Carlos Magno Corrêa Dias*
Quando o inverno vem mais cedo ou mais rigoroso com frio mais intenso surgem, meio que, inevitavelmente, aquelas sempre acentuadas discussões sobre os fenômenos meteorológicos que estão levando o planeta Terra a uma crise ambiental grave sem precedentes a qual poderá ser catastrófica e que poderá gerar um colapso climático.
Paradoxalmente, de um lado se apresentam os defensores do aquecimento global evidenciando que os invernos mais frios pode ser prova das mudanças climáticas enquanto, de outro lado, se apresentam aqueles que, sistematicamente, negam a possibilidade da Terra estar se aquecendo cada vez mais com o passar dos anos devido, exatamente, à existência de invernos antecipados e mais intensos.
Seja como for, as ondas de frio, regulares ou não, que geram, vez ou outra, invernos mais severos, com maior ou menor prazo de duração, fugindo à variabilidade natural, estão no contexto da crise ambiental do aquecimento global. Entretanto, é percebida, nestes casos, uma certa compensação entre regiões quentes e mais frias adjuntas, haja vista que se numa região quente ocorrer períodos mais frios nas regiões próximas que eram mais frias ficam com as temperaturas aumentadas. É um princípio físico básico, pois o calor faz com que o ar frio se espalhe para regiões mais quentes.
Deixando de lado, porém, argumentações científicas que procuram explicar como o aquecimento global pode provocar a diminuição das geleiras e o correspondentes degelo pode induzir invernos mais frios ou períodos antecipados de frio, não há como questionar que os dias mais frios não esperados ou antecipados, ou mesmo, os dias frios normais de inverno, são geradores de muito sofrimento ou até de morte para aqueles menos favorecidos ou que não têm como se proteger com agasalhos quentes ou abrigos adequados.
Embora, em muitas das discussões sobre o colapso climático pelo qual a Terra esteja passando é, frequentemente, confundido “tempo” (descrição da atmosfera em escalas curtas como dias ou semanas) com “clima” (descrição estatística em escalas de tempo mais longas, em geral de mais de 30 anos) não se pode deixar de levar em conta o fato que o corpo humano quando atinge temperaturas internas abaixo de 30 graus ou acima de 42 graus está sujeito a sérios riscos de entrar, também, em colapso total.
A temperatura natural (normal) do corpo humano varia entre 36 e 37 graus. Entretanto, sempre é necessário observar que o organismo humano é uma fonte constante de calor que exige liberar parte de sua energia para o ambiente para que se atingir temperatura adequada para bem funcionar, para manter a estabilidade, o equilíbrio.
Assim sendo, as sensações de calor e de frio são uma consequência do fluxo de troca de calor entre o corpo humano e o ambiente onde habita. O corpo humano pode tanto perder energia térmica para o ambiente quando absorver calor do ambiente para conservar, constantemente, sua energia.
Quando o corpo humano perde mais calor do que gera, a temperatura corporal cai e passa-se a sentir frio. De outro lado, quando o corpo humano não consegue perder energia suficiente, o copo passa a aquecer quando se sente, então, mais calor. Assim, aumentando a diferença de temperatura entre o corpo humano e o meio ambiente, tanto maior será a sensação de calor ou de frio devido ao maior fluxo de troca de calor.
Mas, é claro que os problemas com a variação de temperatura do corpo não se limitam às sensações de calor ou frio. Tanto o excesso de calor quanto o de frio causam danos sérios aos seres humanos se não houver a mitigação das causas ou tratamento adequado das consequências.
Quando a temperatura interna do corpo humano diminui ocorre a contração dos capilares cutâneos fazendo com que o sangue não chegue na superfície da pele uma vez que o próprio organismo trabalha para manter o calor próximo aos órgãos internos. Como consequência da perda de calor são gerados estímulos nervosos que provocam (inconscientemente) os “tremores de frio” (contração da musculatura) para se tentar gerar alguma quantidade de calor no corpo.
Mas, quando a temperatura do corpo sobre para além do normal é gerada a vasodilatação dos capilares subcutâneos que provocam o aumento do fluxo sanguíneo e a consequente elevação da temperatura da pele. Em casos de excesso o corpo aciona as glândulas sudoríparas que causam o suor o qual provoca o resfriamento de todo o corpo após sua evaporação.
