A Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados (CNTU) colocou em discussão, na sua 11ª Jornada Brasil Inteligente, em 18 de agosto, no auditório do SEESP, na capital paulista, os caminhos para se chegar ao Bicentenário da Independência, em 2022, com empregos decentes e desenvolvimento sustentável. No mesmo dia, foram apresentadas proposições nessa direção durante a 11ª Plenária do Conselho Consultivo da entidade, quando foram empossados 129 novos integrantes do chamado “Conselho das 1.000 cabeças”. Agora são 1.232 membros. Ao final, foi aprovada por unanimidade a “Carta da 11ª Jornada Brasil Inteligente”, reunindo em dez pontos as contribuições desta edição.
Diante do desemprego crescente e desindustrialização no País, a presidente em exercício da CNTU, Gilda Almeida, frisou que à confederação se apresenta o desafio de participar do enfrentamento de políticas errôneas “para sairmos vitoriosos”. No ensejo, reforçaram esse posicionamento os presidentes do Partido Democrático Trabalhista (PDT), Carlos Lupi; da Caixa de Assistência dos Profissionais do Crea (Mútua), Paulo Guimarães; e da Frente Parlamentar Mista da Engenharia, Infraestrutura e Desenvolvimento Nacional, deputado federal Ronaldo Lessa (PDT-AL).
Na concepção do ex-governador do Ceará e advogado Ciro Gomes, o Brasil hoje está impedido de crescer por três razões básicas: “Os juros altos, que inviabilizam o setor produtivo, o colapso nas finanças públicas, com a menor taxa de investimentos desde a Segunda Guerra Mundial, e o repasse pelo governo ao setor financeiro rentista de 11% do PIB (Produto Interno Bruto).” Para ele, o País abriu mão de projetos econômicos estruturais, como políticas industriais e de comércio exterior; de ciência e tecnologia aplicada à inovação e ao desenvolvimento econômico; e de infraestrutura. “Hoje exportamos óleo bruto barato e importamos derivados de petróleo em dólar”, criticou.
De acordo com o ex-governador, “a participação da indústria nacional na riqueza brasileira, que já foi de 30% nos anos 1980, atualmente é de apenas 8%, o equivalente ao que era em 1910.” Com esse perfil, lamentou, “vamos virar apenas exportadores de commodities”. Além de se recuperar a capacidade de planejamento, o ex-governador propugna como único caminho para a retomada do crescimento a reindustrialização.
Diretor da Faculdade de Economia, Administração, Ciências Contábeis e Atuariais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (FEA/PUC-SP), Antonio Corrêa de Lacerda ratificou: “Se quisermos gerar emprego e renda, precisamos recriar condições para o crescimento, o que significa estancar o desmonte de políticas industriais e sociais e dos bancos públicos, como o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).”
Construir pontes
Conforme o diretor da Organização Internacional do Trabalho (OIT), seção brasileira, Peter Poschen, o cenário atual no Brasil é hostil ao trabalho e ao desenvolvimento. Uma das características deletérias, segundo ele, é o alto índice da informalidade, em torno de 40%, cuja tendência, com a reforma trabalhista (Lei 13.467/2017 inserir link), é aumentar. Além disso, há altíssima rotatividade (em 2013 era de 63,7%), baixa sindicalização (de menos de 20% dos brasileiros), forte concentração de renda, desigualdade de gênero e raça, com as mulheres negras recebendo os piores salários, seguidas pelos homens negros. Ao almejado projeto de nação, Poschen sinaliza que é mister reverter esse quadro.
O diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Clemente Ganz Lúcio, advertiu: “Estamos falando de uma das maiores economias do planeta.” E completou: “Temos as maiores reservas de água potável conhecida no momento e de minério de ferro, o nosso solo é de altíssima qualidade. Deveríamos olhar todo esse patrimônio como ativos estratégicos para o nosso desenvolvimento, com o vetor da sustentabilidade.”
Segundo ele, caminhamos para um empobrecimento contínuo que pode atingir 90% da população. Os desmontes em andamento, argumentou, vêm acompanhados da destruição de instituições públicas indutoras de desenvolvimento, como o BNDES. Ele lamentou ainda o “esquartejamento” da Petrobras. Não bastasse isso, como salientou Ganz Lúcio, com a reforma trabalhista, “o Direito do Trabalho foi reduzido a pó”.
Ele exortou os presentes à 11ª Jornada Brasil Inteligente a terem a perspectiva de um engenheiro, que é ensinado e treinado a enfrentar os piores cenários, “olhar uma adversidade e transformá-la numa possibilidade”. Sob esse enfoque, foi taxativo: a CNTU, ao discutir um projeto de nação, deve levar em conta algumas tarefas, como estabelecer entre o movimento sindical alguns acordos, rumo a forte e absolutamente necessária unidade. E ainda desenvolver capacidade política para construir pontes entre os trabalhadores e o setor produtivo, com o objetivo principal de pensar projetos de ciência e tecnologia para que os produtos nacionais ganhem valor agregado. “Fora desse horizonte não há saída.”
Soraya Misleh. Colaborou Rosângela Ribeiro Gil