Com a alienação dos segmentos beneficiados, resta aos setores progressistas e de esquerda — independentemente de sua posição em relação ao atual governo — liderar um processo de formação política e de resistência, além de pressionar o governo e o Parlamento para que não se deixem dominar pelas forças de mercado, como demonstra a desenvoltura do presidente da Câmara dos Deputados e dos ministros da área econômica. Ou os partidos de esquerda e os movimentos sociais atuam para alterar a correlação de forças, ou as forças conservadoras e neoliberais conseguirão revogar as conquistas econômicas e sociais dos últimos anos.
Informações de bastidores dão conta de que o establishment, embora tenha batido e pretenda bater sem piedade na presidente Dilma, não tem interesse em seu impeachment. Mas tem todo o interesse em inviabilizar política e eleitoralmente a esquerda brasileira, especialmente o PT e o ex-presidente Lula. Só enveredarão por outro caminho, apoiando eventual pedido de impedimento, se houver provas absolutamente contundentes do envolvimento direto da presidente com algo ilegal.
O raciocínio do poder econômico é que uma presidente fraca, impopular e sem apoio político fará concessões em termos de marcos regulatórios que nenhum outro faria, nem mesmo alguém com perfil liberal, como Aécio Neves. Os exemplos de concessões seriam a mudança no pré-sal, com o fim do regime de partilha, a eliminação da exigência de conteúdo nacional na aquisição de bens e serviços pela Administração Pública, entre outros que atualmente dificultam a entrada do capital privado ou limitam sua margem de retorno.
Ainda segundo essa visão, o afastamento da presidente não interessaria à oposição nem mesmo ao PSDB, porque se houvesse o impedimento o partido seria obrigado moralmente a apoiar o sucessor e se inviabilizaria como alternativa de poder para 2018. Mas eventual pedido de impeachment, mesmo que sem chances de prosperar, poderia servir ao propósito de também macular moralmente a presidente Dilma e mantê-la impopular até o fim do mandato.
Também não interessaria ao próprio PMDB, que sendo parte do governo, sem a titularidade, tem todos os bônus sem nenhum ônus, já que não lhe será debitado ou atribuído eventual fracasso do governo. No exercício da Presidência da República, além de maior fiscalização da sociedade, as bancadas da Câmara e do Senado não teriam a mesma liberdade que têm para exigir concessões do governo.
Por essa lógica, uma coisa já seria certa para eles em 2018: o PT não faria o sucessor. O fundamento para tanto, seria, de um lado, a impopularidade e a deslegitimação do governo, incapaz de estancar a onda de mudanças nos marcos regulatórios (e até mesmo podendo aderir a ela, para buscar o apoio empresarial e da mídia), inclusive nas relações de trabalho, e, de outro, pela força da liderança dos ministros da Fazenda, da Industria e Comercio Exterior, da Agricultura e das Pequenas e Micro Empresas, que defendem a agenda liberal no governo.
Estão convencidos de que a tática de sangrar a presidente será infalível. Não temem o que ocorreu com Lula em 2006, porque, diferentemente de Dilma, ele e seu governo se recuperaram por força do carisma pessoal do ex-presidente e pelo fato de seu governo ter sido beneficiado pelo crescimento econômico mundial, o que, na avaliação deles, não acontecerá com a presidente.
Além disto, considerando a transição que estaria sendo feita pelos ministros da área econômica, fosse quem fosse o próximo presidente da República, ele não teria como reverter as mudanças em bases neoliberais que seriam levadas a efeito na gestão Dilma.
Portanto, a opção de manter uma presidente fraca seria a solução mais adequada, porque eles ganhariam em qualquer hipótese. Ou seja, arrancariam dela tudo que fosse possível em termos de concessões e ainda fariam o sucessor. Esse é o cenário com que trabalham as forças de mercado.
Realmente, o risco de retrocesso é grande, especialmente porque o governo, nos últimos 12 anos, apesar de ter criado as condições para a ascensão social e ter promovido importantes avanços econômicos e sociais no País, negligenciou a politização da sociedade e sua conscientização cívica. Ou seja, não informou que o ambiente para a geração de emprego e renda, assim como para a criação e manutenção de programas sociais e de acesso à educação custeados pelo Estado, dependem das opções ou políticas governamentais.
Com a alienação dos segmentos beneficiados, resta aos setores progressistas e de esquerda — independentemente de sua posição em relação ao atual governo — liderar um processo de formação política e de resistência, além de pressionar o governo e o Parlamento para que não se deixem dominar pelas forças de mercado, como demonstra a desenvoltura do presidente da Câmara dos Deputados e dos ministros da área econômica.
