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01/04/2014

Após 50 anos, grande mídia mantém farsa sobre fragilidade de Jango

“Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”. A frase do publicitário de Hitler, Joseph Goebbels, se encaixa nas narrativas de matérias jornalísticas divulgadas nesta semana sobre os 50 anos do Golpe Militar no Brasil, ocorrido no dia 1º de abril de 1964. A ideia de que João Goulart caiu após ter sido descoberto seus planos para um golpe comunista é repetida desde aquela época pela chamada grande mídia para justificar o injustificável. No entanto, pesquisas do Ibope feitas na ocasião (e não divulgadas) mostram que uma das principais plataformas de Jango tinha sim um forte apoio popular: a reforma agrária. A política econômica do presidente derrubado também tinha apoio da maioria.
 

Foto: Lúcia Rodrigues
homenagem doi codi
Multidão comparece na homenagem aos mortos e desaparecidos políticos durante o regime militar


No Brasil da década de 1960, presidente e vice-presidente eram escolhidos em eleições simultâneas, mas separadas. Foi o que possibilitou a eleição de uma chapa que apontava em direções distintas: Jânio Quadros como presidente (pela coalizão PTN-PDC-UDN-PR-PL) e João Goulart como vice. Quadros renunciou e Goulart, eleito pela coalizão liderada pelo PTB, sob forte oposição dos militares, só assumiu com a aprovação do parlamentarismo, costurado num acordo feito por Tancredo Neves (do PSD). Mais tarde, a população apoiou em plebiscito a volta do presidencialismo, numa clara demonstração de apoio ao projeto trabalhista de Jango.

A imprensa brasileira tinha uma postura ainda menos nacionalista. Em meio à diversidade de jornais, Jango só contava com a Última Hora, de Samuel Wainer, e a TV Excelsior, do empresário Mário Wallace Simonsen. Em São Paulo tanto a Folha de S. Paulo quanto O Estado de São Paulo faziam fortes críticas ao governo. Os empresários Octávio Frias e os irmãos Mesquita se ligaram ao Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipes), uma espécie de Instituto Millenium anabolizado, determinado a combater “o avanço do comunismo soviético no ocidente”. O IPES aglutinou, organizou, propagandeou e financiou, ainda que indiretamente, a derrubada de Jango. Na Guanabara, o mesmo papel era feito pelos jornais O Globo, Correio da Manhã, Jornal do Brasil e Tribuna da Imprensa.

Como Jango ocupava o Palácio do Planalto, havia dúvidas se poderia se candidatar em seguida (não havia, à época, o instituto da reeleição). Na ausência dele, os candidatos mais fortes seriam o ex-presidente Juscelino Kubistchek (PSD) e o direitista Carlos Lacerda. Porém, as pesquisas demonstram que o candidato puro sangue da direita tinha poucas possibilidades de bater o centrista JK.

Este preâmbulo é necessário para apresentar as pesquisas que Luiz Antonio Dias, chefe do Departamento de História da PUC de São Paulo, resgatou dos arquivos. Professor do programa de pós graduação de História da PUC-SP e de Ciências Humanas da Unisa, ele analisa algumas dessas pesquisas, feitas em 1963, em um capítulo do livro “O jornalismo e o golpe de 1964: 50 anos depois”, que será lançado em abril no evento Mídia e memórias do autoritarismo, que acontecerá na Escola de Comunicação da UFRJ. Nas pesquisas, o apoio a Jango é identificado nas camadas sociais mais pobres e era esmagador no Nordeste, onde o projeto da reforma agrária tinha grande ressonância.

pesquisa reforma agraria no gov jango 

pesquisa reforma agraria no gov jango 2

 


"Jango durante muito tempo foi criticado pela esquerda e a direita. Os conservadores diziam que ele era um 'comunista' propenso a transformar o Brasil “numa nova Cuba”. Besteira grossa, sem fundamento. Jango era um líder trabalhista, queria reformas – mas dentro da ordem democrática", avalia o jornalista Altamiro Borges, coordenador do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, em um artigo recente publicado sobre o tema. Ao contrário do que se alardeia em editoriais e matérias da mídia conservadora, o golpe não era inevitável. Jango foi derrubado pela direita conservadora que apoiava Carlos Lacerda, seu opositor, com apoio de amplos setores da Igreja Católica, dos Estados Unidos e da "mídia velhaca" como chama Altamiro no mesmo artigo, publicado em seu blog.

