Já faz agora alguns anos que está em pauta no Brasil a discussão sobre a escassez de mão de obra qualificada, com destaque para os engenheiros, profissionais imprescindíveis quando o objetivo é o desenvolvimento. É fato que, com o reaquecimento da economia, as empresas, especialmente as que estão investindo em crescimento, passaram a ter mais dificuldades para completar seus quadros. É verdade também que o País deve ter especial atenção e tratar como objetivo estratégico a formação de mão de obra capaz de atuar na economia no século XXI. O SEESP, no escopo do projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”, vem defendendo a ideia desde 2006, com a proposta à época de dobrar o número de formados em engenharia a cada ano.
Hoje, a entidade trabalha na implementação do Isitec (Instituto Superior de Inovação e Tecnologia), que terá cursos de altíssimo nível tanto de graduação quanto de pós.
Porém, há um aspecto dessa discussão que, embora um tanto óbvio, só agora parece estar ocupando as reportagens que quase cotidianamente abordam o tema nos veículos de comunicação: a necessidade de se pagar melhores salários para garantir a mão de obra necessária. Numa tendência natural, sem oferta tão farta de trabalhadores com alto nível de formação no mercado, as empresas começam a se esforçar por manter os que têm, conforme aponta matéria de Érica Fraga, publicada na Folha de S. Paulo, em 17 de julho.
A reportagem traz os resultados da pesquisa feita pela Asap, consultoria de recrutamento de executivos, que ouviu 1.934 profissionais, com dados surpreendentes. Segundo a aferição, oito em cada dez profissionais com salário de R$ 6 mil a R$ 15 mil receberam proposta para mudar de emprego nos últimos 12 meses. Desses, apenas 24,5% aceitaram a oferta, devido à política agressiva de retenção de talentos de seus empregadores. Ainda conforme o jornal, quase quatro em cada dez dizem ter recebido aumento salarial superior a 30% nos últimos três anos, contra uma inflação acumulada de 17%.
É preciso que os empregadores, do setor privado e também do público, compreendam essa dinâmica e ajam de acordo com ela, abandonando a mesquinharia. O avanço do País passa por melhores condições de vida da população e isso, necessariamente, por ganhos maiores. Num artigo de 18 de julho, publicado no jornal Valor Econômico, o economista-chefe do Bradesco, Octavio Barros, talvez tenha dado a senha: “O que falta no Brasil, neste momento, é pura e simplesmente mão de obra barata. Os salários reais aumentaram muito, a política de salário mínimo tem sido historicamente agressiva e as políticas sociais geraram novas oportunidades para jovens e mulheres (...). Mudou o patamar salarial no Brasil.” Simples assim.
Direito reconhecido
Entre os muitos direitos previstos na Constituição de 1988 até hoje não regulamentados, está o aviso prévio proporcional ao tempo de serviço. A Carta Magna, que estabelece o mínimo de 30 dias, demanda legislação específica para definir as regras além desse prazo, o que o Parlamento não fez até hoje. O assunto vem sendo resolvido por meio de acordos e convenções coletivas, como é o caso dos engenheiros em várias empresas, e foi posto em evidência pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Em julgamento no dia 22 de junho último, essa corte decidiu que fixará as normas para que a Constituição seja seguida, embora ainda não tenha definido prazo para tanto.