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07/01/2013

Brasil Inteligente – Inovação médica à base de açaí

Aaidentro1Criar um novo biomaterial para ser aplicado na produção de próteses ósseas, tendo como principal fonte o açaí, é a novidade apresentada pela dissertação de mestrado da química Laís Pellizzer Gabriel, à FEQ/Unicamp (Faculdade de Engenharia Química da Universidade Estadual de Campinas).

A pesquisa que vem sendo realizada desde 2009 teve como principal objetivo agregar valor a poliuretanos (materiais já consagrados para a fabricação de próteses ortopédicas) produzidos por uma nova rota de base natural, o açaí – fruto bastante comum na região Norte do País. “Nesse estudo foi desenvolvido um novo poliuretano com fonte natural e renovável para ser aplicado em reparos ósseos. É importante ressaltar que o açaí apresenta atributos que o tornam um alimento funcional, ou seja, oferece ao organismo humano mais do que apenas nutrientes. Além disso, pesquisas recentes apontam que o fruto tem propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias, analgésicas, entre outras ações favoráveis”, menciona a cientista.

Conforme detalha Pellizzer, o polímero desenvolvido no seu trabalho é uma espuma rígida e porosa de poliuretano, que facilita o crescimento ósseo. Como a base é natural e renovável, o produto apresenta as vantagens de ser não tóxico. A pesquisadora da Unicamp explica que o produto é obtido a partir de uma substância presente no açaí, chamada poliol, que é submetida a uma reação química na presença de outros compostos. “O polímero é obtido diretamente dessa reação. Um dado interessante é que o açaí possui um catalisador natural, o que dispensa o uso de catalisadores químicos no processo. Isso é positivo, dado que nem sempre esses são biocompatíveis”, detalha.

Ainda segundo ela, o polímero desenvolvido na Unicamp é mais indicado às regiões do crânio e da face, que não exigem grande esforço mecânico. Pellizzer salienta também que para regiões mais complexas, como uma prótese para a cabeça do fêmur, por exemplo, há outros materiais mais resistentes, como o titânio. “O polímero que desenvolvemos é obtido inicialmente na forma de fios, depois é transformado em pó e por último, na prótese”, especifica.

Conforme a cientista, no momento, o polímero de açaí está na fase de testes clínicos. “Os ensaios in vitro têm demonstrado que o material obtido a partir do fruto é biocompatível e apresenta excelentes propriedades mecânicas e biológicas”, enfatiza.

A tecnologia foi objeto de um pedido de patente depositado no Inpi (Instituto Nacional de Propriedade Industrial).

Fabricação
O processo de confecção do implante começa quando a equipe da FEQ recebe uma imagem tomográfica da região que precisa da prótese, que em seguida é processada por um software específico, o InVesalius, desenvolvido em Campinas pelo CTI (Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer).

Conforme explica Pellizzer, nesse momento, o programa faz a segmentação, ou seja, separa o tecido mole (pele, músculos, artérias) do duro (osso). O passo seguinte é gerar uma imagem tridimensional desse segundo, que mostra a parte faltante. Depois, por espelhamento, os pesquisadores desenham a prótese. “O último passo é enviar essa informação para um equipamento de prototipagem rápida, que fará uma réplica anatômica fiel, camada por camada, do osso inexistente. Trata-se de uma prótese customizada, com precisão milimétrica”, informa.

Depois que passar pelos testes clínicos e estiver à disposição para uso médico, o material poderá proporcionar diversas vantagens em relação às próteses convencionais, inclusive com relação ao tempo. A pesquisadora relata que a tecnologia empregada na produção do poliuretano de açaí é tão avançada que poderá ser produzida e entregue em menos de uma semana. “Vamos supor que um médico do Pará, por exemplo, envie uma imagem tomográfica, via sistema webservice , solicitando uma prótese. Todo o processo – produção e envio da peça customizada (pelos Correios ou mesmo de avião) ao solicitante, não deverá levar mais do que três ou quatro dias”, garante a química, que aposta também na possibilidade de instalação de algumas unidades para a produção de prótese de açaí em locais estratégicos do Brasil, de modo a agilizar o atendimento dos pacientes que precisam desse tipo de implante.

Para o professor da Unicamp Rubens Maciel Filho, que coordenou o trabalho, a demanda pelo produto deverá ser grande, uma vez que o País registra alto índice de acidentes urbanos, principalmente no trânsito das grandes e médias cidades. Além disso, na sua visão, com a ampliação da expectativa de vida dos brasileiros, é provável que as pessoas precisem cada vez mais de reparos ósseos em razão da idade avançada. “Esse tipo de pesquisa é muito gratificante. Se nós não nos ocupamos de buscar soluções na área, a tendência é que o País se torne dependente tecnologicamente. A consequência dessa dependência, não raro, é a limitação do acesso das pessoas às próteses, visto que muitas delas são importadas e têm altos custos. No nosso caso, ainda temos a vantagem adicional de usarmos como matéria-prima um produto abundante e renovável, que é o açaí”, enfatiza.

A pesquisa conduzida por Pellizzer no âmbito do INCT-Biofabris (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Biofabricação), sediado na FEQ/Unicamp, teve caráter marcadamente multidisciplinar, contando com a coorientação da professora Carmen Gilda Barroso Tavares Dias, da UFPA (Universidade Federal do Pará), instituição que há vários anos vem investigando as qualidades do açaí e cedeu as amostras de despolpados (sementes e bagaço) necessárias ao estudo. Também participaram a professora Cecília Zaváglia e o pesquisador André Jardini, ambos da Unicamp. (Lucélia Barbosa)
 

Imprensa – SEESP
Matéria publicada no jornal “Engenheiro”, da FNE, Edição 128/JAN/2013



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