Uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) pode retomar a pauta da revisão de benefícios de aposentados e pensionistas que durante o chamado “buraco negro” não tiveram suas remunerações ajustadas. No período compreendido entre outubro de 1988 e abril de 1991, a aposentadoria não tinha índice de correção, mas agora a decisão de um ministro trouxe à tona as revisões dos recebimentos de inativos daquela época.
O marco para as novas análises para os pedidos de revisão se deu a uma sentença em última instância proferida pelo ministro Roberto Barroso do STF. O caso analisado pelo jurista garantiu o direito de um aposentado contra o pedido para barrar a nova análise de seu benefício por parte do INSS, representada por uma contestação da Autarquia.
Importância da decisão
“A decisão do ministro implica em uma abertura que será benéfica para mais de 300 mil beneficiários do Instituto que não gozavam dos reajustes de suas aposentadorias e pensões. Com esta brecha legal que se aplica, os reajustes para estes inativos chegam a 42%”, declara o advogado Willi Fernandes, coordenador jurídico da Associação Paulista dos Beneficiários da Seguridade e Previdência (Apabesp).
De acordo com o advogado da associação, a decisão ampara o direito dos aposentados que tiveram prejuízo com a falta de reajustes em suas aposentadorias. Entretanto, ele reforça que é preciso entrar com uma ação na Justiça solicitando a correção dos recebimentos.
“Muitos tribunais que não reconhecem tal direito estão mudando seu posicionamento em relação ao tema e devem com isso assegurar o direito dos aposentados, que tanto contribuíram e que, na hora de usufruir de um direito seu, se encontram desamparados”, comenta o especialista em direito previdenciário.
Outro ponto positivo na decisão do ministro do Supremo é que não há prazo de decadência para entrar com a ação na Justiça. “Por se tratar de reajuste no benefício e não em sua renda inicial, a Corte entende que não precisa de prazo de decadência. Existe ainda a possibilidade de se pedir a tutela antecipada, que é o pedido de liminar para cobrar a revisão do benefício”, sustenta o advogado.
Fonte: Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap)
O setor de aposentadoria do SEESP alerta aos profissionais aposentados ou que estão se aposentando sobre possíveis fraudes referentes a empréstimo consignado. “É importante que o segurado verifique sempre o valor da aposentadoria e qualquer tipo de redução do provento entrar em contato urgente com o nosso departamento”, orienta Cristina Cogo. Segundo ela, algumas pessoas estão percebendo desconto na aposentadoria por empréstimo consignado que não contraíram.
Cogo recomenda, como medida preventiva para evitar qualquer contratempo nesse sentido, solicitar o “bloqueio” do empréstimo consignado diretamente no setor de Manutenção em alguma das agências do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). “A questão é grave. Alguns aposentados estão tendo uma dor de cabeça enorme para provar que não fizeram essa operação e, assim, suspender os descontos”, observa. Mais informação ligue para (11) 3113-2662 ou vá direto ao setor, na sede do SEESP, na Capital paulista. O atendimento é das 14h às 17h.
O sindicato também enviará ofício à superintendência do INSS informando sobre os casos que estão acontecendo com os engenheiros e solicitando medidas urgentes reparadoras para impedir que o contribuinte seja prejudicado no recebimento da sua aposentadoria.
Foto: Jéssica Silva
Cristina Cogo alerta aposentados a verificarem sempre o valor do provento
Vazamento de informações
Recentemente, inclusive, foi publicada uma matéria, na Agência Brasil, informando que o Ministério Público Federal no Espírito Santo deve começar a desvendar, até o final de março, como bancos e financeiras conseguiram obter informações de trabalhadores que pediram a aposentadoria. As instituições financeiras ligaram para trabalhadores oferecendo crédito consignado (descontado em folha) antes mesmo que os beneficiados soubessem que tiveram o pedido de aposentadoria aceito pelo INSS.
O procurador da República Carlos Vinícius Cabeleira disse que somente na Procuradoria do Espírito Santo foram feitas três denúncias, mas há registros de outros casos em vários lugares do país. “As pessoas fizeram algumas representações aqui no Ministério Público Federal dizendo que antes delas terem conhecimento de que tinha sido deferido o benefício da aposentadoria, elas já estavam recebendo ligações de instituições financeiras oferecendo crédito consignado. Então, isso deixa claro que não foram elas que deram esses dados para as instituições financeiras”, ressaltou.
Carlos Vinícius explicou que o INSS repassa dados do benefício apenas para a instituição que será responsável por fazer o pagamento. “Nesses casos, [quem ligou para os trabalhadores] não era a instituição financeira responsável por fazer o pagamento do benefício.”
Segundo o procurador, está sendo verificado se os bancos trocam informações, se há algum vazamento irregular ou alguma falha no sistema que permite acesso generalizado aos dados pelas instituições. “Deve ter ocorrido uma violação de direito do consumidor ou mau uso da informação recebida pelas instituições financeiras. O primeiro objetivo é fazer um compromisso com as instituições de não fazer mais isso. E verificar a possibilidade de pedir uma indenização por danos morais coletivos.”
