O que antes era visto como hobby tornou-se um negócio promissor, e tem crescido o mercado das aeronaves não tripuladas, os chamados drones – que em inglês significa zangão ou zumbido. Desenvolvido pela indústria bélica e utilizado desde a Segunda Guerra Mundial, graças à instalação de um câmera digital que permite visualizar a área sobrevoada, o equipamento ganhou inúmeras aplicações.
Profissionais que trabalham no setor relatam que o interesse pelo produto aumentou especialmente nos últimos três anos. É o que atesta Luís Neto, diretor-proprietário da Dronestore, que comercializa no Brasil produtos de fabricantes chineses, como a DJI, que detém 70% do mercado mundial. “Cerca de 90% dos clientes procuram para uso comercial. Os primeiros clientes buscavam para registro de imagens no setor audiovisual. Hoje, profissionais autônomos e empresas fazem inúmeras utilizações”, conta Neto, que observa uma evolução muito rápida dos equipamentos desde 2013, quando montou a loja.
Foto: Beatriz Arruda
Cledio Marino começou criança, com o pai, a pilotar aeromodelos.
Na construção civil, por exemplo, é possível acompanhar obras, gerar ortomosaicos (obtidos a partir de imagens retificadas diferencialmente) para pré-projetos e nuvem de pontos para criar modelos em 3D, com rapidez nunca vista antes: “Com um drone razoável, em 20 minutos, você faz um voo em uma área de quatro quarteirões, coleta as informações que são lançadas posteriormente em um software que faz o processamento.”
Os valores variam de acordo com a tecnologia que vai embarcada no drone. Há opções entre R$ 2.500 e R$ 450 mil. Um equipamento importado com câmera térmica custa entre R$ 50 e R$ 70 mil. Entre os mais baratos recomendados pelos profissionais para iniciar algum trabalho com qualidade e segurança, o valor médio é de R$ 8 mil.
O engenheiro Clédio Marino começou aos oito anos com o pai, pilotando aeromodelos. Há 14 anos, mantém uma equipe de quatro engenheiros na Well Drone, que, além de vender os equipamentos, presta consultoria para empresas e autônomos. “Temos tido muita procura para a agricultura por conta da agilidade. O pequeno e médio agricultor das regiões Sul e Sudeste é quem mais procura”, revela Marino, cujo negócio triplicou de tamanho nos últimos 12 meses. “Tínhamos uma loja pequena de rua e hoje temos uma de 580 metros quadrados.”
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) tem atuado no campo com o desenvolvimento de softwares, desde 1998, para monitoramento da produção, da área, levantar indicadores nutricionais, déficit hídrico, adubagem, controle de pragas e doenças. Mais recentemente, de hardware. “Neste momento, os drones comerciais têm uma limitação no processamento de dados, que são feitos posteriormente. A Embrapa, em parceria com a Qualcomm, desenvolveu um hardware para embarcar no drone e fazer o processamento enquanto realiza o voo”, explica Lucio André de Castro Jorge, responsável pelos projetos com drones da Embrapa Instrumentação, que firma parcerias com fabricantes nacionais para a aquisição de equipamentos.
Castro Jorge estima que existam em torno de dez dessas empresas, uma parte concentrada em São Carlos, no interior paulista, caso da Xmobots, que opera desde 2007 e possui 52 funcionários. “Não somos uma empresa montadora. Temos tecnologia desenvolvida de ponta a ponta, desde software até a parte da fuselagem, asas, catapultas para a decolagem, por uma equipe de 13 engenheiros”, garante a diretora comercial Thatiana Miloso. Uma das vantagens de adquirir um produto nacional é a manutenção. Apesar da desaceleração da economia em 2016, a empresa cresceu 70% em relação ao ano anterior.
Regulamentação
A questão pendente quanto aos drones, conforme relatam profissionais, é a ausência de legislação que regulamente o seu uso. “É o principal impeditivo para a expansão do mercado hoje”, diz o pesquisador da Embrapa. A diretora comercial da Xmobots vai além: “A regulamentação tem que sair. As pessoas estão voando sem nenhuma autorização, sem nenhuma reserva de espaço aéreo. Isso é muito grave. Se acontecer um acidente de um Vant (veículo aéreo não tripulado) com uma aeronave com passageiros, por exemplo, pode gerar uma tragédia gigantesca e parar o setor.”
De acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), as aeronaves não tripuladas são divididas em: autônomas (voo previamente programado, não permite intervenção externa), proibidas no Brasil; remotamente pilotadas (RPA, sigla para Remotely Piloted Aircraft System, termo técnico utilizado internacionalmente pela Organização da Aviação Civil Internacional, Oaci), utilizadas com propósitos não recreativos; e aeromodelos, utilizados para lazer em áreas específicas. Há ainda a definição de Vant, que, apesar de ser considerado obsoleto pela Oaci, tem sido usado para se referir a equipamentos mais robustos, com caráter comercial.
Atualmente, as únicas regras que existem foram emitidas pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), responsável por prover, regular e fiscalizar o acesso ao espaço aéreo; e pela Anac, que regula, fiscaliza e emite uma certificação para o drone e para o piloto. Antes disso, o primeiro passo após aquisição é homologar seu equipamento na Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), responsável por administrar e fiscalizar o uso das radiofrequências utilizadas para o controle e operação das aeronaves. Mesmo que o local de venda afirme já ter a homologação, o comprador deve fazer uma nova em seu nome.
Deborah Moreira
Matéria publicada no jornal Engenheiro, da FNE, nº 176, de janeiro de 2017