Ou os partidos de esquerda e os movimentos sociais atuam para alterar a correlação de forças, ou as forças conservadoras e neoliberais conseguirão revogar as conquistas econômicas e sociais dos últimos anos.
* Antônio Augusto de Queiroz, jornalista, analista político e diretor de Documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap)
O presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) manteve reunião, na tarde desta terça-feira (28/4), com representantes da indústria e dos trabalhadores discutindo o projeto que expande e cria novas regras para a terceirização de mão de obra. Ao final dos encontros, Renan disse que tanto as centrais sindicais quanto a própria presidente da República Dilma Rousseff precisam ter claro como deve ser a regulamentação da terceirização.
Foto: Jonas Pereira/Agência Senado
Centrais sindicais, em audiência com presidente do Senado, criticam
projeto que expande a terceirização para a atividade-fim
“O que está em jogo é uma nova opção de desenvolvimento. Você querer terceirizar a atividade-fim significa querer precarizar as relações de trabalho e deteriorar o produto nacional. Tirar completamente a competitividade. Eu acho que é esse o debate que precisa ser feito e as centrais precisam claramente dizer o que elas acham”, disse Renan.
O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, defendeu que o Senado apresente uma nova proposta para tratar exclusivamente da situação dos trabalhadores terceirizados sem mexer com os direitos dos demais. Segundo ele, o presidente do Senado assegurou que a proposta não vai ser votada no afogadilho, mas terá uma análise normal. No entanto, Freitas foi enfático ao dizer que se as negociações não progredirem, os trabalhadores vão parar.
“Se tudo isso não funcionar, nós vamos fazer uma greve contra o projeto da terceirização. Nós pretendemos que isso seja resolvido por negociação. A precarização trazida por esta proposta leva o Brasil para 60 anos atrás”, declarou o presidente da CUT.
Renan Calheiros deixou claro, porém, que o projeto da terceirização é uma agenda do Legislativo. De acordo com ele, do mesmo jeito que não cabe a ninguém de fora do Parlamento definir o cronograma de votação, também não é papel das centrais dizer como o Senado deve proceder.
“Da mesma forma que ninguém pode ter o cronograma de tramitação de uma proposta legislativa, as centrais sindicais não podem decidir o que devemos fazer no Legislativo. Nós estamos vivendo um momento de ativismo legislativo. O Legislativo está demonstrando, mais do que nunca, que sabe o que quer e as centrais não podem dizer o que a gente pode fazer ou não”, disse Renan.
Presente ao encontro, o presidente da UGT, Ricardo Patah, disse que ouviu do presidente do Senado, aquilo que todos os trabalhadores já conhecem: o PL 4.330 precariza o trabalho, é uma violência contra a CLT e vai transformar todos os trabalhadores brasileiros em terceirizados.
Ao final do encontro, Renan concedeu coletiva à imprensa. Indagado se os trabalhadores e sindicalistas poderão acompanhar os debates no Senado, ele respondeu: “Claro que vão. Eles sempre puderam”, disse.
Fim da CLT
Também na defesa de mudanças no projeto da terceirização de mão de obra, o presidente do PDT, Carlos Lupi (RJ), disse ao presidente do Senado que a ideia pode acabar com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Além disso, Lupi defendeu um debate aprofundado da proposta.
“Isso significa precarizar o serviço. Significa rasgar e enterrar a CLT de vez. Nós apresentamos nossa reivindicação ao presidente do Senado para que tenha um trâmite tranquilo, normal no Senado, não como foi na Câmara, apressado demais”, informou Lupi.
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson de Andrade, garantiu que o projeto da terceirização é importante não apenas para o setor que ele representa, mas para a economia como um todo. Segundo ele, mais de 12 milhões de trabalhadores aguardam pela regulamentação do trabalho terceirizado.
“É uma reunião entre trabalhador e os setores da economia para que essa legislação possa ser aprovada. Estamos dispostos a negociar, mas pedimos ao senador para que a proposta seja votada. Ele entendeu os nossos argumentos e estamos marcando uma reunião mais técnica para apresentarmos a proposta”, informou o presidente da CNI. (Com Agência Senado)
Fonte: Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap)
Acostumados a conviver com a alternância entre períodos de seca e de inundações, os australianos foram surpreendidos no fim do século 20 pela chamada Seca do Milênio, uma estiagem sem precedentes que atingiu todo o país entre os anos de 1997 e 2009 e afetou fortemente a cidade de Melbourne, capital do estado de Victoria.