Rosângela Ribeiro Gil
Imprensa SEESP
Sobre o tema “Gestão e tecnologia do solo e resíduos sólidos – guia para avaliação do potencial de contaminação em imóveis”, a próxima palestra será ministrada pela engenheira Maria Judith Marcondes Salgado Schmidt, no dia 17 de março, às 19h, também na sede da delegacia (Rua Venezuela , 271, Jardim das Nações, Taubaté/SP). Mais informações pelos telefones (12) 3633-5411 e 3633-7371 ou e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..
Imprensa SEESP
Com a divulgação dos números assustadores referentes à queda do PIB brasileiro em 2015 e com a confirmação dos dados gerais que indicam tal retrocesso até agora, torna-se cada vez mais urgente e necessária a luta pela retomada do desenvolvimento, já que a recessão não é natural nem eterna.
Embora prejudicada pela espetacularização da crise política, abre-se a oportunidade para uma discussão séria sobre as características da atual recessão e sobre as medidas corretas (do ponto de vista dos trabalhadores, da sociedade, do governo e dos empresários produtivistas) para enfrentá-la.
É óbvio que tais procedimentos não têm apelo midiático: não se noticia, por exemplo, a verdadeira campanha nas portas de fábricas dos metalúrgicos de São Paulo, nem as manifestações unitárias de trabalhadores em São Bernardo, em Gravataí, em Curitiba e em outras cidades contra o desemprego e nem se registra que a última reunião do Conselhão estabeleceu sete eixos temáticos de luta pela retomada do desenvolvimento.
A atual recessão tem quatro características marcantes: ela é intensa, generalizada, prolongada e não homogênea. Dessas quatro, as três primeiras podem ser facilmente constatadas em qualquer tabela de dados sobre a economia.
Quero destacar a quarta característica, que é a não homogeneidade do fenômeno recessivo em relação às regiões brasileiras, às cidades brasileiras, aos setores econômicos e às categorias de trabalhadores envolvidos.
A recessão manifesta-se de forma diferenciada, mais ou menos intensa ou aliviada, nas diversas regiões do país, concentrando seus efeitos maléficos no Sudeste.
Em cada região, por sua vez, as capitais, as grandes cidades e as regiões metropolitanas sofrem bem mais que o conjunto das outras cidades.
Há setores e grupos empresariais que estão com bom desempenho (principalmente aqueles ligados a exportação, a alguns tipos de manufaturas e os que incorporam alta tecnologia). Mesmo na indústria, setor avassalado pela recessão, mas que apresentou em janeiro um crescimento de 0,4%, uma análise criteriosa aponta inúmeras situações diferenciadas.
Entre os trabalhadores, afetados todos pelo desemprego, configuram-se algumas situações preocupantes: alto desemprego na indústria metalúrgica, alto desemprego entre jovens e alto desemprego dos trabalhadores mais qualificados (que se transformam em PJ).
A análise criteriosa da recessão e de seus efeitos diferenciados é um prerrequisito para melhor enfrentá-la, descobrindo os caminhos para sua superação e fazendo a alavanca onde é possível vitórias parciais positivas.
* João Guilherme Vargas Netto, consultor sindical
A participação feminina na engenharia vem aumentando ao longo das duas últimas décadas. A constatação está no estudo produzido pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em 2014 para o SEESP. O trabalho indica que em 1995 as mulheres representavam 11% do total de profissionais do Estado; em 2005, já eram 15%; em 2008, 17%; e em 2013, alcançaram o patamar de 19%.
Apesar de ser uma categoria ainda majoritariamente masculina, em termos relativos, o aumento da ocupação feminina no período equivaleu a 128%, ante 72% da masculina. Para o presidente do SEESP, Murilo Celso de Campos Pinheiro, essa é uma notícia alvissareira, pois indica “maior igualdade de gênero na profissão”. Movimento também identificado pela diretora da Delegacia Sindical em Rio Claro, Lígia Marta Mackey: “Os empregos formais das mulheres na nossa área estão em crescimento. Estamos conquistando o espaço e o respeito que merecemos.”
Fotos: Arquivo pessoal
Mackey: “Estamos conquistando o espaço e o respeito que merecemos.”
A engenheira civil Renata David Scarabello também percebe esse incremento no País – para ela, um bom motivo para celebrar o Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março.
“Provamos a cada momento que somos capazes e inteligentes”, constata. Na sua ótica, decididamente a engenharia não é uma profissão masculina. Mackey concorda. A estudante de Engenharia Elétrica Renata Ornelas Guenaga reforça a posição, dizendo que a atividade é para quem gosta de ciências exatas e de muitos desafios, e o gênero não define isso.