Há de se observar que o hipotálamo (localizado no cérebro humano) funciona como um termostato de forma a coordenar determinadas funções do organismo quando ocorrem trocas de calor. O correspondente processo biológico é chamado de termorregulação.
Mas, a despeito da eficiência da termorregulação, o isolamento térmico mais eficiente entre o corpo e o ambiente é mesmo proporcionado pelo vestuário pessoal como roupas em geral, meias, gorros, luvas, cachecóis, sapatos, botas ou peças têxteis externas de cama como cobertores. Tais itens são fundamentais para reduz o fluxo de troca de calor nos dias frios de inverno. Quanto maior for a área coberta do corpo com materiais que tenham maior condutividade térmica e possuam boa densidade e espessura tanto melhor será a capacidade de isolamento contra o frio mais intenso, pois seu uso dificulta a troca de calor do corpo com o ambiente.
O grande problema, entretanto, é que nem todo mundo tem condições de se servir dos benefícios e segurança proporcionados pelo isolamento térmico que dão as peças têxteis para esquentar o corpo e evitar os graves problemas decorrentes da falta de isolamento térmico nos dias nos quais as temperaturas despencam.
Acredite: em plena era da Inteligência Artificial e de fantásticos desenvolvimentos científicos e tecnológicos, o frio está matando, já matou e continuará a matar muitos seres humanos.
Não é ficção. Não é apelação ou melodrama. Nada a ver com “historinhas” para sensibilizar. O frio é implacável com aqueles que não possuem condições de ter o devido isolamento térmico, com aqueles desfavorecidos seres humanos que não têm como se proteger das baixas temperaturas em quaisquer invernos em qualquer lugar do mundo.
O corpo humano quando exposto a temperaturas externas muito baixas apresenta uma queda na temperatura interna que provocam a redução do fluxo sanguíneo para todos os órgãos do organismo humano acarretando reações químicas mais lentas, diminuição do metabolismo e uma forte redução no volume de sangue que podem conduzir ao estado de hipotermia.
A hipotermia pode ocorrer quando o corpo humano fica exposto a temperaturas muito baixas por períodos prolongados podendo ter início a partir de temperaturas abaixo dos 35 graus centígrados. No estado de hipotermia o organismo perde mais calor do que consegue produzir o que favorece o surgimento tanto de sintomas leves tais como frio nos pés e nas mãos ou tremores ou alergias facilitando o surgimento de infecções diversas quanto pode evoluir para condições graves como amputações de dedos ou de membros inteiros devido a perigosas queimaduras e necrose geradas pelo congelamento da pele (Frostbite) como, também, provocar confusão mental, AVC (Acidente Vascular Cerebral) ou até a morte.
Quando a temperatura do corpo humano atinge valores menores que 27 graus centigrados a hipotermia é, quase sempre, fatal embora a morte devido à hipotermia não tratada a tempo possa ocorrer já quando as temperaturas corporais sejam inferiores a 31°C.
Pessoas expostas ao relento e aos ventos em dias frios de inverno se resfriam mais rapidamente, têm aumentada a perda de calor por convecção e seu vestuário tem reduzida eficácia no isolamento térmico sendo mais suscetíveis a se congelarem.
No frio, quando as temperaturas seguem caindo o ar fica cada vez mais seco e provoca o ressecamento das mucosas do aparelho respiratório que por sua vez compromete a natural produção daquelas secreções com anticorpos que são próprias para a defesa do organismo; situação, então, ideal, também, para o surgimento de graves doenças respiratórias (que podem ser fatais em muitos dos casos).
Além do mais, pesquisas recentes já comprovaram que o risco cardiovascular aumenta 7% a cada queda de 10ºC. Em períodos com temperaturas abaixo de 14ºC observa-se um aumento de 30% nos registros de infartos e de 20% nos casos de AVC. Assim, é terrível para os moradores de rua e para qualquer ser humano que não tenham como se agasalhar ou se proteger adequadamente do intenso frio. Já em 2022, no Brasil e no mundo, pessoas morreram e ainda vão morrer de frio ou terão sequelas graves que carregarão por toda vida em decorrência da exposição ao frio intenso.
Há de se acrescentar, também, que existem grupos de risco com maiores probabilidades de se desenvolver hipotermia ou de sofrer outros malefícios causados pelo frio mais intenso como é o caso dos idosos, das crianças com menos idade, daqueles que consomem drogas ou álcool, das pessoas com doenças cardíacas ou com desnutrição ou com baixa atividade da tireoide, ou das pessoas com problemas mentais.