“Foi uma seca completamente diferente do que se poderia prever com a análise de mais de 100 anos de registros meteorológicos. Quando a estiagem finalmente terminou, tivemos enchentes em várias cidades, além de fortes ondas de calor. Foram batidos 123 recordes meteorológicos, de precipitação e de temperatura, no verão de 2012/2013. No ano seguinte, foram 156 recordes”, relatou Tony Wong, diretor executivo do Centro de Pesquisa Cooperativa para Cidades Sensíveis à Água – uma iniciativa do governo australiano que reúne pesquisadores de várias áreas e instituições, indústrias e parceiros governamentais para o desenvolvimento de soluções sociais e tecnológicas para a gestão da água urbana.
A seca afetou fortemente o afluxo de água para os reservatórios responsáveis pelo abastecimento de Melbourne. Em 2008, o nível da principal represa da região, instalada no rio Thomson, era semelhante à situação atual do sistema Cantareira, em São Paulo. Embora o nível da represa australiana tenha melhorado nos anos seguintes, jamais retornou à média histórica e voltou a cair recentemente.
“Houve um momento em que ficamos realmente preocupados, pois havia água suficiente apenas para 18 meses de abastecimento. Foi quando tomamos a decisão de construir uma planta de dessalinização”, contou Wong.
Em um evento realizado em São Paulo, no dia 22 de abril, com a participação da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp), Wong afirmou que a Seca do Milênio ensinou duas importantes lições aos australianos. A primeira é que, em um cenário de mudanças climáticas sujeito a eventos extremos, a gestão dos recursos hídricos de uma cidade não pode se basear apenas na análise de séries históricas de dados meteorológicos.
Além disso, a infraestrutura para o futuro deve ser planejada de modo a acomodar os eventos extremos de maneira integrada, ou seja, as soluções não devem mirar fenômenos como seca e enchente isoladamente.
Ele lembrou que, desde 2004, quando os especialistas australianos ainda afirmavam que a estiagem não passava de um evento comum de variabilidade climática, o governo de Victoria já vinha tomando uma série de medidas para minimizar os impactos da escassez hídrica. O primeiro passo foi investir em estratégias de conservação da água.
“Teve início uma grande campanha para mudar o comportamento das pessoas. Um grande cartaz foi instalado em nossa principal estação de trem para alertar diariamente para os níveis dos reservatórios, e os índices iam caindo dia a dia. Foi então que percebemos que estávamos enfrentando uma crise hídrica”, relatou.
Em nível nacional, os cidadãos tiveram de conviver com medidas de restrição. Foram proibidos, por exemplo, de usar água potável na lavagem de carros ou na irrigação de jardins.
A campanha para a redução do consumo doméstico foi aliada a estratégias de conservação no setor agrícola. Um programa de modernização dos sistemas de irrigação já havia começado a ser implantado antes mesmo do início da seca e ajudou a aumentar a eficiência no uso da água de 30% para 80% nas fazendas australianas. Além disso, foi criado uma espécie de mercado da água, no qual os fazendeiros podiam vender seu excedente para colegas cujas culturas demandam maior volume de recurso hídrico.
“O consumo por habitante em Melbourne começou a cair na medida em que a comunidade como um todo foi ficando mais engajada. Se não fosse por essa mudança de comportamento, teríamos ficado completamente sem água até 2009. A estratégia de conservação salvou a cidade, pois não havia tempo hábil para construir a planta de dessalinização”, disse Wong.
Paralelamente às medidas de conservação, foram idealizadas iniciativas para aumentar a captação de água de fontes alternativas, que incluíram o desenvolvimento de infraestrutura para aproveitamento de águas pluviais e reciclagem de águas residuárias.
“Mas por volta de 2007 ficou evidente que todas essas iniciativas levam tempo para serem efetivadas e apresentarem soluções reais e, por isso, o governo decidiu investir em dessalinização. A seca terminou antes de a planta ficar pronta e até hoje ela não foi acionada. Mas essa infraestrutura nos concedeu um período de certeza – de que se a seca vier, não faltará água – e nos permite investir em soluções de longo prazo mais sustentáveis como reciclagem de água”, avaliou Wong.
Fonte: Por Karina Toledo|Agência Fapesp
Na noite desta terça-feira (27/4), a Câmara dos Deputados aprovou em plenário projeto de lei (PL) que prevê a não obrigatoriedade da rotulagem de alimentos que possuem ingredientes transgênicos. Foram 320 votos a favor e 120 contra. Muitos consideram o PL 4148/2008, do deputado ruralista Luiz Carlos Heinze (PP/RS), um atentado ao direito à informação da população, cujo projeto só beneficiaria as empresas do agronegócio que querem esconder a origem do produto comercializado. Agora, o PL segue para o Senado.
Como funciona
Pela atual lei, desde 2003, todos os produtos que contêm os chamados Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) devem trazer em seus rótulos o símbolo T amarelo e a informação da espécie doadora dos genes.
