Soluções propostas por três grupos de estudantes de Engenharia de Inovação do Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec), que tem o SEESP como entidade mantenedora, renderam-lhes a oportunidade de estar hoje com seus projetos incubados pelo Elab – Experimentos em Transportes, laboratório de inovação da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU). A oportunidade foi premiação da primeira Maratona de Inovação do Isitec, realizada em setembro último.
O programa, que tem seis meses de duração, garante que os alunos tenham como mentores funcionários da companhia ligados aos temas respectivos. “Colocamos também pessoas de tecnologia da informação para lidar com os dados e entender o que os meninos pediriam”, conta a gestora do Núcleo de Parceria + Inovação da EMTU, Renata Veríssimo. Entusiasta do projeto de incubação, ela defende a necessidade de inovação no setor. “E não há maneira melhor de fazê-la senão dentro de casa, trazendo o conceito de processo criativo a nossa realidade”, afirma.
Um dos grupos está desenvolvendo um monitoramento de poluentes através de sensor acoplado no veículo, que percorre o trajeto da linha obtendo dados simultaneamente. “A ideia inicial era usarmos o sensor MQ 135, que já é comercializado e capaz de ler emissões de carbono, entre outros poluentes”, conta André Eiji Arahawa. Contudo, preocupados, de acordo com seu colega de grupo, Giovanni Signorini Bevilacqua, “com a saturação do sensor quanto ao calor e impactos”, resolveram pesquisar um que se mostre adequado à função.
O objetivo do monitoramento dinâmico é promover manutenções preventivas nos ônibus e redução na emissão de poluentes. O consultor na área de transporte sustentável e emissões veiculares Olímpio de Melo Álvares Jr. vislumbra mercado para o projeto, por envolver “tecnologia que está despontando agora”. “Hoje isso é feito com equipamentos caros, em laboratórios altamente qualificados, com indicadores apoiados em normas mundiais. É difícil de fazer, mas possível”, pontua ele, que é engenheiro mecânico e atuou por 26 anos na Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb).
Tarifa e big data
A partir da problemática de tarifa proporcional em linhas seccionadas, outro grupo focou seu projeto no cálculo do valor. A ideia é um subsídio cruzado, para que o usuário não seja prejudicado pagando mais em uma seção menos utilizada ou maior. “Estamos estudando a partir de uma linha da EMTU em teste, em Santos, que utiliza duas catracas para cobrar o valor por seção”, explica o aluno do Isitec Sandor Fleury Pereira.
Com as informações, ele conta que o grupo analisa maneira ideal para fazer a conta. “Estamos de olho também na lei que trata da obrigatoriedade de clareza no cálculo da passagem (nº 12.587/2012), para que o projeto seja viável”, detalha.
Na visão do especialista em tarifas Wagner Palmas, do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo (SP Urbanuss), o princípio que norteia o projeto é relevante, pois aborda a correção de valores pautada na realidade do usuário que, em geral, é de baixa renda. E pontua: “Desde que seja mantida a receita necessária aos prestadores de serviços e não onere os usuários que residam longe dos destinos de suas viagens, a medida é bem-vinda.”
O terceiro grupo explorou no conceito de zona de sombra – local em que o GPS do veículo falha – a importância de se ter dados para um monitoramento efetivo. “Se tivermos a informação, mas ela não for usada, ainda haverá zona de sombra”, explica o estudante Gideão Gomes da Silva. Esse grupo propõe um processo de monitoramento conceituado em big data, cruzando as informações do computador de bordo e do sistema de bilhetagem do ônibus para gerar análises. “Podemos parametrizar a qualidade da viagem através dos dados”, exemplifica Silva.
Gerente de engenharia da Prodata Mobility Brasil, Paulo Zucatto enfatiza: “Em São Paulo, são em torno de 6 milhões de viagens por dia, gerando dados sobre trajetos, horários, pessoas, locais. É muita informação a ser explorada que pode resultar na melhoria de todo o sistema.”
Proposta pedagógica
Além do Elab, os estudantes usam as instalações do Isitec no desenvolvimento dos projetos. “O nosso centro de inovação fica à disposição dos grupos, assim como nossos professores estão abertos a orientá-los”, afirma Rodrigo Franco, professor de Equipes de Inovação e Design e membro do Centro de Inovação. Ele ressalta que os projetos não valem nota, mas possibilitam contato com o mercado de trabalho, além de condizer com a proposta de aprendizagem do instituto. “É como podemos transformar esses engenheiros em pessoas que criem soluções de impacto à sociedade”, atesta.
A coordenadora da Divisão América Latina da Associação Internacional do Transporte Público (UITP), Eleonora Pazos, chama atenção às áreas consideradas nos três projetos, de tecnologia, financiamento e impacto ambiental. “Definitivamente são os temas de maior discussão global, que estão norteando as principais tomadas de decisão no transporte mundial”, afirma. E parabeniza: “Por trás das inovações existem pessoas cuja paixão é melhorar a vida de todos. É verdadeiramente uma jornada humana, e os grupos criadores dos três projetos estão inseridos nesse contexto.”
Por Jéssica Silva