Em geral, considera-se que temperaturas ambientes abaixo de 15 graus centígrados é frio e que entre 21ºC e 22 °C tem-se aquela que é a temperatura ambiente ideal e mais saudável para o ser humano viver mantendo-se a sua temperatura corporal normal.
Entretanto, deve-se ressaltar que não há uma temperatura fixa para se entrar em estado de hipotermia uma vez que se considera uma classificada da hipotermia em três níveis (leve, moderada, grave) conforme as variações das temperaturas corporais vão abaixando a partir dos 35ºC e de acordo com os sintomas evidenciados.
Na hipotermia leve (temperatura corporal variando entre 33ºC a 35ºC) a pessoa passará a ter tremores leves, pés e mãos frios começando a faltar circulação sanguínea, dormência nos braços e pernas, perda da destreza, cansaço excessivo e lentidão nos movimentos.
Com temperaturas corporais variando entre 30ºC a 33ºC atinge-se o estado de hipotermia moderada. Neste caso são observados tremores violentos e incontroláveis, discurso lento e tremido, respiração mais lenta e fraca, pulsação fraca, falta de atenção e perda de memória ou grande sonolência, dificuldade em controlar os movimentos do corpo.
Por fim, na hipotermia grave, quando a temperatura corporal se encontra abaixo de 30ºC, ocorre perda do controle dos braços e pernas, a respiração fica superficial e pode até mesmo parar de vez, surge a amnésia acentuada, a pulsação fica irregular ou inexistente, as pupilas se dilatam, a frequência cardíaca e respiratória diminuem bruscamente, perde-se a consciência e a respiração fica comprometida ao ponto de haver parada cardíaca-respiratória.
A passagem de uma fase para a outra no quadro de hipotermia ocorre, geralmente, de forma bastante gradual e pode não ser perceptível. Dos calafrios iniciais ao estado de coma ou morte tudo ocorre sem acontecimentos abruptos. Os sinais de vida vão, entretanto, desaparecendo lentamente na medida que a temperatura vai diminuindo. Os ritmos cardíaco e respiratório ficam cada vez mais lentos até parar em definitivo. Mas, em casos muito graves de hipotermia não se consegue sequer afirmar se o coração do paciente ainda continua a bater sendo necessária a utilização de equipamentos tais como um ultrassom para se ter uma certeza. Saliente-se, também, que termômetros convencionais não registram temperaturas corporais abaixo de 34ºC.
Conquanto possa parecer bastante óbvio, a maneira mais adequada de evitar entrar em um quadro de hipotermia é se agasalhando adequadamente, evitando ficar demasiadamente exposto ao frio e não portar quaisquer vestimentas úmidas ou molhadas para manter a pele o mais seca possível. Simples, muito simples. Mas, algo muito difícil para os moradores de rua.
Todavia, supondo existir um quadro de hipotermia é urgente chamar uma ambulância e aumentar a temperatura corporal da vítima agasalhando-a e mantendo-a em local aquecido e seco. É importante, primeiro, secar e aquecer o corpo externamente removendo roupas molhadas e envolvendo a pessoa em cobertores quentes. Em seguida, é necessário aquecer o corpo por dentro tanto esquentando o ar para respirar quanto tomando líquidos quentes desde que, é claro, haja condições favoráveis para tanto. Mas, independentemente de quaisquer ações paliativas, o hipotérmico deve ser levado para um hospital o mais rápido possível.
Saliente-se que ao mover uma pessoa com grave hipotermia para um local seco e quente deve-se tomar os maiores cuidados no transporte e agir sempre com muita suavidade haja vista que movimentos bruscos podem acarretar arritmias (ritmos cardíacos irregulares) que podem ser fatais.
Recomenda-se, também, não realizar ressuscitação cardiorrespiratória (RCP) a não ser que seja feita por um profissional habilitado. Em geral, pessoas sem o necessário preparo não conseguindo detectar sinais de vida em uma pessoa hipotérmica acham que realizando a RCP vai ajudar a salvar a vida do hipotérmico que pode estar com a respiração ou os batimentos cardíacos muito fracos parecendo estarem parados. Só que não. É uma das condições do quadro de hipotermia grave pulso e batidas cardíacas muito fracos quase imperceptíveis. A RCP indevida ou não executada acaba por matar o paciente acometido de hipotermia.