Foto: Portal MST
Lei de 2003 obrigava empresas a avisarem consumidores a origem transgênica
do produto com um T num triângulo de fundo amarelo, como o da foto
O projeto 4148 pretende, no entanto, suplantar essa conquista do consumidor em favor da liberdade da indústria alimentícia de não informar o real conteúdo que disponibiliza nas prateleiras.
Com isso, a população corre o risco de consumir produtos, como óleos, bolachas, margarinas, enlatados e papas de bebê sem saber se não seguros ou não.
Retirar o símbolo T amarelo violaria o artigo 6º do Código do Consumidor, que prevê o direito à informação sobre o que se está adquirindo ao se comprar e consumir um produto.
Muitas das empresas já descumprem essa legislação e camuflam a real procedência do alimento. Atualmente, 92,4% da soja e 81,4% do milho do país são de origem transgênica.
A grande questão é que ainda não se sabe os reais riscos do uso dos transgênicos para a saúde do ser humano nem para o meio ambiente.
Porém, existe um elemento jurídico do Direito Ambiental chamado Princípio da Precaução, pelo qual o Estado tem o dever de evitar intervenções indevidas para a manutenção dos processos ecológicos em seus mais diversos âmbitos, mesmo não conhecendo seu real perigo.
Interferência do poder econômico
Numa recente entrevista à Adital, o sociólogo Rubem Siqueira, membro da Coordenação Nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT), chamou a atenção para a interferência do poder econômico das grandes empresas privadas na política institucional brasileira.
Para ele, existe, uma estratégia do poder econômico global, cerca de seis ou oito conglomerados da indústria de tecnologia de alimentos, que pretendem controlar a cadeia produtiva mundial.
"Essas empresas, que detêm essa tecnologia, querem fazer um grande oligopólio de alimentos no mundo. Imagine o poder político que isso tem”, explicou Siqueira.
"São essas empresas que bancam os deputados que estão propondo e boa parte dos que estão votando. No submundo disso, há o financiamento de campanha. Por isso é que as campanhas, hoje, são tão caras. Quando a gente vota, não está outorgando um poder para um político baseado no que ele diz”, apontou.
"Essas empresas é quem tem o poder real. Temos a ilusão de que se está decidindo pelo voto, mas o poder econômico é que é o grande poder político no Brasil”, acrescentou o sociólogo.
O coordenador da CPT ressaltou que é obrigação do Estado garantir o acesso à informação à população. No caso dos produtos transgênicos, saber do que se trata para optarmos se queremos comprar ou não.
Fonte: MST
O presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, disse, nesta terça-feira (28/4), que deve concluir em 40 dias o novo plano de negócios da estatal. Segundo ele, este é o maior desafio que a empresa tem pela frente. Além disso, destacou que está em curso uma completa reorganização administrativa da empresa.
“Pretendemos trabalhar muito forte no ponto de vista da governança corporativa da empresa, na mitigação de riscos, para que possamos ter processos decisórios dentro da empresa com muito maior segurança e sem perder agilidade”, avaliou Bendine durante audiência conjunta das comissões de Serviços de Infraestrutura (CI) e de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.
O presidente da petrolífera destacou que depois que assumiu o comando da estatal, em fevereiro deste ano, venceu dois desafios como a apresentação de um balanço crível da companhia relativo a 2014 e a financiabilidade da estatal para este ano.
A participação de Bendine na audiência pública ocorre uma semana após a divulgação do balanço auditado de 2014 que detectou prejuízos de R$ 21,6 bilhões, sendo mais de R$ 6 bilhões somente com a corrupção. Com dívida líquida de R$ 282 bilhões, a Petrobras precisaria operar por cinco anos para quitar todos os seus débitos, de acordo com o balanço. O prazo está acima do ideal para a direção da empresa, que busca baixar para 2,5 anos.
“Esse balanço, naturalmente, é fruto, produto e resultado, nos últimos anos, da coordenação do atual governo na Petrobras. Essa companhia esteve subordinada aos piores padrões de administração e gestão e aos instintos mais selvagens de dilapidação do patrimônio público brasileiro que foi construído ao longo de muitas décadas, inclusive com esforço dos muitos profissionais da Petrobras”, disse o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES).
Fonte: Agência Brasil
Jefferson Nascimento de Oliveira é professor do Departamento de Engenharia Civil da Faculdade de Engenharia, Câmpus de Ilha Solteira, e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Unidade. Desde 2013 é presidente da Câmara Técnica de Ciência e Tecnologia do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH). Atua na área de Engenharia Sanitária, com ênfase em gerenciamento de recursos hídricos, águas subterrâneas e drenagem urbana. O especialista foi entrevistado pelo Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais da Universidade Estadual Paulista (IPPRI/Unesp) para alertar sobre a escassez de água. O especial está disponível neste link.