Apesar dos avanços, nem tudo são flores ainda. De acordo com relatório de Desigualdade de Gênero divulgado pelo Fórum Econômico Mundial em 2014, os indicadores brasileiros colocam o País entre os mais desiguais do mundo (acompanhado de Japão e Emirados Árabes), no grupo dos que fizeram investimentos importantes na educação das mulheres, mas não conseguiram remover as barreiras à participação delas no mercado. A professora Marta Bergamin, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FespSP), especialista na área de trabalho e gênero, diz que os dados são inegáveis. “É pior para a mulher negra.”
Com 33 anos de experiência na área, a presidente da Delegacia Sindical do SEESP no Grande ABC e vice-prefeita de Diadema, Silvana Guarnieri, atesta que ainda existem problemas, principalmente com relação aos salários ofertados às mulheres. Ela acredita que a predominância do sexo masculino no setor se deve a uma condição cultural do País, mas que a situação está mudando. “A mulher tem um perfil dinâmico, sempre se posiciona com relação aos seus direitos e deveres, portanto pode atuar, com mérito, onde quiser”, ressalta.
Discriminação
A engenheira agrônoma e diretora da Delegacia Sindical do SEESP em Piracicaba, Fabiane Becari Ferraz, que atua em consultoria ambiental, nunca viu a profissão como eminentemente masculina e não teve qualquer problema durante os estudos. Ela sentiu o peso do preconceito na hora de entrar no mercado de trabalho. “Deixei de ser contratada por ser mulher”, conta. Na sua visão, muitas vezes a discriminação maior vem do colega de profissão. “Já participei de reunião com outros engenheiros em que parece que você fica invisível”, lamenta. Ferraz não consegue explicar a causa desses percalços e arrisca dizer que algumas pessoas teimam, ainda, em não reconhecer a competência do gênero feminino. O machismo é tão naturalizado que, como constata Bergamin, as próprias mulheres não conseguem identificar a discriminação que sofrem. “Sequer podem se afirmar como feministas, porque isso, na sociedade brasileira, parece radical demais”, salienta.
Herrera em visita técnica na Usina hidroelétrica Henry Borden, em Cubatão
Suzie Helena Herrera, engenheira eletricista de planejamento da Companhia Piratininga de Força e Luz (CPFL) e diretora da Delegacia Sindical do SEESP em Campinas, relata que optou pela área em razão da liberdade financeira que proporciona. “Tenho condições de me manter sozinha com o meu trabalho, sem depender de ninguém”, explica. Há 27 anos na profissão, ela endossa que não é fácil para a mulher entrar nesse mercado e alcançar reconhecimento. “Infelizmente, só comecei a ser mais respeitada com o passar do tempo. Quando me formei, tinha 24 anos, e os homens não me respeitavam como profissional.” Ela critica o fato de ainda existirem poucas gerências e coordenações de engenharia ocupadas por mulheres.
Ciente dos desafios que enfrentará para entrar no mercado de trabalho, a estudante de Engenharia de Inovação do Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec) Juliana Akai destaca: “Muitas engenheiras são consideradas incapazes de participar de projetos apenas por serem mulheres e tem até resistência na hora da contratação pelo fato de que, em caso de gravidez, a licença-maternidade é necessária.” Todavia, Akai prevê um mundo profissional melhor, deixando para trás qualquer resquício de “guerra dos sexos”. E convoca: “Imagino que um ‘toque’ mais humano na engenharia é essencial.”
Rosângela Ribeiro Gil
Imprensa SEESP
Matéria publicada, originalmente, no Jornal do Engenheiro, Edição 489, Março de 2016
“Nenhum outro país tem dados desta qualidade para documentar uma história tão completa do desenvolvimento econômico”, disse o professor David Lam, diretor do Institute for Social Research da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, em comentário sobre o livro Trajetórias das Desigualdades: como o Brasil mudou nos últimos 50 anos. Lam foi um dos debatedores do seminário “Trajectories of Inequality in Brazil”, realizado no dia 16 de fevereiro no Brazil Institute, do Woodrow Wilson International Center for Scholars, em Washington, que teve como objeto o livro publicado em 2015.
Organizado por Marta Arretche, professora titular do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP) e diretora do Centro de Estudos da Metrópole (CEM), um dos 17 Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) apoiados pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), o livro faz um grande balanço do processo ocorrido no Brasil nos últimos 50 anos, enfocando o tema da desigualdade a partir de múltiplos ângulos, como demografia, território, gênero, raça, renda, mercado de trabalho, acesso educação, acesso a serviços e participação política.
“Havia interesse pelo tema e disponibilidade de dados, mas estes jamais tinham sido reunidos em um estudo abrangente, que tratasse a desigualdade como fenômeno multidimensional”, afirmou Arretche na abertura do seminário. Alguns desses pesquisadores estiveram presentes no seminário de Washington, apresentando aos colegas norte-americanos e outros convidados seus principais achados nas respectivas áreas de estudo.
Talvez a variável que expresse de forma mais eloquente a transição vivida pelo Brasil nestes últimos 50 anos seja aquela que sinaliza a transformação de um país rural em urbano. Em 1960, 60% da população brasileira vivia no campo.
