Carlos Magno Corrêa Dias*
Com a materialização dos dias e meses por intermédio do calendário o homem, naturalmente, se viu condicionado a celebrar a passagem do tempo pondo em evidência datas comemorativas para recordar fatos de sua história vivida.
Tudo que merece ser lembrado (por motivos dos mais variados) assume algum significado relevante ao longo do passar do tempo para comunidades que compartilham singularidades e valores comuns chamando a lembrança em datas posteriores durante a história para perpetuação de costumes, tradições, conhecimentos, da existência como um todo.
Assim, em todos os cantos do planeta, existem, por certo, datas das mais diversas e de diferentes tipos a serem festejadas ou lembradas durante o ano todo. Meses do ano se destacam por conterem datas comemorativas especiais sobre determinado assunto sejam pela importância histórica e civilizatória dos temas comemorados sejam pela necessidade de se chamar reflexões ou ações futuras que devam ser tomadas para um bem maior.
Assim sendo, o mês de outubro, no Brasil, por exemplo, é daqueles meses do ano no qual existem muitas datas importantes para fortalecer a manutenção da soberania de uma nação e que necessitam serem lembradas e fortemente comemoradas quando se pretende o progresso, o desenvolvimento e a sustentabilidade para o país e para o bem geral do povo.
Todavia, a realidade sempre foi, em quaisquer épocas, constantemente transformada mediante as alterações causadas, em maior ou menor intensidade, pelas intervenções (ou não) do homem no mundo real mais propriamente estabelecidas pela aplicabilidade dos conhecimentos gerados pelas gerações por meio das Ciências e das Tecnologias, bem como por intermédio (condicionante) da Cultura e da Educação, na maioria das vezes.
Embora possa haver até consenso sobre as afirmações precedentes, sempre, em alguns mundos possíveis, por mais estranho que pareça, ainda existem sérias dificuldades para o reconhecimento das necessidades em pauta haja vista esquecimentos (talvez) ou falta (mesmo) de divulgação comprometida ou interesse claro (desenvolvido).
Veja-se, então, que em outubro de todo ano, no Brasil, estão definidas a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), instituída pelo Decreto de 9 de junho de 2004; como, também, a Semana Nacional do Livro e da Biblioteca (SNLB), instituída pelo Decreto número 84.631, de 9 de abril de 1980.
Ressalte-se, entretanto, que além das mencionadas semanas comemorativas, em outubro, celebram-se, também, várias outras datas igualmente importantíssimas, tais como: o Dia Mundial dos Professores (em 5 de outubro); o Dia Nacional da Leitura (em 12 de outubro); o Dia do Nacional do Professor (em 15 de outubro); o Dia da Ciência e Tecnologia (em 16 de outubro); o Dia da Inovação (em 19 de outubro); o Dia dos Profissionais de Informática (em 19 de outubro); o Dia da Aviação e o Dia do Aviador Brasileiro (em 23 de outubro); o Dia do Desenvolvimento (em 24 de outubro); o Dia do Livro (em 29 de outubro); dentre outras.
Mas, voltando à SNCT, ressalte-se que no último dia 22 de outubro de 2023 aconteceu o encerramento daquela que foi a 20ª SNCT do Brasil a qual, promovida pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), foi desenvolvida no período de 14 a 22 de outubro de 2023, tendo como tema central “Ciências Básicas para o Desenvolvimento Sustentável”.
A edição de 2023 da SNCT focou fortemente no alcance dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da Agenda 2030 da ONU (Organização das Nações Unidas) e, como nas suas edições precedentes, promoveu e estimulou atividades de difusão e de apropriação social de conhecimentos científicos e tecnológicos para (efetivamente) popularizar a Ciência e a Tecnologia no Brasil.
Nos seus 20 anos de trajetória a SNCT sempre objetivou mobilizar a população brasileira em torno da importância das Ciências e das Tecnologias como meio para se gerar soluções dos diversos e diferentes grandes desafios nacionais para se atingir sempre a melhoria da qualidade de vida das pessoas.
Com a opção de ser desenvolvida de forma descentralizada para atingir um maior público a SNCT se pautou, nestas duas últimas décadas, no pensamento que as Ciências e as Tecnologias existem para se encontrar respostas para melhor se viver em mundo em constante e profunda mudança que deve ser, ao mesmo tempo, inovador e inolvidável.
Mas, é sabido que, até mesmo em Universidades ou Centros de Pesquisa, sequer uma única palavra foi mencionada sobre a SNCT 2023 ou, pior, atividade alguma fora realizada durante as já vinte edições da SNCT. Muitos nem sabem da existência da mesma e outros lá não têm qualquer interesse seja na divulgação ou na participação.
Colocar na agenda a SNCT deveria ser, entretanto, procedimento normal, corriqueiro, em todo lugar onde se pensa o desenvolvimento da nação e se pretende a melhoria de vida das pessoas a partir das Ciências e das Tecnologias.
Por sua vez, a SNLB, em 2023, programada (por Lei) para ser realizada no período de 23 a 29 de outubro aconteceu, também, muito timidamente, somente em alguns poucos mundos possíveis onde deveria ter sido espetacular e, na maioria de outros locais que se obrigariam necessárias celebrações condizentes sequer foi cogitada.