IPPRI/Unesp – Embora a falta de chuvas tenha exposto o problema de gestão hídrica no Estado de São Paulo, sabemos que a questão é nacional. Como o senhor analisa a gestão de recursos hídricos no Brasil?
Oliveira – Nossa relação com a água não é sadia. Precisamos mudar nossa consciência em relação aos recursos hídricos. Acomodamo-nos com a noção de sermos os maiores detentores de água doce do mundo e essa questão cultural é prejudicial. A ONU (Organização das Nações Unidas) aplica o conceito de “escassez econômica de água” para algumas bacias hidrográficas no Brasil. Isto é, existe água em determinadas regiões, porém faltam recursos para tratá-la e distribuí-la. Já é situação de escassez a água disponível para a região metropolitana de São Paulo.
O grande risco são as soluções imediatistas. Na crise, falam-se em dessalinizar água do mar. Não é assim que funciona. Em geral, o problema nasce pequeno e, se não são tomadas iniciativas para solucioná-lo, vira transtorno. São Paulo e o país todo têm problemas de falta de água.
Os estudos apontam não haver estresse hídrico quando existe a disponibilidade de 1,7 mil m³ ou mais de água por habitante/ano. Menos do que 500 m³ de água por habitante/ano a situação é de estresse hídrico. Agora observe, segundo o Plano Estadual de Recursos Hídricos relativo a 2012-2015, a Região Metropolitana de São Paulo dispõe de 140 m³ de água por habitante/ano, chegando a 110 m³ de água por habitante/ano, na bacia do Alto Tiête.
IPPRI/Unesp – Especialistas dizem que o país possui modernas leis de gerenciamento de recursos hídricos, destacando a gestão por bacia hidrográfica. O que impede a aplicação desses instrumentos legais?
Oliveira – Não adianta termos leis modernas e bem elaboradas se elas não forem implementadas de forma correta. Elas devem ser aplicadas conjuntamente entre os entes institucionais. Os organismos devem conversar entre si, evitar choque de interesses e procurar equacionar a disputa pela água. Há cerca de 43 mil famílias envolvidas com disputa pela água no país. A aplicação correta das leis minimizaria o problema de produção e consumo dessa matéria prima.
IPPRI/Unesp – O que significa “exportação virtual da água”?
Oliveira – O Brasil é grande exportador de commodities. Entre as principais, soja e minérios. Para serem produzidas, elas necessitam de água em abundância. O problema é que poucos Estados brasileiros cobram pela água explorada de seus mananciais por falta de implementação da lei de tarifação. Portanto, a extração é gratuita. Mesmo onde é cobrada, como na Bacia do PCJ em São Paulo – rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí – o preço é ínfimo. Cerca de R$ 0,0118 por m³. A água não está embutida no preço da commodity. O fato de não ser cobrada gera desperdício.
IPPRI/Unesp – Há formas de evitar isso?
Oliveira – Uma forma é parar de sermos meros exportadores de matéria prima. Modificar a nossa matriz exportadora para manufaturados ou semi-faturados, gerando valor agregado aos produtos e reduzindo o impacto hídrico.
IPPRI/Unesp – Qual a falha mais importante na gestão dos recursos hídricos no Brasil?
Oliveira – O país precisa repensar sua maneira de gerenciar esses recursos, a começar pela imposição de tarifa adequada pelo uso da água. Assim evitaria o mau uso.
IPPRI/Unesp – Em artigo para o Portal Unesp o senhor cita que o preço da água tratada no Brasil é inferior aos praticados pela telefonia móvel. E mais ainda, em muitos lugares há celulares, porém falta tratamento de esgoto e água. Como explicar esse fato?
Oliveira – As prioridades estão invertidas em nosso país. O grande valor não é mais a educação. Água tratada é saúde. O Rio Grande do Norte coleta 21,15% de esgoto e trata 21,09%. O Rio Grande do Sul, com status de desenvolvido, coleta 29,15% de esgoto, mas só trata 12,58%. Há um descaso para com as necessidades fundamentais do cidadão.
IPPRI/Unesp – Como acredita ser possível conscientizar para a preservação das fontes de água e seu uso sustentável?
Oliveira – Integrando a população com suas demandas. Fazê-la cobrar as metas propostas para a gestão dos recursos hídricos junto aos órgãos gestores. Perdemos a década da água, proposta da ONU para o período de 2005 a 2015. Ao invés de aproveitarmos o incentivo, os problemas se agravaram.