Esse percentual apresentou queda abrupta no censo realizado uma década mais tarde: 40%, em 1970. E continuou declinando, em taxas menores, nos sensos seguintes: 30%, em 1980; 20%, em 1991; 15%, em 2000; e 12%, em 2010. A população urbana mais do que quintuplicou no período, saltando de 31,3 milhões de pessoas em 1960 para 161 milhões em 2010.
Junto com a urbanização, a cobertura em serviços públicos essenciais cresceu continuamente no período, tendo praticamente se universalizado no acesso à energia elétrica e à coleta de lixo, encostando no patamar dos 100%. E se estendeu a mais de 90% da população no acesso ao fornecimento de água.
Devido à maior complexidade técnica para implantação, a expansão do serviço de esgotos, embora em curva ascendente desde a década de 1970, manteve-se sempre atrás, beneficiando pouco mais de 60% da população em 2010.
Com todas as ressalvas quanto à qualidade da educação oferecida e ao maior tempo gasto em média pelos alunos para concluir os vários ciclos, o processo de escolarização da população jovem avançou de forma expressiva nos 50 anos investigados: apenas 30% dos jovens concluíram os quatro anos do primeiro ciclo e menos de 10% concluíram os oito anos do segundo ciclo em 1960. Esses percentuais subiram para mais de 90% e mais de 75%, respectivamente, em 2010. O gargalo deslocou-se para o ensino superior, com cerca de 20% ingressando na faculdade e menos de 10% concluindo.
Ainda no que diz respeito à educação superior, duas desigualdades históricas do Brasil, a de gênero e a de raça, tiveram quanto a esse tópico evoluções diferentes. A desigualdade de gênero foi superada, com as mulheres ultrapassando os homens em número e adquirindo expressão também nas escolas que dão acesso às carreiras de maior prestígio. Mas a desigualdade de raça se manteve: 75% da população universitária era composta por brancos em 2010 e os negros e pardos encontravam-se predominantemente alocados nas escolas menos disputadas.
Participação política
Embora tenham diminuído, também as desigualdades regionais continuaram muito salientes. Eduardo Marques, professor do Departamento de Ciência Política da USP e vice-diretor do CEM, mostrou que as desigualdades regionais influenciam não apenas a qualidade dos serviços prestados à população mais pobre, mas também fazem com que mesmo os segmentos remediados e ricos tenham pior atendimento nas metrópoles do Norte e do Nordeste do que naquelas do Sudeste e do Sul.
Marques cruzou dados relativos ao nível de renda com 21 variáveis indicativas das condições urbanas e, com base nisso, distribuiu a população brasileira em quatro grupos.
Em escala ascendente, das piores para as melhores condições de infraestrutura e serviços, assim ficou a distribuição nas regiões metropolitanas. Grupo 1: pobres de Belém, Fortaleza e Recife; e remediados de Belém. Grupo 2: pobres de Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Porto Alegre; remediados de Fortaleza, Recife e Salvador; e ricos de Belém. Grupo 3: pobres de São Paulo e Curitiba; remediados de Curitiba e Porto Alegre; e ricos de Fortaleza e Recife. Grupo 4, remediados de Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo; e ricos de Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre.
Quanto à participação política pela via eleitoral, o pesquisador José Antonio Cheibub, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade de Illinois, mostrou que, de uma mobilização eleitoral incompleta no período 1945-1964, durante o qual as regras relativas ao registro dos eleitores funcionaram como mecanismo de exclusão, o Brasil evoluiu, com o fim da ditadura civil-militar e a Constituição de 1988, para uma universalização do direito de voto. Especialmente com a adoção da urna eletrônica na década de 1990, a população mais pobre e menos escolarizada foi de fato incluída no processo democrático formal.
Mais dados sobre o seminário de Washington estão disponíveis em www.wilsoncenter.org/event/trajectories-inequality-brazil . E um longo seminário com os principais autores, realizado no Brasil, pode ser acessado em: emhttps://www.youtube.com/playlist?list=PLxI8Can9yAHeOH2lwlGLj0uQuE9TvnWzJ.
Fonte: Agência Fapesp/Por José Tadeu Arantes
O ingresso de mulheres na engenharia, em dez anos, passou de 24.554 em 2003 para 57.022 em 2013, indicando um crescimento de 132,2%. No mesmo período, a inserção masculina ampliou-se em 78,3%. É o que aponta estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) para a FNE, apresentado em outubro do ano passado. O cenário se deu, explica o presidente Murilo Celso de Campos Pinheiro, durante o ciclo virtuoso para a engenharia do País e é notícia alvissareira de “uma maior igualdade de gênero na profissão”.
Fotos: Arquivo pessoal
Kamila Barros Bonfim:“Ainda enfrentamos resistência de gênero, por sermos mais emocionais e mães."
Todavia, a área ainda tem a predominância masculina, com 79,2% ante 20,8% de mulheres. Para a diretora Regional Norte da federação, Maria Odinéa Melo Santos Ribeiro, os números refletem uma cultura dos estereótipos de gênero, segundo a qual a habilidade técnica não é coisa para mulher.
