Rosângela Ribeiro Gil
A nova etapa do projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”, lançado em 2006 pela Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), já está em debate. Neste ano de eleições municipais, a discussão será sobre a qualidade de vida nas cidades e o desenvolvimento local. A primeira reunião de trabalho aconteceu em 1º de março último, na sede do SEESP, na Capital.
O presidente do sindicato e da FNE, Murilo Celso de Campos Pinheiro, salienta: “Queremos chegar a junho com o documento pronto para apresentarmos aos candidatos e, assim, contribuirmos, efetivamente, de forma propositiva e consistente.” O debate ganhou adesão do Clube de Engenharia, cujo presidente, Pedro Celestino da Silva Pereira Filho, lembrou a importância de resgatar o papel do planejamento e da engenharia pública.
O “Cresce Brasil – Cidades” terá como temas centrais mobilidade urbana, iluminação pública, moradia, saneamento ambiental (incluindo abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto, drenagem urbana e resíduos sólidos) e internet pública, além de finanças municipais, poder local e atividade econômica nas cidades. Para o coordenador técnico do projeto, Carlos Monte, é imprescindível a FNE manter o seu protagonismo nas boas discussões de projetos de desenvolvimento. “É uma missão árdua sintetizar as questões peculiares urbanas, como as que envolvem as cidades das regiões metropolitanas e as que estão às margens dos rios”, ponderou. E acrescentou: “Mas, ao mesmo tempo, desafiadora, porque queremos estimular a sociedade a sair dessa visão negativa sobre o País.”
O secretário nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana, Dario Rais Lopes, apresentou algumas das preocupações do Ministério das Cidades com relação aos municípios de médio e grande porte em termos de mobilidade e sustentabilidade. “Esses dois temas precisam ser pensados a partir de um núcleo, em que estão o uso e a ocupação do solo, o deslocamento das pessoas e o trânsito”, explicou. Por isso, disse, o plano diretor deve combinar bem tais pontos. Nesse sentido, prosseguiu, a engenharia unida tem muito a contribuir, ajudando a elaborar propostas de qualidade que “pressupõem planejamento, projeto e gerenciamento”. Posição reforçada pelo consultor da federação, Artur Araújo, para quem o “País está imerso numa situação de crise por falta de engenharia e só conseguirá sair disso com excesso de engenharia”.
Saneamento global
O professor João Sérgio Cordeiro, coordenador do curso de Gestão Ambiental do Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec), apontou a relevância da questão urbana na atualidade. “Em 1970, éramos 90 milhões de brasileiros e apenas 55% estavam na área urbana. Quarenta e cinco anos depois, somos 200 milhões e 85% estão nas cidades, o que dá por volta de 170 milhões de pessoas. Mais que triplicamos as áreas urbanas.” Tal cenário, advertiu, significa que precisamos de mais água potável e de sistemas de manejo de esgoto e resíduos sólidos e interferir no uso e ocupação do solo.
A questão ambiental também foi destacada pelo engenheiro João Antonio Del Nero, que integra o Conselho Tecnológico do SEESP. Para ele, é uma vergonha o Brasil ainda ter lixões nos espaços urbanos. “Somos a décima economia do mundo, mas ainda não conseguimos eliminar essa tristeza”, criticou.
Ressaltando a importância do “Cresce Brasil – Cidades”, Jurandir Fernandes, ex-secretário dos Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo, afirmou que o projeto pode ter um arcabouço com alguns pontos para que todos os Executivos e Legislativos municipais entendam a importância de investimentos em diversas áreas. Segundo ele, quase 97% dos orçamentos municipais estão comprometidos com custeio da máquina administrativa e pagamento de juros de dívidas etc., sobrando pouco para investimentos. Para reverter esse quadro, Fernandes defende trabalhar fortemente com a engenharia unida. Nesse sentido, propugna por aumentar a produtividade e integração de todos os equipamentos públicos municipais. Barato e econômico, segundo ele, é também terminar o que está iniciado ou destravar o que está paralisado.
O diretor geral do Isitec, Saulo Krichanã, falou sobre a situação geral financeira dos municípios e da União. “Tudo o que estamos falando passa por uma questão chamada ‘necessidade de investimento’.”
Experiência
O enfrentamento da situação difícil por que passa o País, cenário onde se dará a elaboração e apresentação do “Cresce Brasil – Cidades”, para o consultor João Guilherme Vargas Netto, deve se dar com a repetição de experiências. Nesse sentido, ressaltou, a FNE está no caminho certo ao propor ao poder público e à sociedade, mais uma vez, um projeto que sirva de vetor a todas as forças capazes de disputar e discutir questões relacionadas ao desenvolvimento e crescimento.
A grandeza da nova edição também se define, disse Vargas Netto, pela ideia da engenharia unida numa perspectiva que ultrapassa a visão corporativista e até escolar, “mas que se finca no saber profissional”.