Soraya Misleh-Comunicação SEESP
Quinze por cento das 1.100 mortes em 2017 decorrentes de acidentes de trabalho foram ocasionadas por quedas. O dado foi apresentado em seminário sobre a Campanha Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho (Canpat 2018) pelo auditor-fiscal do trabalho Gianfranco Pampalon, coordenador da Comissão Nacional Tripartite Temática (CNTT) da Norma Regulamentadora (NR) 35, relativa a trabalho em altura. Aberto oficialmente pelo superintendente Regional do Trabalho de São Paulo, Eduardo Anastasi, o evento ocorreu em 26 de abril, no auditório do SEESP, na Capital. No dia 28, comemoraram-se o Dia Mundial da Saúde e Segurança do Trabalho e o Dia Nacional em Memória das Vítimas do Trabalho.
A atividade inseriu-se nas iniciativas da campanha lançada oficialmente no dia 4 do mesmo mês pela Superintendência Regional do Trabalho de São Paulo (SRT-SP). Como explicou a chefe da seção de Segurança e Saúde no Trabalho, Renata Matsumoto, em 2018, um dos focos é o trabalho em altura. O outro são doenças ocupacionais. O presidente do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) – 2ª Região, Wilson Fernandes, saudou a realização da atividade na sede de entidade sindical. “Isso mostra o quanto essa parceria é importante. O problema é muito sério e somente teremos resultados práticos se atuarmos juntos e diuturnamente.” Nesse sentido, Murilo Pinheiro, presidente do SEESP e da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), lembrou que no sindicato iniciaram-se as discussões sobre a NR-35, relativa a trabalho em altura, “que já vem dando resultado e empresas e governos devem atentar”. Ele ressaltou: “É preciso levar em conta a vida e a saúde do trabalhador. O engenheiro, quando faz uma obra, sempre pensa nessa questão.”
O Brasil ainda tem muito a avançar, e a Engenharia de Segurança do Trabalho é fundamental nesse processo. O País se situa, conforme lembrou Leonice da Paz, presidente da Fundação Jorge Duprat e Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro), em quarto lugar entre os em que ocorrem mais acidentes de trabalho. Ainda de acordo com ela, entre os casos notificados, são cerca de 700 mil anualmente. Em função disso, as perdas econômicas se aproximam de 40% do Produto Interno Bruto (PIB), o equivalente a R$ 200 bilhões/ano. Um dos fatores que contribuem nessa direção, segundo Fernandes, é o alto índice de desemprego, “que tira a tranquilidade e interfere nos riscos inerentes à execução de algum trabalho”.
“Guerra civil”
Para Marcos Antonio de Almeida Ribeiro (Marquinhos), presidente do Sindicato dos Técnicos de Segurança do Trabalho no Estado de São Paulo (Sintesp), além dos trabalhadores e suas chefias, a campanha precisa ser estendida à classe empresarial, “que tem poder de mando”. “Para cada acidente notificado, sete não o são, o que totaliza quase 5 milhões. É uma guerra civil, não se investe em segurança e saúde do trabalho. Pelo contrário, estão acabando com o Ministério do Trabalho e a Fundacentro. Hoje há somente 2.350 auditores-fiscais, vai levar 40 anos para que voltem numa mesma empresa, não há fiscalização. A vida do trabalhador não é prioridade. A categoria prevencionista precisa se unir (para mudar este quadro)”, desabafou. Na ótica de Cleonice Caetano, diretora-secretária de Saúde e Segurança no Trabalho da União Geral dos Trabalhadores (UGT), o movimento sindical como um todo tem que manter essa luta. Ela lembrou ainda que é mister formar novos quadros para atuar nessa área, uma vez que “muitos profissionais estão se aposentando”.
Vice-presidente de Relações Capital-Trabalho e Responsabilidade Social do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP) e presidente do Serviço Social da Construção (Seconci-SP), Haruo Ishikawa, por sua vez, elogiou a campanha como “a melhor ferramenta num país sem equilíbrio”. A Canpat, como informou Matsumoto, se estenderá por um ano. Além de jogar luz sobre a questão, a iniciativa visa a melhoria das parcerias e articulações para a prevenção. “É preciso fazer gestão de segurança e saúde do trabalho de fato”, concluiu.