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POLÍTICA - Diante da crise, governo opta pela contenção

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Rita Casaro 

        Um mundo de turbulência internacional e risco inflacionário interno, que exige cálculo e não deixa, margem à imprecisão. A partir dessa leitura do cenário atual, a presidente Dilma Rousseff teria tomado as decisões impopulares do início de mandato, como a insistência no salário mínimo de R$ 545,00 e os anunciados cortes orçamentários de R$ 50 bilhões. A avaliação é do sociólogo Luiz Werneck Vianna, segundo quem haverá um esforço de racionalização que deixará menor o espaço da política.

        Nesse contexto, o movimento sindical, cujo maior risco é a perda da unidade construída, terá de agir mais fora do Estado, onde deve ter um espaço menor que no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, avalia o professor e pesquisador do Departamento de Sociologia e Política da PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro). Em entrevista ao JE, ele defendeu ainda a urgência de se realizar um reforma política.

 

Que avaliação o senhor faz dos rumos do atual governo?
        Os elementos de continuidade são muito presentes, mas mudaram o operador do sistema e as circunstâncias, do ponto de vista do contexto internacional, com as crises e o levante no mundo árabe e muçulmano, que interferem fortemente sobre o nosso mundo. As possibilidades de reavivamento da crise econômica posta desde 2008 não estão afastadas, o que cria um mundo muito calculado. Uma imprecisão qualquer pode provocar a volta da inflação, e isso é o fim do PT no governo. Então, as medidas que a Dilma tem tomado vão nessa direção. Além de estilos e naturezas pessoais não serem transferíveis. O Lula é um político carismático; a Dilma é uma administradora, uma gestora.

 

Medidas como a insistência em manter o salário mínimo em R$ 545,00 e cortes orçamentários eram necessárias?
        Essa foi a leitura que ela fez e a partir da qual agiu.Uma outra leitura implicaria outro tipo de ação. O fato é que há convencimento por parte do governo de que essas medidas eram absolutamente necessárias, que elas defluiriam da natureza das coisas. Quem analisa de outra ótica evidentemente as contesta, acha que são favoráveis ao setor financeiro, que é uma volta ao neoliberalismo, reedita práticas de Fernando Henrique Cardoso e por aí vai.

 

E se pode esperar a manutenção dessa política?
        Acho que vamos ter de forma crescente um esforço no sentido de racionalizar a administração e a economia. Isso quer dizer que o mundo da política terá menos peso que no governo Lula, no qual maximizar poder, influência era a sua preocupação principal. Com Dilma, há de fato outra opção, inclusive por formação pessoal. Ela age como técnica, como uma pessoa da administração.

 

Então há uma mudança radical de estilo de governo?
        De estilo, sim, de linha, não necessariamente. Ao bolsa família, por exemplo, ela vai dar mais dinheiro.

 

Como fica o movimento sindical nesse novo contexto?
        Essa questão vai pesar. O céu de brigadeiro que o Lula encontrou a partir do seu segundo mandato não vai se repetir. Já temos aí o anúncio de que deve haver alguma turbulência. Além disso, a unidade das centrais está ameaçada. CUT (Central Única dos Trabalhadores) e Força Sindical estão vivendo pequenas escaramuças que poderão se converter mais à frente numa ruptura. A CUT ameaça abrir mão do imposto sindical, que foi o elemento que tornou possível e materializou a unidade entre as centrais. Essa questão vai ferver, assim como a da unicidade, já que a tendência histórica da CUT é ser favorável ao pluralismo. Isso pode fazer com que os litígios que eram controlados e vividos no interior do Estado na fase Lula sejam deslocados para o Parlamento e para as ruas. Esse cenário pode ser muito positivo, porque significa autonomia dos movimentos sociais. Essa é uma possibilidade. A outra é perderem força e substância.

 

O senhor tem defendido a reforma política para que haja avanço na democracia brasileira. O que é preciso mudar?
        É preciso tornar o sistema político mais racional e mais democrático, aproximar representante do representado; fazer com que a representação seja mais genuína, tenha mais raiz na vontade popular. Essa multidão de partidos e o sistema anárquico do voto não ajudam. Há muitas possibilidades, e não se tira uma legislação da cabeça ou dos livros, isso é feito na política, na disputa. Tem que ter uma linha e, no confronto com outras alternativas, chegar a uma solução. Mas é preciso que o primeiro passo seja dado, que se tenha vontade de procurar uma solução para essa questão que é decisiva. Se o governo não animar esse movimento, ele não vai ocorrer. Porém, vai depender dos partidos, especialmente do PT. Pessoalmente, sou favorável ao voto distrital misto. Há ainda pequenas coisas que podem ser feitas, como dar fim às coalizões nas eleições proporcionais. Não basta, mas, se for isso, já serve. Eu vejo como um elemento de saúde, para o País avançar politicamente.

 

 

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