Às vésperas do Carnaval 2009, os trabalhadores da Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica), em São José dos Campos, receberam um comunicado da companhia cujo teor nada tinha a ver com a alegria do feriado que se seguia. Alegando ter sido atingida pela “crise sem precedentes que afeta a economia global, em particular o setor de transporte aéreo”, anunciou o corte de 20% do seu efetivo de 21.362 funcionários.
Arredondados os números, perderam seus empregos 4.200 trabalhadores, entre eles cerca de 300 engenheiros, embora o anúncio oficial tenha assegurado que “a expressiva mão-de-obra da engenharia mantém-se engajada nos programas de desenvolvimento de novos produtos e tecnologias, que prosseguem inalterados”.
É inegável que a companhia, cuja receita provém em sua maior parte do mercado externo, é mais impactada pela situação econômica que outras indústrias. No entanto, também é fato que, até pela sua importância, não é aceitável que a Embraer simplesmente ponha na rua milhares de trabalhadores de uma hora para outra. É necessário que a companhia reflita sobre seu compromisso com a sociedade brasileira, que, inclusive, muito se orgulha de ter uma empresa nacional reconhecida pela excelência num setor de ponta da indústria mundial, que é o aeroespacial. Em seus quadros, calculam--se 8 mil profissionais do setor tecnológico, sendo 5 mil engenheiros de alta qualificação, inclusive devido ao elogiado programa de formação próprio dessa mão-de-obra que a indústria mantém.
Assim, embora já tenham sido anunciadas, é preciso ainda discutir tais demissões e buscar formas de reverter o quadro que se configura desastroso. Em todo o Brasil, a maturidade do movimento sindical e a postura correta das empresas têm permitido acordos que mantenham os empregos, numa aposta realista na superação da crise.
Essas medidas são essenciais, não só para evitar que milhares mantenham seus postos e possam garantir seu sustento e o de suas famílias, mas também à proteção da economia como um todo, já que, obviamente, sem salário não é possível consumir. Claro está que o impacto da decisão da Embraer não atingirá apenas os que foram dispensados, mas provavelmente o comércio e serviços locais, considerando que 4.200 engenheiros, técnicos e operários de alto padrão ficaram sem renda.
Nessa empreitada, há tarefa para todas as instâncias de Governo – federal, estadual e local. E, sobretudo, será fundamental a unidade de ação do movimento sindical e sabedoria para agir em defesa dos trabalhadores.