Na parte da manhã do segundo e último dia do seminário “Água e energia – enfrentar a crise e buscar o desenvolvimento”, promovido pela Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), nesta sexta-feira (13/3), na sede do SEESP, na Capital paulista, foi abordado o tema “Os desafios da crise hídrica”, com os palestrantes Newton Lima de Azevedo, governador pelo Brasil no Conselho Mundial da Água, João Alberto Viol, vice-presidente de Gestão e Assuntos Institucionais do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco), e João Sérgio Cordeiro, coordenador e docente em Saneamento e Gestão Ambiental na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e no Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec).
Iniciando as palestras, Azevedo provocou o público dizendo que via um lado positivo de toda a questão envolvendo a escassez de água. “Não fomos dormir sem crise e acordamos com ela”, ironizou, para indicar que o problema é antigo e foi ignorado por todos os níveis de governo e pela iniciativa privada, assim como pela população. Ele relacionou alguns itens que considera importantes para discutir e entender o “estresse hídrico” por que passa o País, que incluem incontáveis níveis decisórios, falta de planejamento integrado, gestão ruim, recursos insuficientes, não utilização de novas tecnologias e a conscientização do próprio consumo da água.
Apesar dos seus vários planos relacionados à água – desde o nacional de saneamento ambiental (Plansab), de recursos hídricos (PNRH), de resíduos sólidos (PNRS) etc . –, o Brasil não tem uma política pública para o setor, “ela é totalmente fragmentada”, criticou. Segundo ele, os pilares dessa política devem estar na esfera federal, por isso defende a criação de um espaço específico para o assunto dentro da estrutura do governo.
Azevedo também invoca o debate envolvendo os três níveis de consumo dos recursos hídricos, que são agricultura (70%), indústria (20%) e abastecimento humano (10%) como fundamental para realmente se definir ações eficazes. “O que adianta discutir os 10% sem incluir os outros 90%?”, questionou. Outro ponto sensível é a perda de água já tratada, ou seja, já um serviço, na ordem de 50% a 60% em todo o País pelas companhias estaduais de água. Por isso, vê com urgência a revitalização dessas empresas. “Temos de parar de chorar e apresentar soluções”, conclamou, dizendo que o setor industrial, que visa lucros e resultados, já está se movimentando para resolver ou minimizar a situação.
Otimizar os recursos hídricos não se sustenta com uma boa gestão sem recursos. Ele contabiliza que, até 2033, o setor requererá investimentos na ordem de 20 bilhões de reais por ano. Nesse sentido, observa que os governos (federal, estadual e municipal) não têm como arcar sozinhos com isso. “A complementaridade com a iniciativa privada é fundamental, e não devemos ver isso como a entrega de um patrimônio.”
A questão tecnológica, analisa Azevedo, passa por discutir o reúso da água, a dessalinização, sendo que esta última existe desde 1928. Ao final de sua explanação, informou que o Brasil sediará, em 2018, o Fórum Mundial da Água, em Brasília.
Lições hídricas
Na sua fala, Viol, abordando as lições da crise hídrica na Região Metropolitana de São Paulo, discorreu sobre planejamento, planos de saneamento, aspectos relevantes, medidas emergências e lições da crise. Segundo ele, o País precisa de enormes investimentos com estimativa de cerca de 300 bilhões de reais para os vetores água e energia.
Nos aspectos relevantes no planejamento do abastecimento da água, propõe a ampliação das fontes de abastecimento, a utilização do reúso como fator de aumento da oferta de água potável, a identificação de nascentes e mananciais que devem ser preservados e as recomendações técnicas pertinentes para sua recuperação, dando valor a um patrimônio escasso que continua a ser degradado e invadido e, ainda, a implantação de diretrizes para o aproveitamento adequado dos aquíferos subterrâneos.
Ainda são importantes, defende Viol, propostas para implementação da gestão integrada dos sistemas de abastecimento nas regiões de alta concentração populacional. Ao mesmo tempo, defende medidas emergenciais de curto prazo, como a execução de obras para a integração dos sistemas de abastecimento (represas Billings, Alto Tietê, Cantareira etc.), a opção pela operação de controle de pressão a níveis adequados à necessária redução do consumo e das perdas, antecedendo o rodízio a ser utilizado como última medida de racionamento.
O diretor do Sinaenco explica que a crise hídrica está centrada numa região que precisa de precipitações pluviométricas de aproximadamente 1.400 mm por ano para evitar a escassez de água. Por última, Viol defende o investimento de recursos em planos que resultem no desenvolvimento da infraestrutura de saneamento no País.
Acesso à água limpa
Na apresentação “Água e energia – enfrentar a crise e buscar o desenvolvimento”, Cordeiro também destacou cinco grandes eixos para se discutir seriamente, e com resultados, o problema atual, são eles: planejamento, gestão, recursos, tecnologia e cultural. Informou que entre as 14 áreas de relevância da engenharia, no século XXI, definidas pela organização americana Grand Challenges for Engineering, está o de providenciar o acesso à água limpa. Ele também defende que o uso do recurso na agricultura e na agropecuária deve ser colocado como destaque também.
Para ele, a engenharia tem como apresentar as soluções aos problemas desde que haja vontade política, gestão, recursos e planejamento por parte dos governos.
A mesa foi coordenada pelo vice-presidente da FNE, Carlos Abraham, e também com a participação de Manoel Guerra, diretor da Delegacia Sindical do SEESP de Presidente Prudente, que observou que a engenharia representada pela federação estava na contramão dos tempos atuais, por ter uma atitude proativa de debate o assunto para apresentação de propostas e avisou que já estão programados mais dois seminários sobre o mesmo tema para acontecer em Piauí e no Rio Grande do Sul. Os alunos do Isitec participaram do seminário também.
Fotos: Beatriz Arruda
Alunos do Isitec se mostraram bastante interessados nas informações apresentadas no seminário
Biotecnologia
O engenheiro Miguel Manso, do Partido Pátria Livre (PPL), solicitou uma breve exposição para apresentar vídeo com a invenção do pesquisador Galdino Santana Limas, de Laguna (SC), que transforma a água do mar em potável utilizando bambu. O método resulta em menos resíduos e é mais barato do que o tradicional. Em setembro, ele vai apresentar o projeto em Pernambuco.
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Confira as apresentações
Newton Lima de Azevedo http://goo.gl/FIZDCZ
João Alberto Viol http://goo.gl/rRa8sD
João Sérgio Cordeiro http://goo.gl/uVJqKa
Rosângela Ribeiro Gil
Impresa SEESP