Lucélia Barbosa
A precariedade do transporte público, a crise de mobilidade e o excesso de veículos que geram congestionamentos de mais de 200km e fazem parte da rotina da Capital foram objeto do debate promovido em 1º de março, na sede do SEESP, pela Rede Nossa São Paulo. Intitulado “Os desafios dos sistemas de transporte de passageiros de alta e média capacidade na cidade de São Paulo”, o seminário reuniu especialistas, representantes do governo e da sociedade civil.
O evento é fruto de uma sequência de encontros que começaram no início do ano passado, em parceria com a Comissão de Transportes da Câmara Municipal. “Apresentamos um conjunto de propostas, e os vereadores aprovaram, em dezembro último, uma emenda ao orçamento de 2011 de R$ 15 milhões para que a Prefeitura realize os estudos necessários à elaboração do plano”, informou Maurício Broinizi, coordenador da Secretaria Executiva da Rede. Segundo ele, o projeto deve contemplar principalmente o sistema sobre trilhos, considerado insuficiente. “Esse modal ocupa apenas 1,05% do sistema viário de São Paulo”, destacou.
A posição foi endossada por Marcos Kiyoto, arquiteto e consultor da organização TC Urbes, que comparou a expansão do Metrô de São Paulo com o de Xangai. O paulista cresceu apenas 26km entre 2002 e 2011, enquanto na cidade chinesa foram acrescidos 315km entre 2001 e 2010. “A única forma de dar mobilidade é criar uma rede metropolitana de transporte de alta capacidade, ou seja, metrôs e trens suburbanos”, enfatizou. O assessor da Presidência do Metrô, Marcos Kassab, rebateu as críticas, afirmando que a rede não cresce por falta de recursos e não por ausência de planejamento e vontade política.
Monotrilho em debate
Também foi questionado durante o seminário o projeto do governo paulista que prevê a implantação de várias linhas de monotrilho. Segundo Manuel Xavier Lemos Filho, diretor da Fenametro (Federação Nacional dos Metroviários), a tecnologia está em desuso no mundo e não é recomendada para locais onde se exige transporte de alta capacidade. “O planejamento é ineficiente, a exemplo do projeto previsto para ligar a Cidade Tiradentes à Vila Prudente. Os milhares de usuários da nova linha não vão conseguir entrar no sistema da Vila Prudente, já que esse estará operando em sua capacidade máxima”, alertou.
Na avaliação de Kiyoto, o modal não é o ideal para a cidade, pois é considerado um sistema de média capacidade, atendendo de 15 mil a 25 mil passageiros por hora em cada sentido. A afirmação foi contestada por Kassab, segundo quem a futura linha Vila Prudente-Cidade Tiradentes terá capacidade de transportar até 48 mil pessoas, superando a demanda de 40 mil.
O projeto teve também a defesa de Epaminondas Duarte Junior, da Diretoria de Planejamento e Expansão dos Transportes Metropolitanos do Metrô. “O monotrilho tem a mesma qualidade de serviço do metrô convencional, requer número menor de desapropriações, não ocupa o leito viário, produz baixa emissão de poluentes e ruídos e atende adequadamente a demanda prevista”, resumiu.
Planejamento e qualidade
Na opinião de Ailton Brasiliense Pires, assessor da Diretoria de Planejamento da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e presidente da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), além da ampliação do transporte público, é fundamental pensar no planejamento da cidade. “A região central possui hoje cerca de 400 mil imóveis vazios e continuamos a colocar as pessoas nas periferias. Precisamos não só de trilhos, pneus e sistemas integrados, mas também de planos de adensamento da população”, sugeriu.
Na sua visão, há uma descontinuidade de ações e mudanças constantes nos planos de expansão do transporte coletivo. “Nos últimos anos, tivemos muitos prefeitos e governadores, mas raros estadistas. Poucos enxergaram além do seu mandato”, criticou.
Já o diretor do SEESP e membro do Grupo de Transporte e Trânsito da entidade, Edilson Reis, lembrou a necessidade de assegurar qualidade ao transporte coletivo para torná-lo competitivo e atrativo e desestimular a opção pelo automóvel.