Clarice Maria de Aquino Soraggi, diretora Regional Sudeste da FNE, enfrentou dificuldades ao optar pela carreira. “Há 42 anos, sofri muito preconceito”, relata a engenheira mecânica graduada em 1974. No entanto, os obstáculos foram devidamente superados: “Não desisti do sonho de ser engenheira. Trabalhei na área petroquímica e depois no setor ferroviário, onde, posso dizer, alcancei minha realização profissional.”
Embora a mentalidade retrógrada persista no mundo contemporâneo, ela é rechaçada por quem está disposto a ocupar todos os espaços na sociedade. É o caso da estudante de Engenharia de Inovação Juliana Akai. Aluna do Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec), ela não tem dúvida de que as mulheres são “donas de si” e estão libertando-se dos pensamentos e atitudes machistas.
Adrielle Mikaelle Silva da Costa, que cursa Engenharia Civil no Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Amazonas (Ifam), destaca as conquistas femininas nos últimos anos. Para ela, a pecha de “sexo frágil” vem ficando pelo caminho. “Somos capazes de atuar em campo onde há predominância masculina, com racionalidade, equilíbrio e inteligência intelectual”, defende.
Adrielle Mikaelle, em selfie no Ifam, observa: “Somos capazes de atuar em campo onde há
predominância masculina, com racionalidade, equilíbrio e inteligência intelectual.”
Discriminação sutil
A professora de Sociologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Bárbara Castro, alerta porém para a discriminação menos escancarada. “O mundo do trabalho não é neutro na questão de gênero. Ao contrário, ele é altamente marcado pelas características ditas naturais do homem, que não têm no seu horizonte a maternidade”, explica. “Por isso, muitas vezes a profissional é excluída de cargos de direção, gerência e coordenação”, critica.
Tal situação é bastante real na opinião da diretora de Relações Institucionais da FNE, Thereza Neumann Santos de Freitas. “Pelo fato de ser mulher, existe a maternidade e um tratamento apropriado em termos de legislação trabalhista. Isso vai refletir no salário e nas oportunidades dentro de uma empresa”, testemunha.
A diretora de Relações Internas da federação, Maria de Fátima Ribeiro Có, diz não ter enfrentado preconceitos no exercício da atividade profissional. “As discriminações que senti combati na hora; as relações ficaram tranquilas e respeitosas.” Contudo, ela percebe uma “demarcação” de território na engenharia e arrisca avaliar que isso se deve a condicionamentos educacionais e culturais. “Lá na escola, no livro em que você aprende matemática, por exemplo, sempre tem a foto de um homem ou de um menino fazendo contas, nunca de uma menina.”
Kamila Barros Bonfim, engenheira ambiental de Mato Grosso e diretora do Senge-MT, acredita que a inserção das mulheres na engenharia se deve, também, ao surgimento de novos cursos na área. Apesar disso, diz, “ainda enfrentamos resistência de gênero, por sermos mais emocionais e mães”.
A professora da Unicamp confirma tal percepção, apontando divisão tácita no ambiente de trabalho entre o que seriam características masculinas e femininas. “Às mulheres cabem habilidades que se pensam como naturais ao feminino, ligadas ao ambiente doméstico, como ser mais emotiva, delicada, atenta aos detalhes e que estejam sempre prontas a cuidar do outro.” Não há nenhum problema em ser assim ou não, mas muitas vezes tal perfil torna a mulher invisibilizada e vista como incapaz de discutir e ter uma intervenção mais técnica e menos emocional. “Por outro lado, o que se espera é que os homens sejam mais racionais e proativos.”
Professora da Unicamp, pesquisadora da área de trabalho e gênero, alerta para a reprodução,
sem perceber, de estereótipos sexistas que empurram a mulher para determinados nichos
de uma profissão e que a impedem ascender num plano de carreira
Castro explica que o discurso de que a mulher consegue desenvolver várias atividades ao mesmo tempo é uma maneira de a profissional se empoderar dentro desses espaços. “Como elas são poucas ainda e atropeladas o tempo inteiro, o que acontece é destacar características que são vistas como naturalmente femininas como uma vantagem, por isso esse discurso da polivalência aparece sempre com muita força.”
Mas há que se ter cuidado com isso, adverte a professora: “Sem perceber, reproduzimos estereótipos de gênero que nos empurram para determinados nichos da profissão e impedem ascender num plano de carreira.”
Lutar para mudar
Para a pesquisadora da Unicamp, as profissionais devem desconstruir a ideia do que é trabalho ou habilidade nata de homem ou de mulher. “É preciso aprender a valorizar o ‘fazer’ do outro independentemente de gênero e partilhar dúvidas, decisões e conquistas.” Nesse sentido, Thereza Freitas incentiva as mulheres a não se calarem frente a qualquer tipo de assédio ou discriminação e procurarem seus direitos. Na opinião da dirigente, deve-se atuar na luta pela valorização profissional no lugar certo, que é o sindicato.