A Semana Nacional do Livro e da Biblioteca foi pensada para incentivar a leitura, difundir o livro, estimular a construção do conhecimento e divulgar a Biblioteca como importante centro de democratização do saber.
Com o término da SNLB no dia 29 de outubro se faz, também, uma explícita homenagem à fundação da excelente Biblioteca Nacional do Brasil dado que em 29 de outubro de 1810 foi transferida para o Brasil a Real Biblioteca Portuguesa dando origem à Biblioteca Nacional do Brasil (oficialmente denominada Fundação Biblioteca Nacional) aquela que é a fantástica Depositária do Patrimônio Bibliográfico e Documental do Brasil e que é reconhecida pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) como uma das dez maiores Bibliotecas Nacionais do mundo sendo a maior da América Latina.
A Biblioteca Nacional do Brasil salvaguarda a Bibliografia Brasileira corrente, assegura o registro e a guarda da Produção Intelectual Nacional, bem como defende e preserva a Língua e a Cultura do Brasil.
Também no dia 29 de outubro, pela Lei 5191, de 18 de dezembro de 1966, ficou estabelecido no Brasil o Dia Nacional do Livro quando se faz referência ao livro enquanto repositório do intelecto humano que com sua força e transcendência faz disseminar o conhecimento entre os homens possibilitando a transformação das mentes (O livro chama o intelecto transformando mentes).
Os livros enriquecem cada vez mais os CDI (Centros de Documentação e Informação) ou RFC (Repositórios Fundamentais do Conhecimento) os quais, usualmente, simplificadamente, são chamados de Bibliotecas. Livros e Bibliotecas são fontes infinitas da Cultura de uma nação sendo o livro (simplesmente) a fonte universal do saber humano.
Mas, estranhamente, também, na maioria dos locais onde o Dia do Livro e o Dia da Biblioteca deveriam ter sido considerados entusiasticamente e celebrados intensamente, uma vez mais, agora em 2023, sequer foram mencionados.
Com profunda decepção constatou-se que o empoderamento dado pelo livro não foi suficientemente reconhecido e que não esteve incluído nas rotinas da grande maioria das Instituições. Em muitos casos, nenhuma campanha, sequer notas alusivas aos correspondentes temas foram apresentadas. Somente um grande silêncio ecoou demonstrando a falta de conhecimento ou de valorização.
É sabido que no 19 de outubro comemora-se o importante Dia da Inovação quando se festeja os inúmeros benefícios da Inovação tais como: “o estabelecimento de uma economia competitiva forte, em expansão, próspera e sustentável; a agregação de qualidade na produção de bens, serviços e processos; o aumento significativo de patentes e marcas de inúmeros produtos; bem como, a melhoria e ampliação significativa dos postos de trabalho com mais e melhores empregos e maiores salários”.
As riquezas advindas da inovação não apenas são motivos suficientes para celebrar a Inovação como, também, chamam nações desenvolvidas a incentivar cada vez mais a inovação para se conseguir seguidos e constantes desenvolvimentos e progressos em seus países.
Todavia, de forma algo análoga às comemorações sobre a SNCT e a SNLB, poucas foram as celebrações alusivas à Inovação dado que muito pouco se ouviu falar e quase nada se fez para mais e mais incentivar a produção de Inovação em todos os campos do saber no país. Constatou-se que, principalmente em Instituições que deveriam promover massivamente a Inovação, pouco, muito pouco, ou quase nada se falou sobre as vantagens e desafios da Inovação.
Obviamente, entretanto, as datas aqui consideradas foram amplamente consideradas e festejadas em diversos outros tantos mundos possíveis nos quais Ciência, Tecnologia, Inovação, Cultura, Educação, Livros, Bibliotecas são tomados como ativos determinantes para o desenvolvimento e o progresso visando a melhor qualidade de vida das pessoas. Todavia, muito mais é exigido celebrar. Muito mais é necessário para que mais e mais indivíduos conheçam bem os temas envolvidos e possam ser engajados a engrossar as correspondentes fileiras para cada vez mais se poder festejar os resultados obtidos nas respectivas datas comemorativas.
É, então, urgente mudar esta prática de pouco se falar sobre as datas em questão haja vista que foram estabelecidas exatamente para fortalecer, lembrar e celebrar tudo aquilo que de bom e de melhor os correspondentes temas empenhados podem proporcionar. Ciência, Tecnologia, Inovação, Livros, Bibliotecas são imprescindíveis para o Desenvolvimento e o Progresso de qualquer Nação Soberana, Cidadã e Sustentável.
*Carlos Magno Corrêa Dias é professor, pesquisador, conselheiro consultivo do Conselho das Mil Cabeças da CNTU, conselheiro sênior do Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial (CPCE) do Sistema Fiep, líder/fundador do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento Tecnológico e Científico em Engenharia e na Indústria (GPDTCEI) do CNPq, líder/fundador do Grupo de Pesquisa em Lógica e Filosofia da Ciência (GPLFC) do CNPq, personalidade empreendedora do Estado do Paraná pela Assembleia Legislativa do Estado do Paraná (Alep).
