Com isso, a tendência é também buscar profissionais com esse perfil de postura e ações sustentáveis.
Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia
A pandemia nos fez ver quão frágeis são nossos sistemas vitais. A observação é do professor José Roberto Cardoso, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) e coordenador do Conselho Tecnológico do Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (SEESP), para quem “um vírus, que aparece de repente, põe abaixo a economia, a saúde pública e todo nosso "modo de vida" de forma nunca vista”.
Crédito: Jeyaratnam Caniceus/Pixabay.
Com a crise mundial na saúde pública, a palavra sustentabilidade ganha ainda mais relevância e protagonismo. Junto com ela, os diversos modos de fazer, trabalhar, de produção, de se locomover, tudo deverá passar por filtros aderentes às práticas ambientais sustentáveis, economicamente viáveis e socialmente justas. Na esteira dessa mudança, as empresas também passarão por alterações e buscarão os chamados profissionais com perfil mais aderente à concepção sustentável que vá além de trocar copos de plástico por material reciclável.
Carolina Cabral, da Robert Half. Crédito: Divulgação.Carolina Cabral, gerente sênior de Recrutamento da Robert Half, reforça essa previsão, afirmando que “o campo da sustentabilidade tem ganhado cada vez mais aliados no mundo corporativo e a pandemia servirá, sem dúvida, como reforço da importância do investimento em profissionais capacitados nesta área”. Todavia, observa, ainda é cedo para dizer se no momento pós-pandemia surgirão novos campos, mas com certeza as áreas de atuação que estão na ativa hoje em dia serão ampliadas. “A reestruturação da economia global pedirá o olhar desta área, sem dúvida”, assevera.
O professor Cardoso não tem dúvida que “nosso modo errado de enxergar o mundo ao analisar isoladamente apenas suas partes, como se fossem independentes, é a grande lição que o ser humano, dolorosamente, aprendeu”. Por isso, ensina que “agora entendemos que tudo está interligado, de modo que a operação indevida de uma parte impacta em todo o sistema. Creio que aquilo que chamamos de "visão sistêmica" será o que faremos no dia a dia daqui para a frente”, acredita.
As áreas que mais estão sendo impactadas pela pandemia são as de saúde, e-commerce para bens duráveis e não duráveis, tecnologia e logística, “elas já apresentam aumento de demanda para esses profissionais capacitados”, diz Cabral, com essa visão mais sustentável. O profissional considerado sustentável tem uma imagem positiva no mercado de trabalho, pois é considerado bem informado, comprometido e com iniciativa. “É uma pessoa que tem maior capacidade de adaptação em situações adversas, que esteja alinhado com as necessidades atuais do mercado, bem como disposto a investir em conhecimento”, indica Cabral.
Recentemente, por ocasião da celebração do Dia da Terra, em 22 de abril, o LinkedIn divulgou um levantamento sobre as 20 cidades com mais profissionais na área de sustentabilidade, com base em dados do cenário anterior à Covid-19 – a análise foi realizada em dezembro de 2019. De acordo com o estudo, São Paulo ocupa a 15ª posição do ranking mundial, sendo a única representante da América Latina. A lista ainda é composta por nove cidades europeias, quatro australianas, três estadunidenses, duas canadenses e uma da Nova Zelândia.
A habilidade principal que mais cresce entre os profissionais de sustentabilidade em todo o mundo é a Análise de Dados, com um crescimento de 18% em relação a 2018. Outras habilidades específicas de sustentabilidade que mostraram forte crescimento incluem economia circular, sustentabilidade corporativa e monitoramento ambiental.
A gerente sênior da Robert Half, Carolina Cabral, acredita que a pandemia poderá impulsionar o crescimento de startups com foco na sustentabilidade, o que demandará profissionais também da área técnica. “A metodologia utilizada em startups está em alta e as áreas que hoje estão sendo mais solicitadas devem trazer novas perspectivas e aprendizados pós-pandemia. De qualquer maneira, o aquecimento de vagas foi retomado pouco tempo depois do início da pandemia, o que significa que houve uma rápida adaptação das empresas ao ambiente digital, seja na aplicação do formato de trabalho remoto ou na contratação online.”
Marcello Nitz, do IMT. Crédito: Divulgação.Nessa linha das inovações sustentáveis que serão ainda mais necessárias daqui para a frente e com um sistema de conexões entre profissionais e atividades econômicas, o Pró-Reitor Acadêmico do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), Marcello Nitz, destaca que “o profissional da engenharia deverá ser cada vez mais capaz de fazer as ligações corretas para promover a inovação”. Ele lembra que os desafios trazidos pela pandemia mostraram a necessidade de se colaborar e conectar para a solução dos problemas, foi o caso do “projeto bem sucedido de ventiladores mecânicos desenvolvidos na Mauá que, além da competência técnica para se construir o aparelho, foi necessário ativar muitas conexões, com profissionais da saúde, da indústria entre outros”.