Para Odinéa Ribeiro, enfrentar desafios é agenda prioritária, até porque a batalha feminina por igualdade não beneficia apenas as mulheres. “A nossa luta ajuda a sociedade a ser melhor”, conclui. Por Rosângela Ribeiro Gil
* Matéria publicada, originalmente, no Jornal Engenheiro, da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), Edição 166, de março de 2016
Quando a engenharia conversa com outras áreas, como a da saúde ou biologia, por exemplo, o resultado é transformador. Quem aposta nesse conceito é o estudante de Engenharia Elétrica da Universidade de Pernambuco (UPE) Caio Guimarães. Aos 25 anos, ele é o inventor de um protótipo portátil que utiliza luz em uma determinada frequência capaz de matar bactérias e micro-organismos presentes em infecções e ferimentos.
Azuluz é o nome da startup de biotecnologia liderada por Guimarães, cujo produto inicial em desenvolvimento é uma alternativa ao tratamento de feridas de pessoas com diabetes similar ao de fototerapia, uma técnica muito utilizada em doenças de pele. O método consiste em expor o ferimento infeccionado a uma luz que emite ondas num determinado comprimento com diversas propriedades, entre elas a antibacteriana. Ou seja, a luz trabalhada pela empresa é capaz de matar bactérias das quais os antibióticos convencionais não dão conta ou demoram muito para ter efeito, como ocorre nos casos de pessoas com diabetes, que são hoje mais de 14 milhões no País, segundo dados da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD).
Foto: Divulgação
Guimarães e equipe
Guimarães conta que a enfermidade foi escolhida como foco porque muitos pacientes sofrem com a má cicatrização que a doença acarreta e acabam contraindo graves infecções e até perdendo membros a partir de um pequeno corte. Devido ao uso prolongado de antibióticos em tais situações, que pode variar de meses a anos, o paciente tem grandes chances de apresentar efeitos adversos hepáticos, renais e gastrointestinais. Segundo o estudante, em testes realizados, já se obteve uma cicatrização em 15 dias de tratamento fototerápico. “A luz azul, associada com a sua variação, que é a luz vermelha, possibilita não somente a desinfecção, como também a regeneração do tecido”, explica. O método, conforme ele, propicia a emissão da luz com propriedades que ativam a circulação, produzindo um efeito anti-inflamatório.
Ciências sem fronteiras
A tecnologia de luz medicinal, da qual poderão se beneficiar os pacientes de diabetes no Brasil, começou a ser desenvolvida nos Estados Unidos quando Guimarães estudava no laboratório Wellman Center, uma fusão da escola de Medicina de Harvard com o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), pelo programa Ciências Sem Fronteiras. Lá, o aluno de engenharia cursou disciplinas voltadas à área médica. Os cientistas do MIT já haviam descoberto a parte biológica da ação da luz em bactérias multirresistentes. “Eles não estavam preocupados em transformar aquilo em algo viável, era apenas uma pesquisa em progresso a pedido do exército americano”, conta Guimarães. Procurando dar sentido prático ao conhecimento, ele começou a fazer paralelamente um equipamento que possibilitasse utilizar a luz como um tratamento.
Adotando uma visão da engenharia ao que era um projeto de microbiologia, o jovem fez um protótipo, semelhante a uma lanterna, em que a luz medicinal seria alocada, sendo assim portátil e de fácil acesso. “Funcionava com uma bateria de relógio, em uma lanterninha de 2x3 centímetros, enquanto o laser (do laboratório) era um trambolho, em uma mesa de 2x2 metros, que precisava de uma tomada”, compara.
A “lanterna” acabou fazendo sucesso no laboratório americano. Guimarães foi premiado pelo instituto como melhor projeto apresentado para comunidade científica de Boston, Massachusetts, em 2014. Teve ainda o apoio para uma nova invenção: microagulhas, como fibras óticas, de um material biodegradável e biocompatível, que pudessem levar a luz antibactericida a tecidos mais profundos do corpo, aumentando a capacidade do tratamento fototerápico. “Um dos principais empecilhos que tínhamos encontrado na aplicação era a profundidade do alcance da luz”, relata.
Empreendimento
De volta ao Brasil, o universitário trouxe a pesquisa e a ideia de transformá-la em realidade. A startup em desenvolvimento, com parcerias de empresas privadas e também o apoio da UPE, já planeja começar a etapa de testes clínicos da luz em humanos, trabalhando com o médico Francisco Bandeira, um dos autores do livro “Endocrinologia e diabetes”, de 2015. “A nossa meta, em longo prazo, é substituir os remédios antibióticos. Por enquanto não encontramos nenhuma dificuldade”, comemora Guimarães. Segundo ele, não houve efeitos colaterais nos testes realizados em laboratório. Segundo Bandeira, os estudos com animais apresentaram eficácia terapêutica. “Há um rigor científico para a conclusão dos testes, mas o sistema é bastante promissor”, declara.
