários - aqui eu rendo a minha homenagem, porque sem ele não “tinha” existido o Dieese; Remo Forli, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos - eram os dois maiores Sindicatos na época, os mais combativos eram esses dois. Nós fundamos o Dieese...Foi um negócio muito bonito, uma vitória grande”. (Esse e muitos outros depoimentos estão disponíveis em www.dieese.org.br/
dieesememória).

Há 61 anos, aqueles dirigentes sindicais deram um clique e liberaram o fluxo de energia que não mais parou de fluir. O Dieese nasceu e cresceu assim, nas lutas e na tensão. Nesse tempo, os valores da solidariedade, da justiça, da liberdade e igualdade se materializaram em milhares de números, pesquisas, estudos, cursos, negociações.

Milhares de mãos colocaram, juntas, cada tijolo dessa obra. Hoje, os jovens que continuarão essa construção estão se conectando com essa história.

 

* Clemente Ganz Lúcio é sociólogo, diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e membro do CDES

 

 

 

 

 

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