É, entretanto, no hospital que o tratamento efetivo acontece para se salvar uma pessoa com grave hipotermia. Se de fato for necessário, lá no hospital será realizada a RCP. Chegando ao hospital o paciente é aquecido com oxigênio quente por meio de inalação e recebe líquidos mornos por via intravenosa ou que são introduzidos por meio de sondas para dentro da bexiga, estômago, cavidade abdominal ou torácica.
Em casos mais graves aquece-se o sangue da pessoa por meio de hemodiálise no qual o sangue é bombeado para fora do corpo, passa por um sistema de aquecimento e retorna ao corpo. Para aquecer o sangue é, possível, também, a utilização de uma máquina coração-pulmão que bombeia o sangue para fora do corpo, aquece-o, acrescenta oxigênio e retorna ao corpo.
A maioria dos pacientes com hipotermia que chegam aos hospitais mesmo aqueles dando entrada com batimentos cardíacos muito fracos ou parecendo não ter mais sinais de vida conseguem sobreviver e se recuperam sem sequelas. Outros, porém, cujas causas da hipotermia não conseguem ser retiradas ou chegam tardiamente sem que se consiga a redução da queda da temperatura corporal vão a óbito ou passam a portar sérias sequelas permanente.
Embora a cada novo inverno os casos de morte ou complicações decorrentes do frio voltem a ocorrer é sabido que, como sempre, a prevenção é o melhor caminho.
Mas, somente para aqueles que têm condições de arcar com os custos da prevenção e proteção contra o frio existem diversas possibilidades tecnológicas que permitem formas adequadas e eficientes de se aquecer nos dias frios tais como aquecedores elétricos, termoventiladores, lareiras eletroeletrônicas, grossos cobertores e demais roupas quentes para o frio tais como tecidos térmicos reversíveis, colchões e lençóis térmicos, sem falar nos sistemas inteligentes de aquecimento e calefação de imóveis, ar condicionados, dentre outros.
Mas, como o morador de rua se protege do frio?
Sozinho, por conta própria, sem recursos financeiros, sem apoio e ajuda de terceiros, é óbvio, vai perecer rapidamente e poderá sim morrer como muitos já faleceram. O frio não perdoa os desprotegidos. Muitos, de fato, morrem congelados, com hipotermia, com fome, devido a infecções, devido a queimaduras geradas pelo frio, largados embaixo das frias marquises de prédios ou esticados nas calçadas molhadas ou úmidas das cidades.
Há, é certo, redes de atendimentos nas cidades (formais – governamentais - ou informáveis, privadas - voluntárias) que se esforçam diuturnamente para tentar ajudar os miseráveis que vivem nas ruas. Sabe-se que são realizadas inúmeras ações pontuais de ajuda e cuidados primários aos habitantes das ruas quando se fornecem, por exemplo, refeições elaboradas por nutricionistas, acesso à higiene pessoal, cuidados com a saúde prestados por profissionais habilitados, doam-se roupas secas e limpas, cobertores, empresta-se uma cama para dormir.
Existem, também, diversos grupos de cidadãos ou de pessoas em particular que se unem em parcerias com empresas ou com os governos, ou agem sozinhas mesmo, com objetivo de ajudar pessoas e famílias inteiras em estado de rua que, vulneráveis, sofrem sempre muito com as baixas temperaturas.
Muitos projetos públicos e privados procuram atender o maior número possível de pessoas que passam dificuldades nas ruas, que vivem ao relento sem casas, principalmente, nos tempos de inverno. A cada novo dia surgem iniciativas fantásticas tentando socorrer os habitantes que sofrem muito nas ruas principalmente nas noites geladas dos invernos.
Todavia, o conjunto de todas as iniciativas visando ajudar os moradores de rua se mostram apenas insuficientes dado o acentuado aumento daquelas populações ano após ano. Estudos dão conta que devido às crises sucessivas, agravadas ainda mais com a pandemia de Covid-19, o aumento do número de pessoas que passam a habitar as ruas é de cerca de 150% a 200% nos últimos anos.
A vida das pessoas que vivem nas ruas, permanentemente ou provisoriamente, são demasiadamente precárias e degradantes. Os seres humanos expostos às correspondentes condições estão sujeitos aos mais variados tipos de doenças, à falta de higiene básica, à violência, à falta de alimentação mínima para sobreviver, ao frio que pode matar, tendo vários outros de seus direitos humanos sequer considerados. A situação é bem grave.