Para Guimarães, sua invenção está em um cenário da engenharia que caminha lentamente, pois ele acredita que falta um olhar inovador e empreendedor na integração do curso com outras áreas. “Estamos na universidade e, muitas vezes, o estudante não participa de projetos conciliados com medicina, química, fica apenas na sua grade. Eu vejo o engenheiro como o inventor, que coloca a mão na massa e muitas áreas carecem disso.” Ele também critica a falta de incentivo aos pesquisadores brasileiros. “O nível acadêmico do engenheiro brasileiro e do americano é igual. Aliás, temos um potencial absurdo, mas muitas vezes não temos a oportunidade de colocar em prática.” Por Jéssica Silva
* Matéria publicada no jornal Engenheiro, da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), Edição 166, de março de 2016
O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a Fundação Seade eparceiros regionais divulgaram, nesta quinta-feira (3/03), estudos sobre a inserção das mulheres no mercado de trabalho.
Foto ilustrativa
- Síntese Metropolitana
Entre 2014 e 2015, a proporção de mulheres com 10 anos ou mais inseridas no mercado de trabalho decresceu em Fortaleza e Salvador, registrou crescimento em Porto Alegre e pequena oscilação positiva em São Paulo.
Em 2015, apenas Salvador (+0,1%) manteve relativa estabilidade nos rendimentos médios reais auferidos pelas mulheres. Nas demais regiões, os rendimentos médios declinaram entre elas: São Paulo (-6,0%), Porto Alegre (-1,9%) e, em menor intensidade, Fortaleza (-0,5%).
- RM Fortaleza
Em Fortaleza, o número de mulheres inativas aumentou 4,4% e o de homens, 3,2%, no biênio 2014/2015. Além disso, como historicamente verificado, as taxas de participação das mulheres são bem menores, indicando uma presença feminina menos expressiva no mercado de trabalho.
Ainda que a presença das mulheres no mercado de trabalho seja inferior à dos homens, elas constituem importante parcela da força de trabalho da região, representando 45,1% de toda a força de trabalho da RMF.
- RM Porto Alegre
Na região metropolitana de Porto Alegre, entre 2014 e 2015, o nível de ocupação apresentou comportamento desfavorável para ambos os sexos, tendo registrado retração de 1,7% e perda de 31 mil postos de trabalho.
A taxa de desemprego total das mulheres aumentou de 6,6% em 2014 para 9,1% da PEA feminina em 2015. O total de ocupados, em 2015, foi estimado em 1.769 mil pessoas, sendo 46,2% de mulheres, e 53,8%, de homens.
- RM Salvador
Em Salvador, a representação das mulheres entre os desempregados decresceu entre 2014 e 2015, passando de 55,6% para 52,3%. Houve um tímido aumento na proporção de mulheres na população ocupada de 46,4% para 46,6%; e uma também pequena redução na sua participação no mercado de trabalho, que passou de 48,0% para 47,6%.
- RM São Paulo
Em 2015, a taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho na RM São Paulo aumentou ligeiramente (de 55,1% para 55,4%), após estabilidade observada no ano anterior. A taxa de desemprego feminina cresceu, pelo segundo ano consecutivo, após longa trajetória de declínio iniciada em 2004, ao passar de 12,2% para 14,3%, entre 2014 e 2015.
- Distrito Federal
No Distrito Federal, 743 mil mulheres estavam no mercado de trabalho. Desse universo, 623 mil encontravam-se
ocupadas e outras 120 mil estavam desempregadas. Apesar das mulheres serem maioria na População em Idade Ativa (PEA), é menor (56,7%) que a parcela masculina (69,8%), o que, sobremaneira, é um indicativo das dificuldades enfrentadas pelas mulheres, no mercado de trabalho.
- Região do ABC
A taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho, na região do ABC, diminuiu, ao passar de 54,4%, em 2014, para 53,2%, em 2015, interrompendo crescimento registrado nos últimos três anos. O aumento do desemprego feminino deveu-se à retração do seu nível ocupacional, atenuada pela saída de mulheres do mercado de trabalho da região.
Fonte: Dieese
Neste mês de março, o engenheiro Murilo Celso de Campos Pinheiro dá início a um novo mandato à frente da FNE. A gestão 2016-2019 começa oficialmente em 16 de março; a posse solene ocorre dia 28, na Assembleia Legislativa de São Paulo. Reeleito presidente da federação durante o IX Congresso Nacional dos Engenheiros (Conse), realizado em outubro último, ele vislumbra desafios significativos para a entidade neste ano de crise econômica, baixo investimento e empregos ameaçados. Enfrentar essa situação de modo a defender os interesses da categoria e a volta do desenvolvimento estarão, portanto, na agenda da federação de forma prioritária. Para que se vire o jogo e o País volte a crescer, o dirigente defende uma articulação da engenharia unida. Nesta entrevista, Pinheiro fala também sobre trabalho da FNE, o projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento” e o Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec).
Neste mês de março, tem início uma nova gestão da FNE. Quais os planos para essa nova etapa à frente da entidade?
