Lucélia Barbosa
Provenientes das operações de poda e remoção de árvores e manutenção de jardins, realizadas tanto por cidadãos quanto pelas prefeituras e empresas privadas, tais resíduos representam uma parcela importante do lixo gerado nas cidades. A falta de programas para a disposição correta desse tipo de material resulta no descarte impróprio em aterros e lixões e na queima a céu aberto, causando inúmeros impactos ambientais.
Para mudar essa realidade, a engenheira Ana Maria de Meira, mestre e doutora em recursos florestais pela Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo), propõe um modelo de gestão para a destinação adequada de galhos, troncos, folhas e flores.
O estudo, que teve início em 2006 e foi finalizado no ano passado, apresenta três linhas de ação, incluindo redução da geração, valorização dos resíduos vegetais e disposição final, quando não há possibilidade de aproveitamento. “É possível prever a quantidade, planejar o uso e empregar o material em soluções benéficas”, ressalta Meira, que atua como educadora do Programa USP Recicla.
A pesquisa foi realizada em Piracicaba, município do Interior paulista que gera em média 180 toneladas de resíduos vegetais por mês, sendo 69% constituídos por ramos e galhos finos, com maior potencial para trituração e compostagem. “Em campo, constatamos que todo resíduo da arborização tem potencial de valorização. Portanto, o destino deve ser planejado para evitar prejuízos econômicos e ambientais para os municípios”, diz a engenheira. A coleta de dados foi feita juntamente com a equipe responsável pelo trabalho de extração e recolhimento da arborização urbana da cidade. “As amostras eram medidas antes e após o corte. Também foram pesadas as quantidades de resíduos por espécies e por classe de diâmetro”, detalha.
O estudo mapeou ainda os motivos que levam à poda. “Em geral, essa atividade é feita por falta de critérios na escolha das espécies, resultando em conflitos com os outros usos do solo. Além disso, falta treinamento da mão de obra responsável pelo serviço, e a população não tem vínculo forte com as árvores que impeça a derrubada”, explica Meira.
Na prática
Para reduzir a geração, portanto, ela esclarece que é necessário definir critérios mais adequados tanto para a poda e remoção como na seleção de espécies, nas condições do plantio e na condução do crescimento, na capacitação da mão de obra, além de maior investimento na educação ambiental.
Já a valorização dos resíduos é feita por meio da escolha do material. Para tanto, é preciso caracterizar e quantificar o volume, determinando a densidade, o teor de umidade, a cor, a quantidade de carbono fixo e as cinzas. “Essas variáveis indicam se os resíduos têm potencial energético para uso como lenha e carvão; se é melhor produzir composto orgânico; criar pequenos objetos de madeira, como cabos de ferramenta e utensílios domésticos, entre outras formas de aproveitamento. Assim, é possível obter o máximo de retorno econômico, social e ambiental”, acredita.
A disposição final é a última opção indicada pelo estudo. “Se for realmente a única alternativa, essa deverá ser efetuada com cautela, atentando para o local de descarte, para a possibilidade de trituração do material para não dificultar a compactação, além dos cuidados para evitar incêndios”, indica.
Outra forma apontada para dar destino nobre ao material excedente é a parceria entre os municípios e o setor privado. “Hoje as ações para minimizar o problema são pontuais, e na maioria das cidades brasileiras não existe um plano de gerenciamento. Por isso, há necessidade de soluções integradas para treinamento dos funcionários, educação ambiental e planejamento da arborização. É premente a criação de políticas ambientais que norteiem o sistema da poda e da remoção, bem como o encaminhamento adequado dos resíduos, a fim de reduzir o desperdício e proporcionar o uso eficiente dos recursos”, ressalta Meira.
Na opinião da professora Adriana Nolasco, do Departamento de Ciências Florestais da Esalq/USP, que orientou a pesquisa, são inúmeras as ações que os municípios podem promover visando diminuir os impactos negativos da destinação inadequada. “Uma alternativa seria separar o material lenhoso e trocar por produtos com padarias e olarias; incorporar os resíduos em programas de compostagem destinando o resultado para as áreas verdes do município, viveiro de mudas ou venda; utilizar a madeira como matéria-prima em programas de capacitação profissional em marcenaria, carpintaria ou artesanato, no fomento de cooperativas e negócios solidários ou ainda na construção de equipamentos e mobiliário urbano. Dessa forma, os gastos com a destinação seriam reduzidos e os ganhos econômicos e sociais com novos postos de trabalho e pequenos negócios aumentariam”, sugere.