Jéssica Silva – Comunicação SEESP
Neste 13 de dezembro é celebrado o Dia do Engenheiro Avaliador e Perito de Engenharia. A especialização, regulamentada em 1990, evidencia que o trabalho – voltado a bens, imóveis, máquinas, instalações, indústria, obras e serviços – é matéria essencialmente técnica que exige qualificação específica, conforme o Mapa da Profissão, elaborado pela área de Oportunidades na Engenharia do SEESP.
A atuação deste profissional faz toda diferença no âmbito da Engenharia de Manutenção, luta premente do sindicato em prol da melhoria de obras e infraestruturas das cidades e da segurança e qualidade de vida da população, tema que pauta, inclusive, o projeto Cresce Brasil +Engenharia +Desenvolvimento da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE).
“Na literatura de perícia e patologia vemos o gráfico de Sitter, que prova que é mais barato fazer a manutenção preventiva do que a corretiva, o objeto em questão tem um maior tempo de vida útil”, ratifica a engenheira Talitha Barboza. Graduada em Engenharia Civil, Barboza viu no pós-obra o campo para seu crescimento profissional e se especializou em Excelência Construtiva e Anomalias.
Segundo o Guia das Engenharias, as avaliações e perícias investigam e analisam informações para apresentação de relatórios sobre as condições de um imóvel, de máquinas ou outros produtos relacionados à engenharia. O clima de “detetive” da obra foi o que atraiu a profissional. “Peguei gosto principalmente em encontrar a causa do problema ao invés de apenas resolvê-lo, entender o porquê das situações aparecerem e descobrir o que é preciso fazer para de fato extinguir o problema”, ela conta.
Em celebração ao Dia do Engenheiro Avaliador e Perito de Engenharia, nesta entrevista ao SEESP, Barboza fala sobre a atividade, seus desafios e oportunidades. Confira.
Qual foi sua inspiração para seguir carreira na engenharia e na especialização de avaliação e perícia?
Escolhi engenharia porque tinha familiares que trabalhavam na construção civil e eu já estava inserida no meio, tinha facilidade com cálculos, números. E gostei muito quando comecei a estudar e trabalhar na área. Quando comecei a cursar, o que mais via era as pessoas quererem trabalhar na execução, construir um prédio e tudo mais, mas digo que são as oportunidades que te escolhem. Fiz um estágio na área da construção civil imobiliária e logo depois encontrei uma vaga no pós-obra, uma área que, digamos, ninguém imagina trabalhar. Fui me adaptando, no começo só “apagando incêndios”, e com o passar do tempo peguei gosto, principalmente em encontrar a causa do problema ao invés de apenas resolvê-lo, entender o porquê das situações aparecerem e descobrir o que é preciso fazer para de fato extinguir ou minimizar o problema. Quando me formei, em 2015, logo procurei cursos na área. Fiz um curso no Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de São Paulo (Ibape-SP) e depois, em 2019, a pós-graduação em Excelência Construtiva e Anomalias, pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Entendi também a necessidade de trabalhar sempre em equipe, com outros engenheiros e sempre trocar figurinhas. Não tem como saber de tudo. Nessa área você começa a perceber que as soluções e repostas não estão só nos livros, a vivência e a experimentação também contam.
Como é o seu trabalho?
Depois de estagiar em empresas, comecei a atuar de forma autônoma realizando laudo periciais para condomínios, unidades básicas de saúde (UBS) etc. Hoje trabalho na parte de avaliação dos danos nos imóveis lindeiros à obra da Linha 2 – Verde do Metrô. É desafiador, tem que ter empatia para entender o lado do morador, porque é uma obra do governo que vai beneficiá-lo, mas ele não pediu para ter aquela obra ao lado da casa dele. Então tem que ter bom relacionamento, sanar os problemas e passar segurança de que ele não sofrerá nenhum dano. E se acontecer algo emergencial, reparar imediatamente.
A área envolve questões administrativas, mas é muito técnica. Como é o dia a dia?
Utilizo muito as normas técnicas principalmente quando vou elaborar relatórios para embasar o que for apontado como problema. Também quando preciso fazer um reparo, busco a descrição das normas para entender o que ela indica de execução. Nem sempre tem especificamente o que você precisa, nesse ponto é preciso trocar figurinhas tanto com outros engenheiros como com pedreiros e profissionais que executam de fato. Já as tecnologias são muito bem-vindas, porque é preciso fazer o reparo com qualidade, gastando pouco e dentro do prazo estipulado, o que chamo de triângulo da engenharia atual (risos). Nesse sentido, procuro sempre novas tecnologias e produtos que possam me atender em cada situação. Aprendi a ligar para as empresas e perguntar quais novas soluções e produtos elas podem ter, não adianta estagnar no passado e achar que o que era feito 50 anos atrás ainda serve. Tem muita coisa boa que foi definido no passado e que se usa, mas não adianta, temos que buscar atualizações, se não ficamos para trás no mercado.
O SEESP, em consonância com a FNE, defende a manutenção preventiva para se evitar acidentes em obras e infraestruturas, levantando a bandeira da Engenharia de Manutenção como área efetiva nas esferas públicas, mas também privadas. Qual sua visão sobre essa questão?
Eu vejo que as pessoas têm carro e sabem que tem que fazer manutenção periódica, mas para outras coisas, de bem comum ou uso particular, não faz. Ou esperam o problema aparecer. E isso vai de coisas simples como uma janela, que por falta de manutenção pode deixar a água da chuva passar, mas também em itens que ocasionam problemas graves como um aquecedor, por exemplo, que pode vazar gás, ou bombas de esgoto. Atuei muito nesse sentido no ramo imobiliário, com laudo de constatação, e sempre questionava a manutenção periódica. Na esfera pública é ainda pior, vemos que a manutenção é sempre corretiva, quando já tem o buraco na estrada, quando a ponte já caiu. Na literatura de perícia e patologia vemos o gráfico de Sitter, que prova que é mais barato fazer a manutenção preventiva do que a corretiva, o objeto em questão tem um maior tempo de vida útil, inclusive. E ainda faz a roda da economia girar movimentando um mercado grande na construção civil com empresas e trabalhadores específicos de tratamento de trincas, vedações, impermeabilização e, claro, do engenheiro perito, que atua para formalizar o problema e requerer e reparo.