Homenagem no DOI-Codi

Um dos mais emblemáticos centros de repressão no período da ditadura foi o palco escolhido para a “descomemoração” dos 50 anos do golpe civil-militar. Durante toda a manhã de segunda-feira (31), mais de mil pessoas ocuparam o pátio externo do atual 36º Distrito Policial, entre os bairros da Vila Mariana e do Paraíso, zona sul de São Paulo, próximo da sede do II Exército. Era parentes, ex-presos políticos, representantes de organizações ou simplesmente pessoas solidárias às vítimas do regime militar. Ali funcionava o DOI-Codi, por onde passaram até 8 mil presos políticos e morreram mais de 50, segundo os cálculos de entidades de direitos humanos. Alguns voltaram ao local hoje, em ato também interpretado como uma revisão histórica no cinquentenário do golpe.


Uma lona foi erguida no pátio, um palco foi montado e um telão instalado na área símbolo da ditadura. Para a advogada Rosa Cardoso, integrante da Comissão Nacional da Verdade (CNV), a escolha do local ajuda a transmitir a “ideia de que sofremos, fomos desfigurados, fomos traumatizados, mas sobrevivemos”. Segundo ela, ali funcionava um “centro de referência de extermínio”, onde se desenvolveu a “tecnologia da repressão”.

Censura

Não existe mais censura, afirma Audálio Dantas, ex-deputado e ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, entidade que dirigia quando foi morto o então diretor de Jornalismo da TV Cultura, Vladimir Herzog, em 1975. No entanto, faz uma ressalva sobre os grandes veículos de comunicação, que continuam a praticá-la por conta própria. Para ele, falta uma democracia “que seja de fato um instrumento ao alcance de todos”. A tortura segue sendo praticada em delegacias. “E temos uma polícia que é contra o povo, em vez de defender o povo, principalmente o mais humilde.”


O deputado estadual Adriano Diogo (PT), presidente da Comissão da Verdade da Assembleia Legislativa de São Paulo, que leva justamente o nome de Rubens Paiva, recorda o momento de sua prisão, naquele mesmo local, em 1973. "Cheguei aqui neste pátio. O major veio me pegar aqui, neste pedacinho... Estavam lavando a cela-forte, tinham acabado de matar o Alexandre (Vannuchi). Ele falou: 'Acabei de matar aquele filho da puta, mandei ele para a Vanguarda Popular Celestial. Vou te mandar pra lá também'", recorda.

A sigla era referência à VPR, Vanguarda Popular Revolucionária, onde militava o então estudante da USP. "Se eu disser que que estou aqui à vontade, que estou tranquilo, que perdi totalmente o medo, o trauma... Tem noites que eu passo mal, que estou agitado", afirma o deputado, que passou 90 dias na solitária. "Fiquei quase louco."

Escracho


Foto: Levante Popular da Juventude
escracho ustraCartazes, faixas e pichações foram feitas na casa onde mora Ustra


Também ocorreu na segunda, véspera do dia em que o Golpe Civil-Militar completa 50 anos, um escracho organizado por movimentos Levante Popular da Juventude, Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em frente à casa do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. O ato de  repúdio foi realizado no local para lembrar que Ustra foi o responsável por mais de 500 sessões de tortura em pessoas que lutavam contra a ditadura militar no Brasil. Hoje com 81 anos, ele foi o único torturador da história do Brasil a receber uma condenação da Justiça, porém continua solto.

 

Imprensa - SEESP
Com informações da Rede Brasil Atual, Blog do Miro e VioMundo









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