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18/03/2020

A engenheira brasileira que foi revisora voluntária do Google Maps

A engenheira cartógrafa Arlete Meneguette tem uma trajetória que vai da sala de aula a principal colaboradora voluntária do Google Maps, no Brasil.

 

Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia

 

Os pais Altino e Apparecida sempre estimularam as filhas Arlete, Arlene e Anete a serem protagonistas das suas próprias vidas. A primogênita Arlete Meneguette, hoje aos 60 anos, assevera que aproveitou bem o ensinamento familiar que incluía, ainda, “resolver problemas e implementar soluções colocando as pessoas em primeiro lugar”. Ela avalia: “Poderia ter escolhido qualquer profissão, mas me senti desafiada a prestar vestibular para Engenharia Cartográfica, logo após ter concluído o curso de magistério.” Numa trajetória ativa que vai de professora de universidade pública a revisora do Google Maps, Arlete nos mostra que o desafio foi bem-sucedido.

 

600 Arlete foto 1Da esq. para a dir., Anete, Arlete, os pais Altino e Apparecida, e Arlene. Crédito: Arquivo pessoal.
Tudo começou quando ela prestou vestibular e foi aprovada para a primeira turma do curso de Engenharia Cartográfica na Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Presidente Prudente, em 1977. A turma tinha 15 homens e cinco mulheres. “Quando finalizamos a graduação, depois de cinco anos, éramos 13: nove homens e quatro mulheres. Fui uma dessas pioneiras em um ambiente predominantemente masculino e, às vezes, preconceituoso. Foi preciso ter muita resiliência”, recorda.

 

Assim que se graduou, em 1982, Arlete arrumou as malas e foi para a Inglaterra, onde residiu por cinco anos e obteve PhD em Fotogrametria pela University College London, em 1987. “Ao retornar ao Brasil fui contratada pela Unesp de Presidente Prudente, onde atuei como docente e pesquisadora por mais de 30 anos.”

 

O que é fotogrametria
“É a ciência e a tecnologia voltadas à obtenção de medições tridimensionais confiáveis a

partir de imagens para aplicações em mapeamento, engenharia,

registro de patrimônio histórico-cultural, análise forense, robótica,

sistemas de assistência à navegação veicular, bem como aplicações médicas,

jogos em computador e outros campos", explica Arlete.

 

No Departamento de Cartografia da Unesp, Arlete desenvolveu projetos voltados à geocolaboração, integrando ensino, pesquisa e extensão universitária, envolvendo docentes, estudantes e sociedade civil organizada. A geocolaboração, descreve, constitui uma estratégia que permite a geração de dados por parte de mapeadores voluntários, que utilizam navegadores GPS, sensores móveis (smartphones, tablets etc.) e plataformas de mapeamento na web. “O advento das novas tecnologias de informação e comunicação [TICs] favoreceu a democratização de acesso ao cidadão comum que agora pode não somente se beneficiar de recursos, tais como a geolocalização, mas também contribuir com seu conhecimento local, por meio do mapeamento colaborativo.”

 

Vida com o Google
A atuação de Arlete em educação cartográfica se tornou ainda maior quando passou a contribuir no Fórum de Ajuda do Google Maps e ao ser convidada para ser revisora especialista do Google Map Maker. “Foi um privilégio atuar como principal colaboradora e mentora do Google Maps para língua portuguesa”, orgulha-se. Com essa nova atuação, Arlete conheceu vários escritórios do Google pelo mundo, conviveu com os googlers [funcionários do buscador] e aprendeu muito com outros colaboradores.

 

600 Arlete foto 3Arlete no Googleplex, em Mountain View, Califórnia, EUA. Crédito: Arquivo pessoal.

 

O Google Map Maker, explana, permitia ao cidadão cartógrafo adicionar, editar e excluir informações tais como pontos de interesse turístico, edificações, sistema viário, recursos hídricos, vegetação etc.. Todavia, observa ela, as informações nem sempre passavam pelos critérios automatizados e precisavam ser avaliadas por especialistas em mapeamento. “Eu era uma das especialistas no Brasil que revisava o que era feito por outros mapeadores voluntários, aprovando ou não os elementos mapeados. Minha missão era principalmente a de educar cartograficamente os usuários para que pudessem contribuir de acordo com critérios de qualidade geométrica e semântica, com ética e respeito à privacidade.”

