Murilo Pinheiro*
Há muito que se vencer em termos de gargalos na infraestrutura urbana e de produção no Brasil, mas é preciso garantir a manutenção do que existe
Ainda sem conhecer as conclusões sobre a tragédia emblemática ocorrida em Brumadinho (MG), em 25 de janeiro último, quando uma barragem da Vale S.A. se rompeu, causando destruição e mortes, os brasileiros seguem convivendo com episódios que denotam precariedade e insegurança na infraestrutura urbana e de produção no País. Em 29 de março, uma barragem se rompeu em Machadinho D’Oeste (RO). No dia 6 de abril, ocorreu a queda de parte da ponte da Alça Viária sobre o rio Moju, no interior do Pará. O período de chuvas tem causado graves estragos e feito vítimas em São Paulo, no Rio de Janeiro e em locais do Nordeste. Já, em 15 de novembro de 2018, os paulistanos haviam sido surpreendidos pelo colapso de um viaduto da via expressa da Marginal Pinheiros que cedeu cerca de 2 metros enquanto automóveis trafegavam por ele. Em 23 de janeiro, foi interditada, devido ao risco de ceder, a ponte da Marginal Tietê que dá acesso à Rodovia Presidente Dutra. Em 1º de maio de 2018, no centro da capital paulista, um edifício desabou após um incêndio.
Esses são alguns dos eventos que revelam uma realidade dramática: em toda parte, há risco constante. É mais que urgente alterar esse cenário absolutamente inaceitável, e a grande contribuição para tanto pode e deve vir da engenharia nacional. Com esse norte, no dia 16 de abril, o Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (SEESP) realiza o seminário “Pontes, viadutos, barragens e a conservação das cidades – Engenharia de manutenção para garantir segurança e qualidade de vida”. O objetivo é fazer um diagnóstico da situação vivida no País e, em especial, no Estado de São Paulo, e propor medidas concretas para superá-la.
Entre os pontos a serem colocados em discussão na ocasião, está nossa proposta de que as administrações nos níveis municipal, estadual e federal instituam um órgão com dotação orçamentária e corpo técnico qualificado para ser responsável por inspeção e conservação regulares nas estruturas de responsabilidade do poder público. Entra aqui a engenharia de manutenção, que nada tem de menor, embora comumente seja assim tratada por muitos gestores.
É preciso ter-se a consciência de que assegurar a correta conservação de obras e estruturas não permite improvisos; exige coleta e análise de dados com precisão, planejamento e execução qualificada. Portanto, a tarefa deve contar com o protagonismo dos profissionais da área tecnológica, que, por sua vez, precisam estar atentos a tal responsabilidade.
O SEESP, juntamente com a Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), desde 2006, tem trabalhado o projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”, que aponta caminhos para a expansão econômica sustentável do País. É importante notar que esse esforço implica necessariamente mais manutenção qualificada, consequente e regular. Há muito que se vencer em termos de gargalos na infraestrutura urbana e de produção, mas é preciso que sejamos capazes de garantir a conservação e aprimoramento do que existe. Não se pode deixar o País relegado ao abandono e ao descaso.
*presidente do SEESP.