Soraya Misleh
A importância dessa parceria entre academia e setor produtivo foi apontada durante encontro de tecnologia promovido pelo SEESP, com apoio do Isitec (Instituto Superior de Inovação e Tecnologia) e da VDI-Brasil (Associação de Engenheiros Brasil-Alemanha). Realizado em 29 de junho último, no auditório do sindicato, na Capital paulista, foi o terceiro evento da série e abordou o tema “Novos desafios da relação universidade-empresa”. Cerca de 200 pessoas prestigiaram a iniciativa.
À abertura, Murilo Celso de Campos Pinheiro, presidente do SEESP, destacou o grande ganho de qualidade propiciado por encontros como esse. “Nessa fase em que tratamos da implantação do Isitec, são de suma importância”, complementou Antonio Octaviano, secretário executivo do CAD (Conselho de Administração) do instituto.
Entre seus pilares, está a importância da relação universidade-empresa para se garantir inovação. Com esse mote, estão sendo buscadas parcerias para que o Isitec assegure educação superior de qualidade. “Firmamos um protocolo de entendimento nesse sentido”, ressaltou Edgar Horny, presidente da VDI-Brasil. O evento em questão trouxe subsídios para fortalecer essa iniciativa.
Em sua apresentação, o vice-presidente da associação alemã, Robert Madersdorfer, executivo da multinacional Lanxess, destacou a importância de parceria com a USP (Universidade de São Paulo) para a implementação de unidade de cogeração de energia da empresa em Porto Feliz, no Estado de São Paulo. Segundo apontou ele, soluções inteligentes exigem tal integração e planejamento estratégico, de olho nas megatendências globais. Newton Gomes Pereira, consultor de tecnologia e inovação da Siemens, enfatizou ser crucial a parceria universidade-empresa, a qual tem sido firmada pela companhia, em todo o mundo, com diversas instituições. Falar sobre esse relacionamento está atrelado, ainda de acordo com sua preleção, à gestão da inovação, que demanda pensar a estratégia do negócio.
Bruno Domenico Bragazza, gerente de inovação e tecnologia da Bosch do Brasil, apresentou como caso de sucesso mais evidente da companhia, resultante da integração academia-setor produtivo, o flex fuell. Tecnologia 100% brasileira que, de acordo com sua preleção, começou a ser desenvolvida em 1992, propicia abastecimento de veículos automotores por etanol ou gasolina. Atualmente, está em andamento outra inovação: o flex start, que torna mais eficiente a partida a frio de carros a etanol, pois possibilita o aquecimento do combustível. Dispensa, portanto, a necessidade de injeção de gasolina, hoje colocada em pequeno reservatório junto ao motor. Além disso, reduz a emissão de poluentes. O projeto, conforme contou Bragazza, tem sido feito em parceria com várias universidades, assim como outros em andamento.
Desafios
Madersdorf relacionou entre os desafios para se consolidar essa relação reduzir a burocracia e assegurar mais e melhores engenheiros. O gerente da Bosch do Brasil atestou, dizendo ainda que incrementar a inovação requer formar recursos humanos para a pesquisa básica e aplicada. Em âmbito nacional, afirmou ele, “mais de 70% dos doutores e mestres encontram-se nas universidades, o inverso do que ocorre nos Estados Unidos, em que estão nas empresas. Daí a importância da educação em engenharia neste País com novas demandas (como pretende o Isitec)”. O que poderia repercutir no aumento de patentes brasileiras, atualmente no patamar ínfimo de 0,1% das registradas no mundo. Quanto a dar um salto na formação de profissionais da categoria, o executivo informou: “Entre os caminhos indicados pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), no longo prazo, certamente está aquele em que o SEESP vem trabalhando: ampliar a oferta via sistema educacional.”
Para o professor Mario Neto Borges, presidente da Fapemig (Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais) e do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa, as mudanças no ensino são importantes não só no que diz respeito à graduação de profissionais da categoria, mas como um todo, começando pela educação básica. “É preciso haver investimentos maciços, robustos e perenes nessa área.” Ao desenvolvimento sustentável, ele ponderou que o foco deve ser em engenharia. “Em 2001, formamos quase 18 mil no segmento, em 2009 mais que dobramos. Está melhorando, mas não é suficiente.” O País precisa avançar ainda, como destacou o professor, na formação de pesquisadores.
A necessidade de se ampliar as inversões em C, T & I (ciência, tecnologia e inovação), cujo patamar ainda é baixo, não obstante tenha se elevado de 0,9% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2004 para 1,13% em 2008 foi outro ponto tocado por Borges. O que, conforme sua explanação, demanda sobretudo maior aplicação de recursos por parte das empresas. “Na Coréia, 2,1% desse investimento é feito pelo setor privado, ante 0,54% no Brasil.”