Para tanto, os engenheiros são cruciais. Promovido a cada três anos pela FNE (Federação Nacional dos Engenheiros), o evento incluiu, entre os participantes, representantes do SEESP e dos Senges de diversos estados. Atualiza o manifesto lançado por ocasião do VI Conse, que propugna por uma plataforma nacional de desenvolvimento sustentável com inclusão social.
Afirmando que a opção por investimentos inclusive pelo Governo paulista contribuiu à saída da crise financeira global, os vários secretários de Estado de São Paulo presentes – Sidney Beraldo (Gestão Pública), Dilma Seli Pena (Saneamento e Energia) e Claury Alves da Silva (Esporte, Lazer e Turismo) – ressaltaram o papel dos profissionais da categoria como indutores do desenvolvimento e o momento oportuno à formulação de ideias para que se consolide um país mais justo. Os vereadores paulistanos Eliseu Gabriel (PSB) e Jamil Murad (PCdoB) enfatizaram ainda que, superada a noção de Estado mínimo, o Brasil demanda um plano nacional de desenvolvimento, e os engenheiros são chamados a contribuir. Também prestigiaram a iniciativa, entre outras personalidades, os deputados federais Aldo Rebelo (PCdoB/SP) e Paulo Teixeira (PT/SP) e os estaduais Simão Pedro (PT) e Padre Afonso Lobato (PV), de São Paulo, além de Jorge Amanajás (PSDB), do Amapá.
A solenidade de abertura foi ainda marcada pelo lançamento do selo personalizado e carimbo comemorativos do VII Conse, com a presença do coordenador-geral dos Correios, João Carlos da Silva.
Conjuntura favorável e desafios
Abrindo o ciclo de palestras do congresso, o presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Marcio Pochmann, lembrou que a crise mundial provocou uma decadência relativa dos Estados Unidos e abriu espaço para que o País possa liderar a região sul-americana. Para o vice-presidente da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e secretário municipal do Trabalho de São Paulo, Marcos Cintra, a economia brasileira encontra-se numa situação estável, o que permitiu que sua recuperação acontecesse num período relativamente curto. Além disso, o Governo Federal vem atuando de forma compensatória. O secretário enfatizou que, dadas suas características, o Brasil hoje é tido como “a bola da vez”.
Não desperdiçar essa oportunidade passa, conforme Pochmann, por convergência política, pelo avanço no sistema de tecnologia e inovação e pela redefinição do Estado brasileiro, com reformulações em todos os setores da sociedade, sobretudo na educação. Geraldo Alckmin, secretário de Desenvolvimento do Estado de São Paulo, complementou: nos países que mais crescem no mundo, como China e Índia, a formação na área tecnológica chega a 30% do total de estudantes. No Brasil, situa-se em menos de um quarto desse percentual. Indica, como atestou ele, a carência de engenheiros.
O deputado federal Ciro Gomes (PSB/CE) apontou outras assimetrias em nível nacional que precisam ser resolvidas, como falta de financiamento para novos e pequenos negócios, ausência de escala na fabricação e o desafio de acompanhar o avanço das tecnologias. “O Brasil está melhorando, mas sua indústria continua em média atrasada três gerações. E sete a cada dez postos são germinados em pequenas empresas”, atestou. Também na sua opinião, nova configuração mundial demanda recuperar a ideia de um projeto nacional de desenvolvimento como objetivo estratégico.
Para tanto, é mister rever modelos e conceitos ainda em voga nas áreas de transportes, energia e comunicações. Sobre a primeira, Ailton Brasiliense, presidente da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), pautou sua fala em exemplo extremo entre os grandes centros urbanos brasileiros, cujas opções feitas levaram ao atual quadro caótico: o município de São Paulo. Ele lembrou que, na metade do século XIX, essa era uma microcidade, que tinha apenas 50 mil habitantes – ante 11 milhões atualmente. À época, desenvolvimento foi pensado sobre trilhos – o que resultou em uma malha de 100km. Conforme o presidente da ANTP, 95% dos deslocamentos motorizados eram feitos por transporte público, sobretudo pelos extintos bondes.
A partir de 1950, destacou, o processo deixa de ser racional. Começa a especulação no uso da terra e o modelo de cidade que crescia até então ao longo dos trilhos vai sendo completamente modificado. Áreas que deveriam ter sido preservadas são ocupadas, a ferrovia fica estacionada em 130km e tem-se a prevalência do transporte individual sobre o coletivo. Como consequência, de acordo com Brasiliense, no início do século XXI, a frota de carros chega a 5 milhões e os paulistanos passam a conviver com uma média diária de 120km de congestionamentos. Frente ao quadro perverso, ele é categórico: “Temos que reconstruir a cidade, atendendo às premissas social, ambiental, econômica, energética e urbanística.”
