Novas construções serão grandes e demandarão engenheiros bem qualificados.
Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia
O engenheiro eletricista Eduardo Mendes, em 1992, fundou a Mendes Holler, empresa inicialmente com foco em instalações elétricas e automação. Passadas quase três décadas, o empreendimento se tornou líder na construção de data centers. Acostumado, portanto, a fazer projeções, Mendes acredita que a pandemia vai impactar a infraestrutura do futuro e que em tal cenário os profissionais de engenharia ganharão ainda mais relevância e destaque.
“Seguramente haverá uma grande mudança no mercado de trabalho em geral, incluindo o de engenharia, uma vez que o isolamento e os novos hábitos trazidos pela contenção da Covid-19 mudaram e mudarão ainda mais a forma de trabalhar, se relacionar e viver”, avalia. Para ele, infelizmente, a sociedade precisará se acostumar a conviver com essa doença e a se prevenir caso haja outra epidemia no futuro. “Essa pandemia já trouxe suas cicatrizes, o mundo não será o mesmo, e as mudanças de hábitos da sociedade certamente impactarão na infraestrutura do futuro.”
Um dos impactos imediatos foi a utilização do home office de forma emergencial e em grande escala. “Esse simples fato tem uma cadeia de implicações diretas e indiretas”, observa. E discorre: “No trabalho remoto, para acessarem as informações corporativas e rodar os sistemas de forma distribuída, as empresas demandam computação na nuvem, que requer internet e data centers para rodar seus complexos logaritmos, que necessitam de grupos geradores, máquinas de ar-condicionado, eletricidade, instalações, projetos e muitas outras demandas de produtos e serviços que requerem especializados e experientes engenheiros para executá-los.”
Da mesma forma, a cultura de home office tende a aumentar a ociosidade de imóveis comerciais. “Esse movimento acarretará adaptações dos projetos comerciais à nova realidade, que por sua vez exigirão projetos e adequações de sua infraestrutura. Podemos ainda extrapolar que ao poder trabalhar em casa, mais profissionais buscarão imóveis de maior área e menor custo fora dos grandes centros. Esse movimento também implicará a construção de outros espaços, como centros de compra e outros, e assim por diante. Enfim, na minha opinião, a demanda de engenheiros bem qualificados seguirá aumentando.”
A reindustrialização para que o País consiga ter produção em escala e deixe de ser apenas importador de produtos de maior valor agregado é outra realidade que se impõe para que a economia brasileira consiga se recuperar da crise criada pela pandemia e “abriria um forte espaço para todas as disciplinas da engenharia”. Ele exemplifica: “O Brasil tem importantes empresas e centros de pesquisa da indústria farmacêutica e seguramente pode desempenhar um papel ainda mais relevante no plano global.”
Para Mendes, é ainda difícil estimar todos os impactos nas diversas indústrias brasileiras, mas adianta que “o País precisa investir em produtos com maior valor agregado que tenham escala para diluir seu custo de investimento em pesquisa e desenvolvimento [P&D]”. Um horizonte importante, acredita ele, é a indústria alimentícia nacional, “que terá um grande papel a desempenhar neste momento de crise e pós-crise, com uma grande oportunidade de abastecer o mundo”. Nesse sentido, indica que a verticalização da cadeia de produção alimentícia, com novas fábricas beneficiando a indústria de base, fornecendo produtos prontos para consumo aos mercados brasileiro e mundial, poderá ser uma tendência, “reduzindo, ainda, o risco logístico impactado por barreiras sanitárias e gerando valor agregado em curto prazo”.
Clichê verdadeiro
“Toda crise traz oportunidades. Por mais clichê que seja, essa frase é verdadeira. Certamente a recuperação econômica será dura e toda adaptação é difícil, mas há sim oportunidades. É preciso se reinventar e se reposicionar”, argumenta o engenheiro, para quem a crise está afetando todos os países do mundo, o que o leva a avaliar que “haverá um esforço coletivo para acelerar a economia. Não restam dúvidas que vivemos num momento de solidariedade em que abrimos mão do nosso direito de ir e vir em prol de desconhecidos, e acredito que na economia não será diferente”.
Por isso, defende que “teremos que trabalhar em conjunto, como empresa, engenheiros, empreendedores e sociedade para se adaptar à nova realidade. Tenho certeza que sairemos dessa mais fortes e resilientes do que antes, aumentando inclusive nossa importância no mercado mundial”.