Sem dúvida a questão é complexa e de difícil solução haja vista os inúmeros fatores envolvidos a começar pelas razões que forçam uma pessoa a viver nas ruas. Diversas situações obrigam uma pessoa a ficar nas ruas sem casa, sem um lar; todavia, cada caso é uma situação particular dentre uma gama enorme de difíceis possibilidades.
Há aqueles que perderam seus empregos e não conseguem outras colocações e aí não tendo mais como arcar com suas contas nem pagar um lugar para morar vão morar na rua e em muitos dos casos com a família inteira com crianças pequenas inclusive. O desemprego tem se mostrado uma das causas principais para o aumento da população de habitantes das ruas nas grandes cidades.
Em outras vezes a pessoa vive nas ruas devido a sérias desavenças ocorridas com sua família e mesmo tendo parentes com residências que poderiam abrigá-lo não conseguem harmonia para tanto. Em casos mais graves, ainda, as pessoas são literalmente expulsas de suas casas pelos próprios membros de suas famílias. Outras são obrigadas a fugir devido à violência doméstica ou abusos de todas as ordens. Existindo, também, os muitos casos recorrentes nos quais o consumo de drogas ou de álcool em excesso são as razões para que uma pessoa passe a viver nas ruas sem qualquer ajuda.
Porém, não se deve esquecer, também, que existem pessoas que não possuem alguém vivo da família que poderia lhe dar alguma assistência e aí ficam nas ruas perdidas e sozinhas. Há, também, os muitos idosos com demência que saem de suas casas e acabam se perdendo sem conseguir voltar. O mesmo acontecendo com crianças que se perdem ou são raptadas sendo absorvidas pelas ruas.
Razões complexas e cuja solução é até difícil de ser equacionada. Porém a ajuda sistematizada apoiada pela legislação, como projeto de Estado, de acesso a benefícios sociais, fornecimento de acolhimento diuturnamente para garantir segurança, higiene pessoal, cuidados com a saúde, alimentação adequada, educação profissional, moradia digna, acesso ao trabalho, dentre outros, é fundamental para se dar dignidade, garantir cidadania e preservar os direitos humanos a todo ser humano que vive nas ruas. É um absurdo que pessoas ainda moram nas ruas por não terem as mínimas condições de vida digna.
É certo que muitas cidades, municípios, possuem estruturas especializadas de acolhimento para atender a população que mora nas ruas. No entanto, possuem vagas limitadas e, em geral, insuficientes para suprir a sempre crescente demanda. Estes espaços são, também, de atendimento provisório, imediato e emergencial por curtos períodos e estão condicionados à prévia avaliação técnica de forma que muitos indivíduos que se encontram em situação de rua, desabrigados, ou que tenham seus direitos ameaçados de violação, ou estejam abandonos, ou mesmo em migração, não conseguem ter atendidas suas as necessidades básicas ficando de fora do sistema.
Mas, é importante que se diga que quando um morador de rua chega de noite numa unidade de atendimento recebe, incondicionalmente, de imediato, a devida atenção, sendo lhe fornecido alimentação (jantar e café da manhã), uma cama com roupas limpas e cobertores, material básico de higiene corporal/bucal com toalha de banho, roupas limpas e calçados, bem como atendimento médico quando necessário. Cabendo ressaltar que são as Secretarias Municipais de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) que mantém as redes de atendimento socioassistencial oficiais voltadas à população em situação de rua as quais seguem as políticas públicas do Sistema Único de Assistência Social (SUAS).
É de suma importância, porém, também, a ajuda da sociedade que, seguidamente, realiza suas doações para tentar atender melhor os moradores de rua. Sem a doação das pessoas a realidade dos moradores de rua seria muito mais cruel certamente. Sem a constante contribuição das pessoas por meio de doações de roupas, cobertores, comida, calçados, dinheiro em espécie ou mesmo de serviços voluntários dos mais variados, principalmente nas noites frias, muito mais óbitos seriam registrados nas grandes cidades.
Assim, mais e mais pessoas são chamadas para doarem o que puderem para amenizar o sofrimento das pessoas em situação de rua as quais, infelizmente, são uma população marginalizada nas sociedades atuais. Não é permitido ficar esperando que mágica aconteça. As próximas ondas de frio já foram anunciadas e, certamente, muitos seres humanos vão morrer de frio em noites geladas e assustadoras. Trabalhe-se para ajudar a manter a dignidade e a vida dos seres humanos que se obrigam a viverem nas ruas sem qualquer outra opção.
