Presidente de sindicato paulista defende ações para incentivar e garantir presença das mulheres na profissão de forma equânime.
Rosângela Ribeiro Gil
À frente do Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (SEESP), entidade fundada em 1934 e que representa cerca de 200 mil profissionais em todo o estado, Murilo Pinheiro, nesta entrevista especial à área Oportunidades na Engenharia, fala sobre a inserção feminina numa profissão ainda com a predominância masculina. “Ainda temos um vasto caminho a percorrer até os 50% de mulheres nos cursos e na profissão. Essa deve ser a nossa meta e é totalmente viável alcançá-la”, acredita.
Para ele, a engenharia brasileira só tem a ganhar com o talento e a competência das profissionais da área. “A engenharia, o desenvolvimento nacional, o sistema produtivo, a sociedade precisam das engenheiras para criar as soluções que são necessárias para avançarmos”, observa.
Murilo indica, contudo, que ainda são necessárias ações para superar estereótipos e marcadores de gênero que ainda afastam a mulher da engenharia, como a maternidade. “Não tem cabimento uma mulher precisar escolher entre carreira e maternidade. Temos que avançar ainda culturalmente nesse campo.”
Como o senhor avalia a evolução da presença feminina nas engenharias, no País?
Na minha avaliação, temos avanços a comemorar, mas ainda há muito o que fazer. Se no passado eram raridade na profissão, as mulheres hoje são 37% dos estudantes concluintes dos diversos cursos, conforme mostra matéria publicada no Jornal do Engenheiro de março. A participação ainda minoritária, mas crescente, é dado positivo. No entanto, quando se verificam as profissionais ativas, esse percentual cai para 18%.
O que já mudou bastante e o que precisa mudar ainda?
Já não é nenhum absurdo ver mulheres na engenharia, nas diversas modalidades e setores econômicos, inclusive em cargos de comando. Muitas profissionais com carreiras de sucesso já demonstraram que competência e capacidade nada têm a ver com gênero. Mas é fato que, pensando nos percentuais mencionados acima, ainda temos um vasto caminho a percorrer até os 50% de mulheres nos cursos e na profissão. Essa deve ser a nossa meta e é totalmente viável alcançá-la, mas requer compromisso das entidades profissionais e principalmente das universidades e empresas, que precisam buscar meios de atrair e manter a mão de obra feminina nas áreas tecnológicas.
Como o SEESP vem se posicionando para garantir uma equidade maior no exercício profissional da engenharia?
Nós defendemos de forma inequívoca a participação feminina na profissão, não só para garantir oportunidades iguais às mulheres, mas também porque o País não pode abrir mão do talento e competência de metade da sua população por mero preconceito. A engenharia, o desenvolvimento nacional, o sistema produtivo, a sociedade precisam das engenheiras para criar as soluções que são necessárias para avançarmos.
Qual sua mensagem para as estudantes e profissionais de engenharia?
Em primeiro lugar, não admitam que posturas retrógradas e descabidas as afastem da sua vocação; exijam respeito e não temam em se colocar como protagonistas das suas vidas e profissão. As estudantes e engenheiras estão onde estão pelo esforço e mérito próprios e devem sempre se lembrar disso.
Uma questão que observo ser muito comum nesse debate diz respeito à maternidade, que acaba se transformando num obstáculo ao avanço na profissão, e não só na engenharia. Isso é um absurdo sem tamanho que precisamos resolver. O motivo pela qual existe licença-maternidade por exemplo, é, entre outros, porque se reconhece a função social, o que precisa ser compreendido pelas empresas, pelo Estado e pela sociedade. Não tem cabimento uma mulher precisar escolher entre carreira e maternidade. Claro que temos que avançar ainda culturalmente nesse campo, com as famílias dividindo responsabilidades e tarefas de forma mais equânime e racional, mas o debate no âmbito do mundo do trabalho sobre isso é essencial. Como dizemos, lugar de mulher é onde ela quiser, inclusive na engenharia.