Soraya Misleh
Além de vontade política, formar profissionais com bom conhecimento em hidrologia é fundamental para garantir ações efetivas em caso de chuvas fortes como as que costumam ocorrer em cada início de ano. Foi o que indicou evento que abordou o tema, realizado na sede do SEESP, na Capital paulista, em 14 de dezembro último. Promovida por esse sindicato, com apoio do Isitec (Instituto Superior de Inovação e Tecnologia), a iniciativa integrou os “Encontros de Tecnologia de Educação em Engenharia 2011”.
Teve a moderação de João Sérgio Cordeiro, consultor pedagógico do SEESP, e coordenação de Roberto Leal Lobo, diretor-geral do Isitec. Ainda entre os participantes, Murilo Pinheiro, presidente do sindicato paulista e da FNE (Federação Nacional dos Engenheiros), e Fernando Palmezan, diretor da instituição de ensino.
A questão da formação foi o tema central de Masato Kobiyama, professor-doutor do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). Segundo ele, desastres como inundações e escorregamentos tiveram um incremento após a década de 50, dada a evolução das cidades e da interferência humana. Os principais problemas são de ordem hidrológica. Ainda de acordo com sua informação, muito embora o volume anual de chuvas venha diminuindo, as inundações têm se elevado, o que “parece estar associado ao aumento da área urbanizada”. Também têm crescido os escorregamentos, dada a invasão de encostas. Diante desse quadro, na sua análise, mais importante do que simplesmente culpar as mudanças climáticas é se efetuar o planejamento territorial e o gerenciamento das bacias hidrográficas para se minimizar essas ocorrências. Ao que “faltam especialistas, que necessitam ter ampla experiência em campo”. Geólogos e engenheiros aí se incluem, esses últimos para dar conta de medidas estruturais e não estruturais, afirmou Kobiyama. “Podem construir barragens e diques para conter o fluxo de escombros e prevenir o escorregamento rotacional, mas o mais importante é ter conhecimento sobre o mecanismo do fenômeno. A ciência tem que ser aplicada ao aproveitamento da água da chuva. Além disso, podem atuar na educação ambiental.”
Realizar o levantamento topográfico é igualmente importante. “Tem que ser feito logo após a ocorrência”, explicou. Esse trabalho serviria para conhecer os locais de transporte e deposição dos detritos decorrentes do deslizamento, “onde ocorre a maioria das mortes”. Como deixou claro o professor da UFSC, não basta identificar os pontos suscetíveis de escorregamentos, mas também qual o fluxo dos escombros. Ele citou como exemplo o caso de uma vítima soterrada que não residia em local onde houve a ocorrência, mas bem abaixo. Nesse sentido, considerou como desafio à profissão verificar até onde podem chegar os detritos. Ter entre as disciplinas em sua formação a hidrologia é crucial para a redução desses danos. “É uma das ciências mais importantes, e o engenheiro tem que entender disso e saber aplicá-la.”
A capacitação também esteve presente na fala do especialista Pedro Caballero Campos, coordenador regional adjunto da Defesa Civil em São Paulo. Durante o evento no SEESP, ele exibiu um vídeo sobre um noticiário de 1993 para apontar que o cenário no geral vem se agravando, seja pela omissão ou ação inadequada dos poderes públicos, seja por falta de educação para a prevenção. Na sua concepção, essa precisa ser repensada, para que haja mudanças necessárias a conter desastres ambientais. A boa formação em engenharia – cujo papel é essencial antes, durante e depois das ocorrências – inclui-se nesse contexto. Para comprovar essa afirmação, Caballero citou casos de localidades, como Rio de Janeiro, Pernambuco e Alagoas, em que houve há cerca de um ano inundações e escorregamentos dada a falta de estudos adequados ou projetos. Problemas ainda não sanados tempos depois.
Investimento necessário
Ele também comparou o custo da prevenção das ocorrências com aquele necessário para sanear os problemas gerados por elas. Estimativa da ONU (Organização das Nações Unidas) aponta a relação de
US$ 1 para US$ 3. No entanto, nos Estados Unidos, após a devastação causada pelo furacão Katrina, essa proporção atingiu US$ 1 para US$ 7. No Brasil, ainda mais grave, salta de US$ 1 para até US$ 25. “As perdas anuais no País alcançam US$ 2 bilhões.” Assim, concluiu: “É preciso fazer investimentos. A universidade tem que ajudar a dar respostas, com pesquisa e capacitação.”
Discorrendo sobre o papel da Defesa Civil na gestão de desastres, seu coordenador no Estado de São Paulo e secretário-chefe da Casa Militar desse governo, coronel da Polícia Militar Ademir Gervásio Moreira, salientou que o foco das ações dessa instituição tem sido a prevenção. Para tanto, acredita ele, a educação ambiental e a conscientização são fundamentais.