Fonte: Assessoria de Comunicação e Imprensa do Ippri/Unesp
Pesquisar a respeito das relações sociais e humanas exige análises muito mais detalhadas do que simplesmente considerar proposições encontradas em livros, artigos ou outros documentos quaisquer. É necessário ir a campo e compreender os distintos aspectos da sociedade — seus fenômenos, semelhanças e diferenças. Entendendo tal necessidade, a professora Maria Isaura Pereira de Queiroz, docente aposentada da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, fundou, junto a um grupo de professores do Departamento de Sociologia, o Centro de Estudos Rurais e Urbanos (Ceru).
O centro foi criado no início do ano de 1964, e a princípio chamava-se Centro de Estudos Rurais, pois as pesquisas eram relacionadas apenas a temáticas do meio rural. A necessidade de sua criação surgiu devido à falta de verba para levar os alunos a campo, dado que as aulas abarcavam situações teórico-práticas e ir às áreas rurais era fundamental para que bons resultados fossem alcançados. Funcionando como uma sociedade sem fins lucrativos, o Ceru, por meio de doações, continuou a possibilitar os trabalhos em campo dos alunos.
Com o decorrer do tempo, o centro se ampliou em virtude da chegada de novos pesquisadores, aumentando assim a diversidade de interesses e temas a serem estudados. De forma a se adequar às suas novas atividades o grupo passou a se chamar Centro de Estudos Rurais e Urbanos. Atualmente, o Ceru possui vínculo institucional mais amplo do que a FFLCH, pois em 1992 seus pesquisadores reivindicaram o status de Núcleo de Apoio à Pesquisa (NAP) e, desde então, está ligado à Pró-Reitoria de Pesquisa da USP, denominando-se NAP-Ceru.
Os pesquisadores vinculados ao Ceru vêm de diversas universidades, entre elas a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp); a Universidade Estadual Paulista (Unesp); a Pontifícia Universidade Católica (PUC); dentre outras. Segundo a professora Maria Helena Rocha Antuniassi, pesquisadora do Ceru, manter relações com diferentes universidades e pesquisadores é essencial. “O trabalho científico nunca é um trabalho isolado, principalmente na área das ciências sociais todas as ideias devem ser debatidas”, afirma.
Fonte: Agência Notícias da USP
O livro “Inserção Externa, Crescimento e Padrões de Consumo na Economia Brasileira” reúne elementos importantes para aprofundar o debate sobre o momento do desenvolvimento brasileiro. No ciclo de crescimento da última década, houve forte expansão do consumo das famílias, em particular daquelas cuja renda principal deriva-se de ocupações com remuneração direta ou indiretamente afetada pelo salário mínimo. O padrão de desenvolvimento que se afirmou possui, entretanto, alguns limites críticos ao seu prosseguimento, que se manifestam pelo baixo nível de investimento e crescente déficit nas transações correntes do balanço de pagamento.
A análise desta evolução constitui o principal objetivo do esforço de pesquisa empreendido pelo professor Carlos Aguiar de Medeiros, que buscou compreender não apenas as articulações entre o consumo das famílias e a estrutura da oferta que se afirmaram na economia brasileira na primeira década do século XXI, mas também situar a experiência brasileira em seu contexto histórico e compará-la com outros padrões de crescimento que se afirmaram contemporaneamente nas economias em desenvolvimento.
No primeiro capítulo, o autor disseca as conexões apresentadas na literatura keynesiana-estruturalista entre distribuição, crescimento e mudança estrutural. Dentro do princípio de que os consumidores aplicam as proporções de seus gastos em bens e poupança, em função da renda. A partir da crítica a essa literatura e das experiências de crescimento econômico observadas em países em desenvolvimento selecionados, examina as relações entre distribuição, crescimento, estrutura produtiva e exportações, considerando a expansão das cadeias produtivas, particularmente na Ásia, e dos países exportadores de recursos naturais.
No segundo capítulo, o professor busca discutir algumas evidências sobre o processo de expansão e mudanças no padrão de consumo das famílias brasileiras na primeira década do século XXI. Mostra que a redução da pobreza, o aumento real do salário mínimo e do emprego assalariado formal, o crescimento do número de famílias no estrato médio da renda e a expansão do crédito ao consumidor ampliaram o tamanho dos mercados de bens correntes e duráveis de consumo, dos serviços modernos e do lazer.
Padrão de consumo e crescimento
No terceiro capítulo, Medeiros examina o efeito do salário mínimo sobre o emprego formal, a taxa de salários e a distribuição de renda do trabalho no processo de redução da pobreza e das desigualdades nas rendas do trabalho ocorridas na primeira década do século XXI na economia brasileira.
