Carlos Magno Corrêa Dias*
Em 15 de agosto de 1946 os americanos John Adam Presper Eckert Júnior (1919-1995) e John William Mauchly (1907-1980) apresentavam ao mundo o Eniac (Electronic Numerical Integrator Analyzer and Computer, em português: Computador Integrador Numérico Eletrônico) o qual é considerado o primeiro computador digital eletrônico programável, de propósito geral, e de grande escala da história dos computadores.
Marlyn Wescoff [left] and Ruth Lichterman estão entre as primeiras mulheres programadoras do Eniac./ Fotos: Computer History Museum
Computadores mecânicos ou eletromecânicos já existiam desde a década de 1930. Mas, o Eniac e tanto a equipe que o projetou, quanto a equipe que o programou, são os responsáveis pelo grande avanço no desenvolvimento dos computadores eletrônicos e pelo intensificado desenvolvimento da própria informática a partir de então.
O Eniac, uma máquina de cerca de 30 toneladas e que ocupava o equivalente a 180 m², tinha por objetivo apenas realizar cálculos balísticos. Todavia, o Eniac é uma criação fantástica que modificou o futuro das tecnologias para chegarmos no nível de desenvolvimento que hoje desfrutamos. Em homenagem ao Eniac e para celebrar a constante evolução do tratamento da informação por meio dos computadores, comemora-se em 15 de agosto o Dia da Informática.
A construção do Eniac foi iniciada em 1943 a pedido do exército dos EUA, durante a Segunda Guerra Mundial. A máquina, totalmente eletrônica, constituída de 17.468 válvulas de 160w de potência, com aproximadamente 800 quilômetros em cabos, possuía a capacidade de processamento de 5 a 10 mil operações por segundo, sendo extremamente rápida para a época. Os resultados dos cálculos eram expostos por meio de sequências de lâmpadas que acendiam após pressionar o conjunto de teclas em interação direta com a máquina. Era uma máquina decimal com 20 registradores que armazenavam um valor numérico de 10 dígitos.
A máquina tinha 1.500 relés, 7.200 diodos de cristal, 10.000 capacitores e cerca de 70.000 resistores. Embora a capacidade de processamento fosse impensável até a sua existência aquele poder de processamento do Eniac seria muito facilmente superado por qualquer calculadora científica criada a partir da década de 70. O Eniac custou uma pequena fortuna, algo em torno de US$ 500.000 (quinhentos mil dólares); próximo de cerca de seis milhões de dólares atualmente.
Para operar inicialmente o Eniac, foi contratada uma equipe de 80 mulheres. Depois de uma seleção das mais rigorosas foram escolhidas apenas seis mulheres (dentre duzentas concorrentes) tanto para criar o primeiro algoritmo como, também, para implementar aquele algoritmo para testar, com sucesso, o Eniac.
A grosso modo, a programação do Eniac era realizada por meio da redistribuição de cabos em várias tomadas distintas em um painel e no rearranjo das cerca de 6 mil chaves existentes.
Cabe ressaltar que as “Calculadoras” (como eram chamadas as Operadoras – Programadoras - do Eniac) tinham o árduo trabalho de calcular, por meio de complexas equações diferenciais, as trajetórias de mísseis desde o momento em que saíam dos canhões até atingirem os correspondentes alvos. As operadoras do ENIAC receberam, também, o título de “Computer” (“Computadora”).
As seis primeiras Programadoras (Computadoras Eletrônicas) da história da Informática, que programaram o primeiro computador totalmente eletrônico e digital, as, também, conhecidas como “Garotas do Eniac” foram: Kathleen "Kay" McNulty Mauchly Antonelli (1921-2006), Betty Jean Jennings (nascida Jean Bartik (1924-2011), Frances Elizabeth "Betty" Holberton (nascida Frances Elizabeth Snyder, 1917-2001), Marlyn Meltzer (nascida Marlyn Wescoff, 1922-2008), Frances Spence (nascida Frances Bilas, 1922-2012) e Ruth Lichterman Teitelbaum (1924-1986).
Para programar o Eniac não existiam livros ou sistema operacional. Nem mesmo uma linguagem de programação havia sido criada para ajudar. Absolutamente, não existiam instrumentos para programar o “monstro” desconhecido do Eniac. Interruptores que assumiam o valor 0 ou 1 conforme estivessem desligados ou ligados permitiam, então, o processamento que era realizado com cartões perfurados.
Apenas era possível plugar e desplugar cabos e alternar interruptores para escrever em papel a lógica necessária para futuras operações. Trabalho que levava semanas para configurar um único programa. Literalmente algo inimaginável tomando-se por base as possibilidades e facilidades hoje existentes.
O Eniac foi desativado em 2 de outubro de 1955. Após ter sido desmontado, várias de suas peças passaram a fazer parte de muitos museus do mundo, incluindo o Instituto Smithsonian e a Moore School for Electrical Engineering da Universidade da Pensilvânia onde foi construído.
Ao longo do tempo o termo informática já foi tratado, por exemplo, como “informatik” (na Alemanha, em 1956), “informatique” (na França, em 1962), “informatika” (na então União Soviética, em 1966), assumindo, em muitas das vezes, significados não idênticos ou até as vezes controversos. Mas, sempre esteve associado ao processo de tratamento da informação por meio de máquinas eletrônicas chamadas de computadores. Sempre interessante ressaltar que foram os computadores que propiciaram a origem da informática e não o contrário.
No Dia da Informática, é sempre parabéns para as geniais Garotas do Eniac. Para as primeiras Computadoras Eletrônicas sempre o reconhecimento. Sem elas, muito possivelmente, não se teria o desenvolvimento em informática que hoje se desfruta.
Celebre-se, também, no Dia da Informática, o fantástico emprego da Ciência da Informação através do computador para que cada vez mais as tecnologias se desenvolvam e que o tratamento racional e sistemático da informação por meios automáticos e eletrônicos possa auxiliar ainda mais a vida humana.
* Professor e conselheiro efetivo do Conselho das Mil Cabeças da CNTU, conselheiro sênior do Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial (CPCE) do Sistema Fiep, líder/fundador do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento Tecnológico e Científico em Engenharia e na Indústria (GPDTCEI), líder/fundador do Grupo de Pesquisa em Lógica e Filosofia da Ciência (GPLFC), personalidade empreendedora do Estado do Paraná pela Assembleia Legislativa do Estado do Paraná (Alep).