João Guilherme Vargas Netto*
A cada dia sua aflição. Hoje, terça-feira (21), o grande desafio para o movimento sindical é barrar a pressa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em votar o projeto de terceirização, rompendo os acordos solenes com as direções sindicais que já haviam impedido a votação intempestiva no início do mês.
Qual a explicação para a “nova” pressa de Rodrigo Maia? Ela é dupla. Rodrigo Maia, como também todos os defensores das reformas pretendidas pelo governo, tem medo dos efeitos da vitória de nossa unidade e mobilização no dia 15 de março, que semeou confusão e pânico nas cúpulas situacionistas, levando-as a modificar os cronogramas para as discussões e votações das reformas. E, como consequência, pretende “testar” o alinhamento e a fidelidade dos deputados da base governista às determinações do mercado para aprovar o monstro.
O resultado será um só: se aprovado hoje esse projeto de terceirização, legalizar-se-á nas relações do trabalho no Brasil aquilo que o senador Romero Jucá (PMDB-RR) chamaria de suruba, ou seja, a precarização, a informalidade, a desorganização e a própria criminalidade (tome-se, por exemplo, a constatação do vínculo entre terceirização e trabalho escravo).
O projeto corresponde no mundo do trabalho a um projeto que na vida partidária legalizaria o caixa 2 e anistiaria os políticos criminosos.
Aprovado esse projeto, que o jornal Valor qualifica de “terceirização indiscriminada”, nem mais seria necessária uma reforma trabalhista, porque a desorganização nas relações do trabalho e na representação sindical seria já estruturante, passasse o paradoxo.
As direções sindicais e os ativistas, também às pressas, dirigem-se a Brasília para o Congresso Nacional, onde pretendem impedir o desvario apressado do presidente da Câmara.
Elas o fazem fortalecidas pela vitória das manifestações do dia 15, merecedora da orgulhosa e afirmativa matéria paga publicada pelas centrais sindicais nos principais jornais.
Compreendem também que para a ação sindical consequente, coerente, unitária e efetiva, não há luta vencida definitivamente, não há vitória final, e a resistência é processo permanente.
O fundamental é estar sintonizado com as expectativas das bases e fazer todo o possível para, perante elas e perante a sociedade (e os políticos), demonstrar a relevância do movimento sindical.
João Guilherme Vargas Netto é analista político e consultor sindical