No quarto capítulo, o autor detalha a articulação entre o novo padrão de consumo com a oferta doméstica e as importações. Examina a evolução da estrutura da oferta em conexão com o comportamento da demanda das famílias. O autor procura evidenciar a composição setorial decorrente da expansão e do padrão de consumo dos estratos de renda da maioria da população brasileira.
No quinto capítulo, Carlos Aguiar de Medeiros salienta as interações entre crescimento, padrões de consumo e importações – sintetizando as transformações estruturais ocorridas na economia brasileira na primeira década do milênio – e delineia possíveis estratégias a serem implementadas a fim de avançar o desenvolvimento econômico do país. A expansão do mercado interno, dinamizado pelo consumo dos assalariados na base da pirâmide ocupacional e pela redução da pobreza, desencadeou um processo de desconcentração de renda em uma sociedade extremamente desigual e caracterizada por insuficiente e assimétrica provisão de serviços públicos.
* Acesse aqui o livro “Inserção Externa, Crescimento e Padrões de Consumo na Economia Brasileira”
Fonte: Ipea
Chegar mais rápido ao se deslocar pela Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) e ao mesmo tempo praticar atividade física pode ser possível se houver alterações nos meios de transporte para o deslocamento e no planejamento urbano. Apenas a combinação de mais viagens curtas e uso de transporte público serão capazes de influenciar a saúde da população, reduzindo tanto o tempo total dos deslocamentos e o tempo “parado” e, ao mesmo tempo, aumentando a prática de atividade física associada às viagens cotidianas.
A análise foi feita pelos pesquisadores Thiago Hérick de Sá, Carlos Augusto Monteiro e Diana Parra do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens), da Faculdade de Saúde Pública da USP. O estudo avaliou o potencial impacto de cenários alternativos de transporte e planejamento urbano na RMSP sobre a prática de atividade física, sobre o tempo não ativo e sobre o tempo total acumulado pela população em seus deslocamentos diários.
O tempo total de qualquer viagem pode ser dividido entre a parte que foi feita de forma ativa, comumente a pé ou de bicicleta, e aquela não ativa, de pé ou sentado. “Quando você sai de casa e pega um ônibus, parte dessa viagem é ativa porque você andou até o ponto. O período dentro do transporte público é não ativo, sentado ou de pé. Já dentro do carro, por exemplo, este tempo não ativo será sentado, invariavelmente”, explica Thiago.
Os pesquisadores incluíram a análise do tempo não ativo durante os deslocamentos porque algumas pesquisas sugerem que o excesso de tempo sentado ao longo do dia pode influenciar na saúde. “O tempo não ativo não é exatamente igual ao tempo sentado, mas ele nos fornece uma noção sobre o tempo sentado no contexto dos deslocamentos. Passar muito tempo sentado pode trazer prejuízos à saúde, mesmo que a pessoa pratique atividade física regularmente”, alerta Thiago.
Dados
Para a construção dos cenários, o estudo se baseou nos dados da pesquisa “Origem e Destino da Região Metropolitana de São Paulo de 2007”, realizada a cada dez anos pelo Metrô de São Paulo. A análise é voltada à população adulta e economicamente ativa, de 18 a 60 anos, da RMSP.
De acordo com o pesquisador, atualmente, a distribuição das viagens na RMSP é de, aproximadamente, um terço em veículos particulares, um terço em transporte público e um terço em forma ativa — a pé e de bicicleta. “Na Região Metropolitana, há uma distribuição desigual entre a oferta de trabalho e o local onde as pessoas vivem, obrigando-as a se deslocar grandes distâncias e a fazer viagens muito longas todos os dias”.
A partir desses dados, foram construídos três cenários diferentes de acordo com substituições nos modos de transporte das pessoas e no número de viagens longas que elas precisam fazer, e avaliado o efeito de cada uma dessas alterações sobre o tempo total das viagens, o tempo ativo e o tempo não ativo.
Cenários
Na primeira projeção do estudo, os pesquisadores analisaram a troca das viagens curtas (inferiores a mil metros) motorizadas —veículos individuais ou transporte público — por caminhada. “Hoje, o tempo médio acumulado de viagem na RMSP é de 86,4 minutos por habitante para o subgrupo estudado, dos quais, 19,4 minutos se dá de forma ativa e 67 minutos, não ativa. Quando a gente substitui todas as viagens curtas motorizadas por caminhada, nada muda em relação à diminuição do tempo gasto de deslocamento (86,2 minutos) ou de tempo ativo (19,6 minutos) e não ativo (66,4 minutos). Se uma pessoa que vai à padaria de carro passa a ir caminhando, ela terá ganhos enormes para a sua saúde. Mas o impacto positivo desta alteração sobre os determinantes da saúde da população é baixo”, analisa Thiago.
