Soraya Misleh/Comunicação SEESP
Ainda sem uma investigação preliminar e apuração das causas do acidente em obra da linha 6 do metrô, técnicos buscam encontrar respostas quanto à ocorrência que resultou em uma cratera na Marginal Tietê na manhã desta terça-feira (1º./2).
A linha 6 do metrô deve ligar Brasilândia, bairro periférico na zona noroeste da Capital, a São Joaquim, e contará com 15 estações. Objeto de parceria público-privada com histórico bastante controverso, cujas obras ficaram paralisadas desde setembro de 2016 e foram retomadas somente sob novo concessionário – o grupo espanhol Acciona – em julho de 2020, o empreendimento vem sendo realizado, contudo, sem o acompanhamento próximo da Companhia Metropolitana de São Paulo (Metrô-SP). Toda a construção, operação e implementação está a cargo da empresa estrangeira.
“É uma PPP sem essa participação. E o Metrô-SP é muito exigente, é difícil dar problema. É referência internacional”, observa o engenheiro da companhia Emiliano Stanislau Affonso Neto, diretor do SEESP, destacando ainda a expertise de seu quadro técnico.
Sem especular as causas do acidente, ele ressalta que “uma boa mobilidade é muito importante para o desenvolvimento da cidade e qualidade de vida das pessoas”. Dada sua essencialidade, continua, “em muitos locais no mundo, está a cargo de empresas públicas”.
Em 2018, diante do impasse com a paralisação das obras da linha 6 por quase dois anos então a cargo do Consórcio Move São Paulo, engenheiros e população afetada chegaram a reivindicar que o Governo do Estado assumisse a execução e operação da linha.
À época, Nestor Tupinambá, engenheiro aposentado do Metrô-SP e também diretor do SEESP, fez uma observação que agora, diante do acidente, poderia ser apresentada como crônica de um desastre anunciado: “Muitas estações previstas terão escavações muito profundas, com mais de 50 metros abaixo da terra, o que, além de encarecer o projeto, requer mão de obra muito especializada, como a dos engenheiros do Metrô.”
Hipóteses
Sua hipótese para o acidente nesta terça é que uma regra básica não foi seguida: manter uma distância segura entre o shield (tatuzão) e interceptores de esgoto de aproximadamente 20 metros. “Pelas informações que tivemos, o shield passou a uma profundidade de cinco metros da galeria em direção ao seu poço de saída [na Marginal Tietê]”, explica.
Em suas primeiras declarações à imprensa, o secretário estadual dos Transportes Metropolitanos de São Paulo, Paulo José Galli, disse que o tatuzão teria passado a uma distância ainda menor: três metros de profundidade da galeria. Contudo, ele frisou que o shield não se chocou com ela e que a cratera foi resultado do rompimento do interceptor de esgoto. Tupinambá ratifica essa informação, de que não houve choque. A questão é que, para o engenheiro, o shield não seguiu uma regra básica de segurança e, portanto, sua passagem provavelmente ocasionou a ruptura. Ele enfatiza ainda que “a coletora da Sabesp era novinha, inaugurada em 2018. Não tinha como não estar no cadastro”.
Segundo atesta o geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos, toda a região é muito estudada e conhecida geologicamente. “Pelas primeiras informações, imagino que não foi um problema relacionado a questões geológicas ou geotécnicas. Se se confirmar essa hipótese de que a passagem do tatuzão rompeu a adutora ou coletora, foi um erro primário no plano de condução da obra, beira a irresponsabilidade”, afirma.
Para Tupinambá, que atuou como engenheiro por 44 anos no Metrô-SP em projetos das linhas 3, 2, 5, além de trólebus e monotrilho, coordenando várias obras afins, soluções técnicas poderiam evitar o acidente. Além de rebaixar o shield conforme a regra básica, reforçar a galeria com injeção de cimento, tubo de aço ou estacas raiz, integrando-a à estrutura do metrô, seriam medidas de engenharia para tanto.
Garantir acompanhamento do Metrô-SP e fiscalização à obra são outras de suas recomendações para que São Paulo não mais amanheça com a surpresa de uma cratera no meio de suas vias. No caso, da Marginal Tietê, felizmente sem vítimas fatais.