Neste ano, o Dia do Trabalhador – 1º de maio – foi marcado por uma tragédia que reacende alerta sobre a gravíssima exclusão social em São Paulo e no Brasil, a qual tem entre suas implicações o desrespeito ao direito à moradia digna: o incêndio e desabamento do Edifício Wilton Paes de Almeida, no Largo do Paissandu, no Centro da Capital. Pertencente à União e abandonado há 17 anos, servia como teto há centenas de famílias sem casa, cuja única alternativa foi ocupar o prédio público e viver em condições precárias.
Essa realidade que afeta milhões de cidadãos no País precisa ser transformada urgentemente, como o SEESP alerta há tempos. Em todo o território nacional, dados oficiais apontam déficit habitacional de mais de 7 milhões de moradias, que poderia ser mitigado sobremaneira com a reforma e adequação dos imóveis vazios. São Paulo não é exceção à regra. Segundo frisa o diretor do sindicato, Carlos Augusto Ramos Kirchner, “a discussão é antiga, existe tanto em nível nacional como local. Há muitos prédios vazios no centro que estão preparados para moradia e têm a condição adequada. Tem muita coisa a se aproveitar em São Paulo nesse sentido, em vez de fazer moradia em lugares remotos. Uma vistoria em todos os prédios é necessária. Isso no curto prazo. A principal ação é a criação de oportunidades para as pessoas morarem. No Sindicato dos Engenheiros, sempre entendemos que ao investir na restauração e reformas teríamos extrema vantagem financeira”.
Ele salienta que pode contribuir para mudar o quadro atual a implementação efetiva das leis federal e estadual de assistência técnica pública e gratuita à baixa renda. Assim, seria possível contar com engenharia pública na reforma dos imóveis vazios e melhoria dos usados – o que é propugnado pela Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), à qual o SEESP é filiado, em seu projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento – Cidades”. Com isso, os padrões exigidos ao direito humano à moradia estariam garantidos. “A questão constitucional dos prédios que não cumprem sua função social não é bem administrada”, pontua Kirchner. E completa: “É preciso política pública para promover a moradia e a inclusão social. Mesmo o Minha Casa Minha Vida sempre considera unidades novas, por isso tivemos muita inflação no auge do financiamento desse programa e do mercado da construção civil, jogando moradias para locais distantes. Há cidades que mesmo timidamente já aproveitaram imóveis abandonados, sem IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) em dia etc.. Existem diversas opções na política habitacional. Dá para fazer mais ações com menos dinheiro do que aquele gasto em construção de novos imóveis, que inflacionam ainda mais o mercado”, conclui Kirchner.
No caso da construção personalizada e com acompanhamento de profissional qualificado, exemplo bem-sucedido é o Programa de Moradia Econômica (Promore), que já assegurou atendimento a milhares de famílias. Instituído pelo SEESP em 1988 inicialmente em Bauru, foi implementado depois em diversos outros municípios do Interior do Estado em que o sindicato tem delegacias, em convênio com as prefeituras.
Soraya Misleh-Comunicação SEESP, com trechos da entrevista concedida pelo engenheiro Carlos Kirchner ao Correio da Cidadania (confira matéria).