Murilo Pinheiro – O plano é dar continuidade ao projeto que vem sendo desenvolvido pela nossa federação, dando conta dos novos desafios que se apresentam, especialmente diante da crise econômica que vivemos. Há cerca de uma década, a FNE vem atuando de forma a consolidar uma rede de representação, mobilização e debate nacional entre os seus 18 sindicatos filiados, aos quais estão ligados cerca de 500 mil profissionais. Isso fortaleceu a nossa entidade nacionalmente e também ampliou a capacidade de ação dos sindicatos nos estados. Têm sido travadas lutas fundamentais em defesa dos engenheiros e outros profissionais representados pelas entidades e vitórias importantes estão sendo conquistadas. Na pauta, continua o trabalho para que o salário mínimo da categoria, conforme a Lei 4.950-A/66, seja respeitado. Também seguimos na mobilização para a aprovação da carreira pública de Estado para os engenheiros, o que significará valorização profissional, mas também um salto na capacidade de as administrações públicas darem conta de suas demandas em termos de planejamento, elaboração de projetos, execução de obras e fiscalização.
O “Cresce Brasil”, lançado em 2006, continua na pauta da entidade?
Pinheiro – Sem dúvida alguma. O projeto “Cresce Brasil” (www.crescebrasil.org.br), além de ser nossa senha para o debate sobre desenvolvimento e nosso instrumento de mobilização nesse campo, também é um propulsor da nossa ação em defesa dos engenheiros. Lançado há dez anos, ele vem sendo constantemente atualizado e tem focado os temas que a FNE considera prementes em cada momento. Neste ano, faremos uma edição “Cidades”, que nos ajudará a travar a discussão sobre as condições de vida da população nos municípios e o desenvolvimento local. Como sempre, nossa proposta é partir de um diagnóstico dos problemas e apresentar sugestões de soluções factíveis. Entre os temas em pauta, estão habitação, transporte e mobilidade, saneamento ambiental, internet e iluminação públicas.
Qual a importância do Isitec nessa luta pelo desenvolvimento?
Pinheiro – O Isitec é um dos mais valiosos resultados dos debates do projeto “Cresce Brasil”, que sempre teve entre seus temas a necessidade de formar engenheiros de qualidade. Essa discussão que existia no âmbito da FNE foi abraçada pelo Seesp, que decidiu criar uma instituição de ensino superior que fosse referência no País. A graduação em Engenharia de Inovação teve início no ano passado e, em fevereiro último, aconteceu a aula inaugural da segunda turma. O projeto tem sido um sucesso e estamos convictos de que, em alguns anos, chegarão ao mercado profissionais não só aptos a ter carreiras de sucesso, mas a contribuir verdadeiramente para o nosso desenvolvimento e para a melhoria da vida da população. Os meninos e meninas que estudam no Isitec, num curso de cinco anos em período integral, estão recebendo uma sólida formação, que vai além das matérias técnicas e inclui linguagens e empreendedorismo, entre outros conteúdos essenciais. Serão multiespecialistas capazes de atuar em qualquer segmento de forma inovadora.
O momento, do ponto de vista da economia nacional e do mercado de trabalho da categoria, é mais preocupante que quando do início do mandato anterior, em 2013. Que desafios que se colocam?
Pinheiro – O desafio do momento é não permitir que o Brasil retroceda à situação que vivemos nos anos 1980 e 1990, quando se notabilizou o engenheiro que virou suco. Após um longo período de estagnação, o Brasil voltou a ter expansão econômica e a vida do povo melhorou, especialmente a partir de 2007. Nessa fase, a engenharia voltou a ter protagonismo graças aos investimentos públicos e privados que foram feitos. O mote principal do nosso projeto “Cresce Brasil” era a necessidade de haver crescimento econômico para que os engenheiros tivessem vez. Isso se demonstrou totalmente verdadeiro. Entre 2003 e 2013, houve incremento de 87,4% no emprego formal do engenheiro em todo o País. Com a crise econômica que vem se instalando no Brasil, esse cenário já é outro e desde 2014 há saldo negativo no balanço admissões/demissões na engenharia. O grande desafio é mudar esse rumo. Deve haver investimentos, e o governo é o grande responsável por isso. Uma política de corte de gastos e aumento de juros não nos trará bom resultado. Portanto, é essa a luta que a FNE tem diante de si.
Nesse contexto entra a ideia da Engenharia Unida?
Pinheiro – Sim! A FNE está totalmente comprometida com a luta pela valorização da categoria, a defesa de seus direitos e o desenvolvimento nacional. Mas sabemos que as dificuldades de monta da atualidade exigem uma coesão poderosa de forças da área tecnológica para ajudar a empurrar o País na direção correta e inserir as nossas profissões devidamente no debate público. Trata-se, portanto, de unir os profissionais e as entidades que os representam, as empresas e escolas de engenharia em torno dessa bandeira. Juntos, tenho certeza que superaremos as dificuldades do momento. Podemos e devemos dar essa contribuição à sociedade brasileira.
Rita Casaro
Entrevista publicada, originalmente, no jornal Engenheiro, da FNE, edição 166, de março de 2016