Cenário ideal
No cenário dois, os deslocamentos mais longos, com mais de mil metros, feitos por veículos motorizados individuais foram substituídos por transporte público. O resultado mostrou que o tempo médio acumulado de viagem aumentou para 100,4 minutos e o tempo não ativo passou para 74 minutos e 26,3 minutos de tempo ativo.
“O deslocamento ativo médio populacional aumentou sete minutos, o que é ótimo, mas o problema é que o tempo de viagem e o não ativo também foi maior. Por mais que o aumento da atividade física nos deslocamentos seja algo positivo, não adianta as pessoas fazerem mais atividade física gastando ainda mais tempo nos deslocamentos do dia a dia”, ressalta o pesquisador.
O cenário três combina os cenários um e dois, mas nessa projeção haveria uma mudança na Região Metropolitana de São Paulo: o arranjo urbano seria alterado de modo a reduzir a necessidade de viagens longas. Por exemplo, os locais de trabalho das pessoas seriam próximos de suas residências e a distribuição dos equipamentos e serviços públicos na RMSP seria descentralizada.
Assim, metade das viagens longas foi substituída por viagens curtas e os deslocamentos seriam feitas apenas por transporte público ou a pé. O resultado apontou uma queda brusca no tempo de viagem para 52,9 minutos e no tempo não ativo para 26,2 minutos, com a manutenção do tempo ativo em torno de 26 minutos.
“Nesse cenário, conseguimos ter mais atividade física nos deslocamentos (tempo ativo) que é fundamental, além de ser uma possível meta do desenvolvimento humano sustentável para as cidades nas próximas décadas Além disso, vimos uma diminuição em dois problemas, gastar muito tempo nos deslocamentos e, pior, muito tempo inativo”, avalia Thiago.
Segundo o pesquisador, a construção desses cenários é utópica, mas não impossível. “Tanto que há várias cidades do mundo perseguindo esses cenários. Helsinki, na Finlândia, pretende chegar a uma realidade próxima disto em dez anos. É fundamental uma combinação de investimento e valorização das formas ativas de deslocamento, como caminhada e bicicleta, além do fortalecimento do transporte público, deixando-o mais capilarizado, democrático, confortável e seguro. Além disso, precisamos de uma reorganização urgente no planejamento urbano da região, porque apenas melhorias no transporte não vão dar conta de resolver o problema da Região Metropolitana de São Paulo”.
Fonte: Agência USP de Notícias
Discutir as tendências da engenharia no século 21 é o objetivo da palestra que será ministrada pelo professor José Goldemberg, professor emérito da Universidade de São Paulo USP), no dia 7 de maio, das 18h30 às 19h30, no Centro Universitário Senac (Av. Engenheiro Eusébio Stevaux, 823 - Santo Amaro). O evento tem como proposta discutir a formação do engenheiro e os desafios da profissão para este século. Ele é gratuito e aberto para todos os interessados, principalmente para estudantes de ensino médio que querem entender melhor a profissão e as oportunidades de carreira.
“A engenharia enfrenta novos desafios e problemas. São passados os dias em que a formação era necessária apenas para construir pontes, estradas, edifícios, eletricidade, os combustíveis, automóveis e caminhões que caracterizaram o século 20. Hoje a engenharia desenha e produz novos materiais, usa a tecnologia da informação, a robótica, desenvolve equipamento hospitalar de alta complexidade e permite viagens espaciais”, explica Goldemberg. Para atender mercados globalizados e competitivos, mais do que nunca é preciso estar em sintonia com as tendências da área. “Os principais desafios do ensino no século 21 são preparar o profissional que trabalhe nestas áreas para torná-lo capaz de fazer novos projetos e garantir sua manutenção”, ressalta Goldemberg.
De acordo com o coordenador do curso de Engenharia de Produção do Centro Universitário Senac, Sérgio Mancini, a carreira de engenheiro está em ascensão no Brasil. "O mercado precisa de profissionais com novo perfil, com visão sistêmica, capazes de lidar com a diversidade, com competências de gestão, boa capacidade de relacionamento interpessoal e com alguma experiência, além da qualidade da formação técnica”, explica.
Os cursos de engenharia do Centro Universitário Senac – Santo Amaro oferecem a formação de profissionais para o setor industrial e de serviços, com programas pautados por conteúdos de responsabilidade social, empreendedorismo, sustentabilidade e inovação tecnológica, o que garante ao estudante um perfil competitivo em relação a profissionais com formações tradicionais.
Fonte: Assessoria do Senac