Na área energética, o diretor do Colégio Brasileiro de Altos Estudos da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Adilson de Oliveira, salientou que é fundamental pensar um modelo sustentável, “mais assentado nos biocombustíveis”. Ao lado da exploração do pré-sal, portanto, ponderou, é necessário desenvolver as fontes renováveis, processo que o País pode liderar, com ajuda dos engenheiros.
Nas comunicações, em que se constata um modelo de negócios regido cada vez mais pelo mercado, Marcos Dantas, professor da UFRJ, enxerga que é urgente superá-lo e resgatar a natureza pública dessa área, que tem influência sobre o cotidiano de todos os cidadãos. Durante o VII Conse, a categoria foi, assim, chamada à discussão que se travará na I Confecom (Conferência Nacional das Comunicações), a se realizar entre 1º e 3 de dezembro próximo, em Brasília. Inclusive porque o novo cenário de convergência que se sedimenta no Brasil e no mundo e sua universalização têm tudo a ver com engenharia.
Saneamento e habitação
Já o secretário da Habitação do Estado de São Paulo, Lair Krähenbühl, traçou um panorama das ações do Governo paulista para diminuir o déficit habitacional local, hoje estimado em 880 mil moradias. Para além das iniciativas por parte de governos, foi destacada no Conse, por vários palestrantes, a importância de investimentos permanentes a essa área, como prevê a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) de autoria do deputado Paulo Teixeira que, se aprovada, estabelecerá a vinculação de 2% do orçamento da União, estados e municípios para a habitação.
Com relação a saneamento, coube ao secretário Nacional de Saneamento Ambiental, Leodegar Tiscoski, enumerar os principais problemas encontrados no setor em que atua, em âmbito nacional, como a falta de esgoto, de redes e de estruturas, que em geral não acompanham o crescimento demográfico. E apresentar os investimentos feitos pelo Governo Federal no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) do Saneamento. Ao todo, serão R$ 40 bilhões até 2010, quando seriam necessários, segundo o próprio Tiscoski, R$ 250 bilhões à universalização de água e coleta de esgoto. O que exigirá continuidade.
Pré-sal e Amazônia
A sustentabilidade nos investimentos em setores essenciais e estratégicos requer mobilização da sociedade civil. A ênfase foi dada por Marco Aurélio Cabral Pinto, professor da UFF (Universidade Federal Fluminense) e consultor do projeto “Cresce Brasil” para a área de C&T. Na sua visão, cinco eixos de projetos vão garantir à Nação prosperidade por cinco anos, com taxas de crescimento acima de 5%: a exploração do pré-sal e da Amazônia, o agronegócio, a industrialização, grandes iniciativas de construção civil e infraestrutura logística.
Na Amazônia, afirmou, é necessário induzir economia inovadora de base florestal, vencer a questão fundiária, conquistar o território, prover educação e conhecimento à comunidade local. Para explorar o pré-sal, conforme sua fala, a ideia do Governo é montar um complexo petrolífero nacional, com algo em torno de 200 embarcações. O que vai requerer ao Brasil formar, num curto espaço de tempo, “200 mil engenheiros e técnicos”. O professor concluiu: “Vamos aproveitar os dois desafios como projetos mobilizadores de recursos à C&T de forma planejada.”
O desenvolvimento sustentável da Amazônia foi ainda tratado pelos deputados Aldo Rebelo e Jorge Amanajás. O primeiro sugeriu a construção de vários centros de pesquisas a serem administrados pelas universidades brasileiras. Já o segundo criticou a falta de investimentos na região e lembrou a importância de se alavancar suas potencialidades.
Também estiveram entre os palestrantes Ivan Wedekin, diretor de Commodities da BM&F Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo), que abordou a expansão e a trajetória de sucesso do agronegócio nos últimos anos; e Newton José Leme Duarte, diretor-geral da Siemens, o qual enfatizou, entre outros pontos, a importância de a indústria promover inovação, bem como de se fortalecer a parceria universidade-empresa à pesquisa e desenvolvimento, uma das bandeiras levantadas pelo projeto capitaneado pela FNE.
Soraya Misleh
Colaborou Lucélia Barbosa