Várias e distintas são as maneiras de se ajudar. Mas, primeiro deve-se enxergar os moradores de rua sem aqueles preconceitos e estereótipos que apenas os tornam cada vez mais invisíveis. É necessário compreender a real situação, as causas e as consequências de um ser humano estar em situação de rua sem abrigo e sem as mínimas condições de ter uma vida melhor. É mais que necessário se informar, conhecer, para poder entender e ajudar. Todo morador tem que ser respeitado e bem tratado com educação como cidadão que o é.
Entendida a gravidade da situação pode-se agir de formas das mais variadas para ajudar seja tomando atitudes proativas ou conscientizando mais pessoas sobre a necessidade de ajudar; seja apoiando organizações que trabalham em prol da melhoria da qualidade de vida dos moradores de rua ou sendo voluntário em campanhas e ações; ou, mais diretamente, doando roupas, produtos de higiene, comida, itens de cama e banho, dinheiro, ou o próprio tempo como voluntário.
A doação de ítens de vestuário apropriado pára o frio, dinheiro e comida são as maneiras mais usuais de se ajudar os moradores de rua. Doando, por exemplo, dinheiro para organizações que têm o objetivo de assistir os moradores de rua se possibilita diretamente que aqueles que sabem como ajudar efetivamente tenham os recursos necessários para realizar seu trabalho.
Dentre os itens mais adequados para se doar para organizações que forneçam apoio aos moradores de rua ou diretamente para os próprios moradores de rua, principalmente, nos perídos de frio intenso, são: roupas de inverno novas ou em bom estado de uso (como casacos, toucas ou gorros, luvas, calçados, meias); produtos de higiene pessoal (tipo pasta de dente, escovas, sabonetes, etc.); produtos de primeiros-socorros (como curativos ou gases, analgésicos, antissépticos, álcool em gel, etc.); roupas de cama e banho (lençóis, toalhas, travesseiros, colchões, cobertores ou mantas).
Ainda quanto à doação de roupas é super importante, mas as vezes sequer considerada, a doação roupas chamadas “profissionais” que permitam aos moradores de rua ficarem mais adequadamente apresentáveis para eventuais entrevistas de emprego quando surgem. Em muitas das vezes o morador de rua não se permite sequer ir a uma entrevista de emprego por julgar que não tem “roupas adequadas” paa tanto. E bem se sabe que a primeira impressão faz sim a diferença.
A doação de comida é outra das importantes formas de contribuir haja vista que nas ruas há enorme dificuldade de se obter alimentos quando não se tem dinheiro. Mas, é necessário cuidar muito nesta forma de doação. Recomenda-se doar alimentos não perecíveis e segundo as necessidades dos órgãos para os quais se pretenda realizar a doação, pois em dadas vezes são doados alimentos que já existem guardados em grandes quantidades e faltando muitos outros imprescindíveis.
Não podendo doar algum dos itens listados anteriormente veja se não tem como doar seu tempo desenvolvendo ações de voluntariado. A gama de possibilidades neste campo é apenas ilimitada e sempre, em algum lugar, será necessária a sua expertise e experiência para ajudar a salvar vidas ou para dar melhor qualidade de vida para os necessitadas das ruas. Todos são muito bem vindos a desenvolver o voluntariado naquilo que bem sabem fazer.
Então, sabendo que o frio sempre vem, se puder, ajude de alguma forma para auxiliar a atenuar o sofrimento daqueles tantos cidadãos que padecem nas ruas com toda sorte de infortúnios e, principalmente, que sofrem com o mortal frio. Participe. Seja solidário.
*Carlos Magno Corrêa Dias é professor, pesquisador, conselheiro consultivo do Conselho das Mil Cabeças da CNTU, conselheiro sênior do Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial (CPCE) do Sistema Fiep, líder/fundador do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento Tecnológico e Científico em Engenharia e na Indústria (GPDTCEI) do CNPq, líder/fundador do Grupo de Pesquisa em Lógica e Filosofia da Ciência (GPLFC) do CNPq, personalidade empreendedora do Estado do Paraná pela Assembleia Legislativa do Estado do Paraná (Alep).