Equipes do Centro de Tecnologias Geoambientais do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), do Instituto de Geociências da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da EGS Brasil – Soluções em Geociências Marinhas realizaram um levantamento geofísico em um trecho do canal que separa a Ilha Grande do continente, no município de Angra dos Reis (RJ), a fim de subsidiar um projeto de enterramento de cabo elétrico submarino. Os resultados positivos alcançados pelas equipes permitiram que o novo cabo com fibra óptica integrada, de 4,8 quilômetros de comprimento ligando a Ponte do Gambelo à Ponta do Funil, fosse instalado com sucesso.
Os profissionais das três instituições executaram o levantamento usando o método de perfilagem sísmica contínua empregando fontes acústicas dos tipos chirp, boomer e sparker, em atendimento a uma solicitação da Lestcon, empresa especializada em enterramentos submarinos. A perfilagem foi feita utilizando o sistema Meridata, que permite a aquisição simultânea de dados multifrequenciais e, consequentemente, uma abordagem da investigação sob o ponto de vista de resolução e de penetração, simultaneamente, e em tempo real.
A ferramenta se baseia no princípio físico de reflexão das ondas acústicas e constitui-se em um dos métodos geofísicos mais importantes na investigação rasa de áreas submersas, explorando a resistência de propagação das ondas acústicas dos diferentes meios físicos subjacentes à superfície de fundo.
Cabos de energia ou de comunicação, e até mesmo dutos, precisam ser dimensionados e adaptados em função do ambiente em que serão implantados, explica o chefe do departamento técnico da EGS Brasil, César Félix: “O cabo deverá receber uma armadura extra se uma determinada área na rota de seu lançamento for rochosa e não puder ser evitada.” No caso dos cabos costeiros ou de áreas rasas, as intervenções humanas são comuns, das quais a mais preocupante é a pesca – e soma-se a isso a restrição de enterrar os cabos em áreas rochosas pela impossibilidade de escavação, o que leva à necessidade de escolha por áreas de ocorrência de sedimentos. “Para isso, é necessário conhecer o contexto geológico e as possíveis obstruções na área, como declives e até mesmo a existência de outros cabos, para tornar viável o projeto”, diz ele.
Até então na região, cabos elétricos estavam instalados na superfície de fundo, mas não enterrados, o que causava uma série de interrupções no fornecimento de energia para a região insular, explica o pesquisador do IPT Luiz Antonio Pereira de Souza: “Esses problemas eram consequência do rompimento dos cabos, principalmente por conta da passagem de embarcações que desrespeitavam as normas existentes de navegação”.
Levantamento completo
Para a coleta das informações, os pesquisadores lançaram mão de fontes do tipo chirp, que utilizam espectros de frequência mais apropriados (entre 2 e 20 kHz) para a investigação rasa, pois priorizam a resolução e possuem, potencialmente, a capacidade de detectar espessuras centimétricas de sedimentos.
As equipes também fizeram uso de fontes do tipo boomer e sparker, que empregam frequências abaixo de 2 kHz e oferecem alto poder de penetração na coluna sedimentar, alcançando dezenas de metros de profundidade.
“O principal diferencial do trabalho foi o uso sincronizado de três fontes acústicas. O IPT é hoje uma das poucas instituições no País com capacidade para operar os três sistemas simultaneamente”, afirma Souza. “A previsão original era usar somente o chirp de baixa frequência, que poderia fornecer o resultado necessário porque é uma fonte que permite penetrar alguns metros na coluna sedimentar, o que seria suficiente para o projeto. No entanto, a opção pelo uso das outras fontes acabou por apontar uma série de informações interessantes, não previstas inicialmente no projeto”.
Com o chirp de alta resolução, os pesquisadores conseguiram melhor classificar o material da coluna sedimentar rasa, e com as fontes boomer e sparker eles realizaram o pleno mapeamento do topo do embasamento rochoso na área, tornando possível prever os trechos onde eventualmente podem ocorrer afloramentos rochosos na superfície do fundo, que são os setores a evitar ao estabelecer a rota de lançamento dos cabos.
Paralelamente, foram também executados levantamentos com o sonar de varredura lateral e com sistema multifeixe, além da coleta de amostras de fundo, ensaios estes que ficaram sob a responsabilidade da EGS.
“Levantamentos geofísicos para subsidiar a instalação de cabos de telecomunicações são frequentes, mas de cabos elétricos entre continente e ilhas são mais raros. Encontramos pelo menos quatro cabos que jaziam sobre o fundo sem nenhum controle, ou seja, qualquer embarcação poderia provocar um rompimento e deixar a ilha inteira sem energia”, explica Félix, que ressalta ainda o fato de o projeto ter contado com uma prática pouco aplicada até mesmo no exterior, que é um post-lay survey: “Após o enterramento do cabo, uma equipe se dirigiu até a área e levantou dados batimétricos para avaliar as mudanças no fundo. Além disso, foram coletados dados de sísmica ressonante, para comprovar a cota de enterramento do cabo."
Comunicação SEESP
Notícia do IPT