"Cresce Brasil – Copa 2014: desafios, preparativos e legado” e “O Brasil após a Rio+20: compromissos e conquistas” foram temas discutidos no segundo dia do VIII Conse (Congresso Nacional dos Engenheiros), realizado entre 24 e 26 de setembro, em São Paulo. O ponto comum dos debates foi o grande investimento em infraestrutura por que passa o País e a responsabilidade de combinar expansão e modernização de estruturas com sustentabilidade e justiça social.
Na mesa que reuniu o secretário nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor do Ministério do Esporte, Luís Antonio Paulino, o assessor especial para Aeroportos do Grupo EcoRodovias, Dario Rais Lopes, e o gerente geral de Estádios e Instalações do COL (Comitê Organizador Local da Copa do Mundo), Roberto Siviero, houve consenso de que os megaeventos esportivos, incluídas as Olimpíadas de 2016, fazem o Brasil experimentar oportunidade ímpar em termos de investimentos e também de mudar sua imagem perante o mundo.
Paulino afirmou que o contexto nacional atual, com economia estável, democracia sólida e diversidade cultural, facilita conquistar outros objetivos, além da modernização da infraestrutura, como disseminar a prática esportiva, gerar um saldo de qualidade nos serviços, aperfeiçoar os instrumentos de gestão e transparência e promover desenvolvimento urbano e descentralização econômica. Para mostrar a magnitude do evento, apresentou alguns números: são esperados 600 mil turistas estrangeiros e 3 milhões de nacionais.
Aeroportos e estádios
A Copa exige aeroportos maiores, modernos e com sistemas operacionais eficientes. No entanto, é um dos pontos mais críticos, sujeito a atrasos no cumprimento dos cronogramas, como aponta estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). O representante da EcoRodovias, apesar de traçar um panorama preocupante das obras de expansão e modernização dos aeroportos nacionais, acredita que essas serão finalizadas a tempo. “Particularmente, entendemos que há possibilidade de tudo ficar pronto”, disse.
Os receios, revelou, repousam sobre os sistemas e equipamentos, sujeitos a imprevistos a exemplo do ocorrido em Denver (EUA), onde o funcionamento do aeroporto local foi suspenso porque a parte operacional não foi testada previamente. Outro ponto de atenção são os aeroportos recentemente concedidos à iniciativa privada. “Temos compromissos assumidos de fazer investimentos vultosos a partir do nada. Em Guarulhos, há necessidade de se fazer um novo terminal, assim como o de Viracopos (SP). Natal (RN) tem de fazer um aeroporto praticamente novo. Brasília precisa de uma série de obras de expansão”, explicou Lopes.
O COL (Comitê Organizador Local da Copa do Mundo), empresa privada financiada 100% pela Fifa (Federação Internacional de Futebol Associado), mantém uma central de monitoramento com imagens dos 12 estádios em construção ou em reformas, informou Siviero. A previsão é de que mais de R$ 100 bilhões sejam investidos até 2014, recursos que garantirão como legado estádios “à altura do país do futebol”: modernos, com serviços diversos ao torcedor, acessos largos e organizados, maior segurança e assentos demarcados. Ao mesmo tempo, acredita, haverá um novo posicionamento para a “marca” Brasil no mundo, ligada à capacidade de execução e competência.
Conferência da ONU
No debate com o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, o professor titular do Programa de Pós-graduação em Ciência Ambiental da USP (Universidade de São Paulo), Wagner Costa Ribeiro, e Valmir Gabriel Ortega, diretor do Programa Sênior de Política da Conservação Internacional do Brasil, a Rio+20 foi julgada como positiva, apesar das limitações, porque apontou para um novo paradigma do desenvolvimento, com conservação ambiental e inclusão social.
Carvalho afirmou que os engenheiros têm papel fundamental para garantir um País justo e igualitário. “Hoje, diante da nossa decisão de investir pesadamente em infraestrutura social, mobilidade urbana e dar um salto de qualidade, essa mão de obra mais do que nunca é valorizada, inclusive para pensar um novo modelo de desenvolvimento sustentável.” Isso, na opinião do ministro, é crucial, já que o padrão adotado até então deixou uma dívida social. “Quando se veem os conflitos em áreas indígenas, os desequilíbrios sociais, o passivo ambiental, dá-se conta disso”, enfatizou. E frisou que o governo atual “tem realizado intervenções sob nova ótica, buscando superar a ausência do Estado em áreas esquecidas”.
Para ele, o principal ponto a demonstrar o resultado positivo da Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, realizada em junho último no Rio de Janeiro, é a inclusão do combate à pobreza no texto aprovado, evidenciando que o novo modelo almejado está fundado no direito ao crescimento com distribuição de renda e inclusão social, na atenção à população e na preservação da natureza.
Ao final, após ouvir as reivindicações, preocupações e perguntas dos engenheiros sobre temas diversos como habitação, implementação da engenharia pública, direitos trabalhistas, qualificação profissional, concluiu: “Temos que aproximar a FNE dos órgãos do governo diretamente envolvidos com essas questões. O governo e o povo brasileiro têm a ganhar com isso. Os engenheiros têm enorme contribuição a dar.”
Rosângela Ribeiro Gil, com a colaboração de Soraya Misleh
Matéria publicada no jornal “Engenheiro”, da FNE