 

Com a desativação do Google Map Maker, Arlete passou a contribuir no Google Local Guides, embora não sejam oferecidos os mesmos recursos para mapeamento. Os tutoriais escritos por ela continuam disponíveis para visualização e download em https://unesp.academia.edu/arletemeneguette

 

Líder do Grupo de Educadores Google
Arlete acredita que a melhor inspiração para educadores são outros educadores. Por isso, ela faz parte dos Grupos de Educadores Google (GEG), que são organizados por voluntários locais e totalmente independentes do Google enquanto corporação. “O GEG Presidente Prudente, ativo desde 2014, é formado por uma comunidade interessada em empregar novas tecnologias de informação e comunicação no processo ensino-aprendizagem-avaliação.”

 

Toda essa trajetória profissional, Arlete faz questão de ressaltar, elogiar e identificar por nome, foi "escrita" junto com a chegada dos quatro filhos. “Quando nasceu meu primeiro filho, o Thiago, me graduei em engenharia cartográfica; quando nasceu o Lucas, defendi meu PhD em Fotogrametria; no nascimento do Matheus, finalizei a Licenciatura Plena, e no do meu quarto filho, o Samuel, defendi a Livre-docência em Cartografia.” Arlete faz um agradecimento especial ao esposo Messias Junior – o casal está junto há 40 anos. “Com o apoio da minha família, consegui conciliar plenamente a vida pessoal com a profissional.” Ela acrescenta: “Isso tudo demonstra que uma mulher empoderada pode ser uma pessoa feliz e uma profissional bem-sucedida.”

 

600 Arlete foto 2Arlete e o marido Messias Junior, ladeados pelos filhos e noras. Crédito: Arquivo pessoal.

 

EDUpreendedora
Arlete se aposentou, em 2018, do Departamento de Cartografia, mas continuou na lida, desta vez como professora voluntária no Departamento de Matemática e Computação da Unesp, onde desenvolveu ações voltadas ao empoderamento digital de educadores e estudantes. “Ofereci oficinas imersivas online compostas por diversas trilhas de aprendizagem, utilizando o G Suite for Education.”

 

Nossa entrevistada informa que, com os recursos obtidos com taxas de inscrição, adquiriu e doou chromebooks [notebook concebido pelo Google] e material didático impresso em 3D para o Laboratório Didático de Matemática da mesma instituição. Por ter oferecido capacitação aos servidores técnico-administrativos da Unesp, o campus de Presidente Prudente, orgulha-se Arlete, recebeu da reitoria da universidade alguns computadores que foram alocados para uso didático.

 

290 Arlete foto 4Encerrado o período como docente voluntária e tendo atuado, por muitos anos, como mentora em metodologias ativas de ensino-aprendizagem, Arlete fez transição de carreira e se tornou uma microempreendedora individual (MEI), na categoria professora particular, modalidade online, atuando em design de Experiência de Aprendizagem. “Agora sou uma EDUpreendedora, com CNPJ. Estou me reinventando. Sou uma jovem senhora, vivo em sintonia com meu propósito de vida, contribuindo e inspirando outros educadores.”

 

Livros, música, cozinha e ikigai
Arlete conjuga todas as tarefas profissionais e pessoais junto com a paixão por livros – lê um ou dois por mês – de assuntos diversos para “ampliar minha cultura geral e estar sempre atualizada”. Nossa engenheira adora música, inclusive se formou professora de piano clássico, além de cozinhar e criar suas próprias receitas e de viajar – conhece muitos países em quase todos os continentes.

 

Mas isso ainda não é tudo: “O que mais gosto é de dialogar com as pessoas, conhecer suas histórias de vida, saber o que pensam e sentem, o que desejam ser, fazer e ter para que a vida seja ainda mais plena e significativa. Meu ikigai [palavra japonesa que significa “razão de viver”] é: 'Aprender com paixão, ensinar de forma inovadora, educar para a autonomia e mentorar com propósito'."

 

 

 

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